Baías conservadas atraem investimentos

Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute

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Publicado em 8 de novembro de 2017 às 01:26

- Atualizado há um ano

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Em março deste ano, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, anunciou o desenvolvimento de um megacomplexo urbano na área da Baía Grande de Guangdong-Hong Kong-Macau, que faz parte da estratégia de urbanização da China. A chamada Great Bay Area (GBA) da China, de 56.500 km², inclui Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong.

Nas últimas décadas, a Great Bay Area, densamente populosa, com mais de 66 milhões de habitantes, quarta maior área de baía do mundo, entrou na vanguarda da política de abertura como motor importante para o desenvolvimento econômico da China. No segundo semestre de 2017, a proposta tomou impulsos após o governo chinês declarar que “onde tem baías, tem negócios”, e que elaborará um ambicioso plano para a área.

“Se as cidades da região puderem aproveitar seus pontos fortes, acelerando a integração econômica e agilizando seus mecanismos de coordenação, a GBA deverá superar as áreas da Baía de Tóquio e da Baía de São Francisco, em poucos anos”, afirmou Tse Kwok-leung, economista chefe do Banco da China, durante o evento Como Desenvolver Baías de Classe Mundial, organizado pela Hong Kong Chamber of Commerce, que vem trocando informações com a Associação Comercial da Bahia (ACB), dentro do projeto de articulação internacional para inovação de governanças de baías.

Envolvido com um PIB de US$ 12 trilhões, que cresce a 6,5% ao ano, o economista Kwok-leung, que analisa e acompanha os vultuosos investimentos da China no Brasil, já incluiu a Baía de Todos os Santos (BTS) - Sede da Amazônia Azul - no seu radar. Os grupos chineses que visitam a Bahia, avaliando investimentos, têm o respaldo técnico e a orientação estratégica do Banco da China.

Na próxima semana, dia 13/11, o III Fórum Internacional sobre Gestão de Baías, reunirá em Salvador, gestores de baias europeias, americanas, a Marinha, Embratur, investidores e autoridades ligados à industria do turismo. Atendendo à Organização Mundial de Turismo (OMT/ONU) que pede a destinos para inovarem na suas imagens e nos seus apelos, a BTS e Salvador, berços da civilização brasileira, organizam-se para serem mostradas ao mundo com o status diferenciado.

A mesma inteligência transversal aplicada pelo Banco da China para fazer com que as economias municipais e regionais chinesas ativem os seus pontos fortes, visando o desenvolvimento integrado, pode ser aplicada em qualquer local, inclusive na área de influência econômica da BTS que está abrindo editais para construção da ponte Salvador-Itaparica, como parte do chamado Sistema Viário do Oeste (SVO) e, nos estudos, já consumiu recursos da ordem de cem milhões de reais, segundo informações da Secretaria de Planejamento do Estado.

“A área da baía tem seus próprios problemas, como a falta de coordenação eficiente e uma divisão industrial efetiva. A região precisa apresentar novas soluções para a divisão regional da indústria, de modo a construir uma economia integrada sustentável”, afirmou Dr. Tse, sugerindo que precisam trabalhar em estreita colaboração com a iniciativa privada e lançar uma plataforma de coordenação, investindo e cultivando indústrias de inovação e tecnologia.

As “Coisas da China” agora estão chegando ao Brasil com peso, visão, velocidade, valores e inteligência novos. Entre 2003 e 2017, a China atingiu US$ 49,3 bilhões em investimento direto no Brasil e a previsão é de injeção de mais US$ 20 bilhões nos próximos 12 meses, conforme o Banco da China.  Aproximando-se da Capital da Amazônia Azul, a China  exercerá influências na área portuária, logística e conservação, precipitando o reordenamento local e a criação da esperada Agência de Gestão da Baía de Todos os Santos - AGBTS.

O recente memorando de entendimentos assinado pela China Railway Group Limited (CREC) com o governo da Bahia [goo.gl/af3LNE], manifestando interesse na construção da ponte Salvador-Itaparica, sinaliza novos tempos. Se a ponte será realmente construída ainda não sabemos, mas os circuitos estão se fechando, especialmente porque a antes longínqua China (do mandarim, centro  do mundo) está literalmente ao alcance das mãos, no dia a dia - iphones são made in China. O que vem depois já dá para perceber.