'Baile de Favela': conheça a história do funk de MC João em cinco pontos

Música, que foi misturada ao clássico do mestre barroco Sebastian Bach, embalou a prata de Rebeca Andrade

Publicado em 29 de julho de 2021 às 14:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

O Brasil inteiro amanheceu nesta quinta (29) cantando o funk Baile de Favela, um dos maiores sucessos do país, que embalou a apresentação da atleta Rebeca Andrade, medalha de prata em Toquio.

Por isso, vale resgatar a história do funk de MC João em cinco pontos-chave: ele exalta os principais bailes de rua de SP, marcou virada no estilo; foi hit do Réveillon de 2016; mudou vida do MC João e tem letra controversa, embora o autor negue apologia à violência.

A música composta por MC João em 2015 lista e exalta os principais bailes de rua da periferia de São Paulo na época: Helipa, Marconi, Eliza Maria, Rua Sete e São Rafael são todos nomes de fluxos de "quebrada" famosos. A música foi o grande hit do réveillon no Brasil de 2015 para 2016. Era uma época em que o funk se expandia e ganhava cada vez mais público. O sucesso mudou a vida de MC João. Ele cresceu na periferia da Zona Norte de SP, na Jova Rural, comunidade próxima à de Rebeca Andrade, Vila Fátima, em Guarulhos. João perdeu o pai e sustentava a família desde os 17 anos. O clipe, gravado em um baile na Rua Sete, na porta da casa onde ele cresceu, foi um marco no estilo. 'Na época a gente pensava: será que alguma música algum dia vai superar “Baile de Favela”? Tinha sido a primeira a dar 100 milhões de views', diz o produtor Kondzilla, diretor do clipe. Hoje ela tem mais de 230 milhões de views. Por outro lado, muita gente ouviu na letra um incentivo à violência contra a mulher, no verso “vai voltar com a x... ardendo”. O MC negava com veemência. “No funk digo que ‘ela veio quente’. A gente está no clima, ela quer”, disse, defendendo o consentimento da personagem da letra.

Ao falar do sucesso, João cita a morte do pai quando ele tinha 17 anos. Ele era pedreiro e sustentava a família. O jovem ficou sozinho para cuidar da mãe, com problemas de saúde, e duas irmãs. O funk era “válvula de escape” da rotina difícil:“Comecei a sustentar a minha família com R$ 620 por mês. Imagina o que você faz com esse dinheiro...” Da Jova Rural, ele saia todo dia para trabalhar de office boy. Passou pela Ericsson e foi ajudante no escritório de advocacia Pinheiro e Associados, na avenida Paulista.Perceber o jeito para o funk evitou que João Israel fosse para outro trabalho paralelo na comunidade. “Com a perspectiva que ele tinha, ou ele trabalhava ou ele ia roubar”, disse Juninho Love, o produtor artístico da produtora GR6. “Você ganha um salário mínimo, e aí chegam do seu lado pessoas que ganham mais e têm uma saída para você, que está numa bola de neve.""Eu tinha perdido o meu pai, a única fonte de renda da família, meu porto seguro veio abaixo. O que você vai fazer? Nessa hora vêm vários pontos de interrogação na cabeça. A geladeira estava vazia. E nesse momento chegou o funk, e você não vai pelo outro caminho”, conta João.Quando foi lançado, Baile de Favela representou uma virada no mercado do funk, tanto pelo patamar de sucesso quanto pela parte sexual da letra. Quem explica este impacto é o diretor Kondzilla, dono do canal de funk que é um dos maiores do mundo no YouTube:"'Baile de favela' tinha um palavrão no refrão. O MC João foi na Fátima Bernardes e ela falou: 'Nossa, parabéns, incrível. Mas se você não falasse aquela palavrinha, sua música ia mais longe.' Na época a gente pensava: será que alguma música algum dia vai superar Baile de Favela? Tinha sido a primeira a dar 100 milhões de views. Quando ouvi a Fátima, pensei: “Faz sentido”. Em setembro de 2016, a gente tinha 6 milhões de inscritos no canal. Eu achava que tinha esse teto para a audiência do funk, pois no Facebook os maiores MCs tinham 6 milhões de likes. Mas pensava: “Como a gente faz para romper essa bolha e alcançar um território maior? Depois que tomamos a decisão, a gente passou de 6 milhões em 2016 para 22 milhões de inscritos em 2017. Hoje deve ter mais de 40 vídeos com mais de 100 milhões"Desde então, Kondzilla criou um "filtro de palavrão" que bane versos mais pesados do seu canal. Isso expandiu muito seu público, sua potencial receita publicitária e, por consequência, a audiência do funk no Brasil.