Bailarinos transformam o Pelourinho em antigas boates para homenagear dança de salão

Homens gays com experiências em danças de salão que se uniram para compartilharem histórias vividas nestes ambientes e montar um espetáculo

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  • Da Redação

Publicado em 15 de julho de 2022 às 16:00

. Crédito: Foto: Caio Lírio

Homens gays com experiências em danças de salão que se uniram para compartilharem histórias vividas nestes ambientes e montar um espetáculo. Disso, surgiu, há cinco anos, o grupo Casa 4, formado - à época - por quatro dançarinos homens cis gays. 

A celebração de meia década será nos dias 15 e 16 de julho, no Teatro SESC do Pelourinho, a partir das 19h. Na ocasião, serão apresentados ao público dois espetáculos por dia: Salão, de 2017, e Me Brega, Baile!, montado pela primeira vez em 2019, ambos dirigidos pelo dançarino e coreógrafo Leandro de Oliveira, que compõe o coletivo junto com outros quatro dançarinos: Marcelo Galvão, fundador, Alisson George, co-fundador, Matheus Assis e Carlos Henrique Araújo. 

Os ingressos custam R$40 (inteira) e dão acesso aos dois projetos.

Salão é um espetáculo que traz relatos de violências vividas por cada um de seus integrantes em ambientes de danças de salão. Me Brega, Baile! surge a partir de desejos do dançar a dois e questionamentos da restrição de exibição de afeto entre dois homens. 

“Já ouvimos que Salão é um ‘espetáculo rapadura’: traz uma dura realidade, mas de uma maneira amável. É um espetáculo de fácil leitura do seu contexto”, conta o fundador do grupo, Marcelo Galvão, que também é dançarino. Sobre Me brega, Baile!.

Co-fundador, Alisson George conta que há a interação com o público, convidado a dançar junto: “O espetáculo se constituiu como um ambiente brega e cheio de amor para todas as pessoas que quiserem participar e dançar conosco”.

O Casa 4 vem despontando no cenário nacional por seu caráter pioneiro e inovador de promover dança de salão para o público LGBTQIA+, criando uma grande rede profissional e de afetos durante sua trajetória. 

Já participou do Festival Mova-se (AM), Festival Internacional de Dança do Recife (PE), Encontro Contemporâneo de Dança de Salão (SP), Congresso Contemporâneo de Dança de Salão (BH) e o Palco Giratório, que promoveu o espetáculo e outras ações, como oficinas, em vários estados brasileiros. 

“Somos o primeiro coletivo a pensar a dança de salão de maneira contemporânea e questionando questões de misoginia, machismo, homofobia, entre outras frequentemente vistas nestes ambientes de danças em pares. 

Estreamos com um espetáculo onde o tema central são as violências vividas por cada um de seus integrantes e estes relatos se tornam cênicos, convidando, didaticamente, o público a estar cada vez mais ao nosso lado, compartilhando dores que silenciamos no nosso dia a dia”, defende Marcelo.

O coletivo já recebeu também convites para observações e como objeto de pesquisas acadêmicas de graduação, especialização, mestrado e doutorado em universidades de várias regiões do Brasil. 

“Acreditamos que este é um grande ponto forte nosso enquanto coletivo independente: permanecer vivos, em atividade mesmo sem ter patrocínios ou qualquer tipo de verba que sustente ensaios, deslocamentos, alimentação e outras necessidades básicas para o trabalho funcionar da melhor maneira”, conta Alisson.

“Muitas pessoas LGBTQIA+ que vão assistir os nossos espetáculos nos retornam sobre as identificações e representatividades de como os relatos de dores também se tornam um grito de ‘estamos aqui!’, uma maneira de dizer o que queremos, o que buscamos. Acredito que a identificação do público é um dos fatores que mais fortalece o Coletivo. É falar sobre o que vivemos no dia a dia, é nossa realidade nos bailes e nas ruas”, complementa.

Hoje, com nova formação, o coletivo tem quatro integrantes que são homens cis e gays, e uma pessoa não binária. Desde a primeira formação, o Casa 4 fez ações voltadas para o público LGBTQIA+, a exemplo da primeira oficina de Dança de Salão Queer, realizada antes da estreia do primeiro espetáculo, e pensada para pessoas que quisessem se sentir à vontade para dançar com seus namorados e namoradas ou com quem quisesse, independente de sexualidades, de identidades ou performances de gênero. 

Além da apresentação de Salão e 'Me Brega, Baile!', neste mês o grupo está criando outras estratégias de comemoração dos cinco anos, com outras apresentações ainda em 2022.