Balé, judô e muito mais! Crianças se exercitam online durante a pandemia

As adaptações de professores e alunos para se manterem ativos mesmo em isolamento social

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  • Daniela Leone

Publicado em 28 de junho de 2020 às 13:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo pessoal

Matemática, ciências, português e sim, atividade física. Não apenas o conteúdo convencional é lecionado à distância, mas o extra curricular também. As plataformas digitais estão sendo usadas por escolas e academias para que crianças pratiquem esportes durante o isolamento social exigido pela pandemia de coronavírus.

Henrique luta judô há pouco mais de um ano e segue com aulas adaptadas duas vezes por semana, quando o piso da sala se transforma em tatame. Vassoura e travesseiro ajudam a simular adversários. “Estou gostando. Fico até cansado. Depois da aula vou para a televisão e fico lá o resto do dia para descansar um pouquinho”, conta o estudante de sete anos.  

Rejane Ventura nota respostas positivas no filho ao longo dos dois meses de aulas virtuais. “Desde o início Henrique se mostrou muito empolgado e acaba a aula todo suado, como se estivesse na própria academia. Achei a iniciativa excelente, pois de uma certa forma as aulas mantêm ele conectado com o professor e os colegas. Não é uma luta propriamente dita, ainda que o professor reproduza os golpes com a vassoura, mas há o treinamento, a lembrança dos golpes, nomes, contagens”, pontua a advogada, 45 anos, que acompanha à distância.

“Henrique já mexia no computador e durante esse período de pandemia se desenvolveu ainda mais em relação a isso.Participa das aulas sozinho. Apenas deixo que o volume não fique sendo por fone, para que eu acompanhe de longe o que está sendo passado”. O judoca Henrique, sete anos, treina golpes com a vassoura (Foto: Acervo pessoal) Além de Henrique, o professor de judô Bruno Maia, 45 anos, dá aulas online atualmente para outras oito crianças, com idades entre 4 e 9 anos. A atividade acontece com todos uniformizados de quimono, duas vezes na semana, com duração de 30 minutos. O tempo pode parecer curto, mas ele garante que o desafio é enorme. “Isso é algo que não tinha sido feito antes, então estamos buscando reconhecer quais estratégias podem ser eficientes. É tentativa e erro constante. A gente não tem referência anterior de aulas de esportes ofertadas online, então a gente tenta pegar carona com recursos úteis”, afirma.  

“O judô precisa de interação e a gente lança mão de artifícios. Uso um cabo de vassoura para simular o oponente e eles fazem a repetição da técnica, também um travesseiro vestido de quimono. Temos que usar a criatividade para conseguir simular situações da modalidade. Trabalhamos o conteúdo da aula e no final lançamos um desafio através de games”, destaca o sensei, que montou um estúdio em casa com computador, três monitores, microfone e iluminação de apoio para melhorar a transmissão das aulas.  Progessor de judô, Bruno Maia investiu em tecnologia para dar aulas online (Foto: Acervo pessoal) Bruno também é diretor da Sport for Kids, especializada na gestão de programas de atividade física e entretenimento para crianças e adolescentes. Antes da pandemia, a empresa ofertava nove modalidades esportivas e tinha 280 crianças matriculadas em 12 instituições, entre escolas, academias e condomínios. Atualmente, 26 alunos fazem aulas de três modalidades - judô, ginástica rítmica e capoeira - através de videoconferência. Houve uma redução de 40% a 50% no valor da mensalidade.

Apesar dos números serem bem menos expressivos do que os presenciais, Bruno projeta que as aulas online não serão extintas após a pandemia de covid-19. “A gente não teve desistências de alunos e famílias que se oportunizaram a experimentar esse meio, então isso mostra que o método é valido. Avalio que pós-pandemia será uma alternativa para complementar as aulas presenciais. É uma tendência que não tem retorno. Esse formato foi impulsionado pelo momento, mas acredito que será um ambiente que continuará a ser utilizado em paralelo aos encontros presenciais”.

Nova realidade Diretora do Grupo Ebateca, Karyne Lacerda, 55 anos, tem a mesma opinião. “A gente acredita que quando voltarem as atividades presenciais, seja mantido um volume de trabalho online. O trabalho tem sido de uma riqueza enorme. Difícil, mas com muita história para contar. Tínhamos uma estrutura de Ebateca online prevista para ser montada em janeiro de 2021 e estamos desenvolvendo. É preciso seguir dançando, não importa como”.

Em fevereiro, a escola de balé tinha aproximadamente 1.200 alunos matriculados na Bahia. O quadro de ativos foi reduzido em 50%. A mensalidade teve abatimento de 20% a 30%. 

“É muito divertido”, resume a tímida bailarina Emanuelle, 7 anos. Com um sorriso estampado no rosto, ela faz questão de colocar collant e sapatilhas para se posicionar diante do notebook do pai na varanda do apartamento onde moram, em Pituaçu. 

“Ajuda muito na questão da disciplina, de ter uma rotina para ter gasto de energia. Não pode brincar no playground, mas dá para fazer algo dentro de casa. As crianças são muito ativas e isso é importante. A gente tem sempre que ter um olhar positivo para as coisas e acho que, apesar do problema, foi uma oportunidade de desenvolver outras habilidades nela, como resiliência”, pontua o pai, o engenheiro Emanuel Barbosa, 39 anos, que costuma ganhar de presente alguns espetáculos particulares.