Baleia morta encalha na praia do Jardim de Alah: 'Uma tristeza ver isso acontecer', diz morador

Esse é o segundo animal que encalha em Salvador desde sexta

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  • Fernanda Santana

Publicado em 24 de junho de 2018 às 14:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Fernanda Lima/CORREIO
. por Maurício Anunciação lamentou a situação do animal Foto: Fernanda Lima/CORREIO

Os banhistas se afastaram o máximo possível. Muitos foram embora. Não aguentaram o cheiro exalado do mar. Na beira da água da Praia do Jardim de Alah, uma baleia encalhada, já morta, era jogada de um lado para outro. Conforme as ondas batiam, o cheiro ficava mais forte. E os curiosos começavam a se aproximar, desde as 8h deste domingo  (24).

Um deles, Manuel Filho olhava a baleia morta com atenção. Foi à Praia, neste domingo, justamente ao saber do caso. Morador da Boca do Rio, comentou: "é triste ver elas assim. É a segunda vez que vejo baleia morta por aqui".

Triste também foi para o comerciante José Eduardo, 38. O mau cheiro que espantou os clientes também soprou para longe as expectativas de lucro. Seria algo próximo dos R$ 600. Agora, refaz os calculos. "Começou esse fedor foi todo mundo embora. Rapaz ninguém quer ficar aqui não".

Numa das poucas mesas ocupadas, já distante da água, estava a família Lucas. Ao ouvir os comentários dos lucros prejudicados, Ferdinando Lucas, 36, falou: "A morte faz parte da natureza. É isso mesmo. Triste, mas é isso mesmo, não vamos embora por causa disso".

Mais próxima da água, a estudante Raquel Gomes tentou ligar para os órgãos de proteção ambiental, mas sem sucesso.  Ninguém atende. "É uma vergonha isso aqui". Um banhista, então, decide se aproximar. É Maurício Anunciação, segurança de 52 anos. Ele ironiza: "Esse é o Brasil que eu quero". E a baleia ali, expulsa do seu próprio lar.

O CORREIO tentou contato com os órgãos ambientais e de limpeza pública, mas não obteve retorno até o momento. 

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Essa é a segunda baleia que encalha na área de Salvador desde a última sexta-feira (22). Na manhã de sexta uma baleia jubarte, ainda viva, encalhou terminal do ferry-boat  de São Joaquim. A baleia ficou em local que não fazia contato com as embarcações em trânsito. Cerca de duas horas depois do encalhe ela conseguiu sair do ferry.

A bióloga marinha Luciana Leite afirma que com o aumento da população de baleias, eventos de encalhe serão cada vez mais comuns e que é pequena a possibilidade de sobrevivência.

"O resgate é muito difícil porque são toneladas que precisam ser deslocadas e não temos material necessário para auxiliar. Muitas vezes dependemos de barcos de pescadores que voluntariamente ajudam no resgate, rebocando o animal. Mesmo nos casos em que o resgate é impossível, há uma preocupação em manter o bem estar animal e diminuir o nível de estresse até que o ele venha a óbito naturalmente", explica.

As jubartes permanecem nas águas do hemisfério sul de junho/julho até novembro/dezembro, quando retornam para o hemisfério norte. Em 2018, noveencalhes já foram registrados no Brasil, segundo o Instituto Baleia Jubarte - em 2017 foram registrados 128. “São muitas as variáveis envolvidas no encalhe de mamíferos marinhos. A espécie, o local e o tipo de encalhe determinam quais medidas podem ser tomadas. Alguns protocolos são necessários para garantir o bem-estar animal e a segurança da população, que tende a se aglomerar curiosa, ao redor dos animais”, afirma Luciana Leite. 

De acordo com a pesquisadora, pequenos cetáceos, como golfinhos e baleias dentadas, são mais facilmente resgatados e podem ser retornados ao mar com o auxílio de flutuadores. Para o resgate de grandes cetáceos, como as baleias jubarte, as opções são limitadas.  “A taxa de sucesso no resgate de grandes cetáceos é pequena, mas em alguns casos as jubartes podem ser rebocadas e retornadas ao mar com auxílios de embarcações. O ideal seria o treinamento de voluntários que pudessem responder a encalhes em diferentes pontos da costa, como é feito nos Estados Unidos, na Irlanda, e em outros países ao redor do mundo”. 

Migração A temporada de migração das jubartes ao litoral brasileiro começou. Elas viajam até 8.000 quilômetros para o hemisfério sul a fim de se reproduzir. O período gestacional é de 11 a 12 meses. Os animais retornam após este período para ter os filhotes e amamentar.  “A princípio as baleias não se alimentam na área de reprodução, que é a nossa região. Elas se alimentam na Antártica (pólo sul), que é a área de alimentação delas, e quando vêm passam de 4 a 6 meses sem se alimentar”, explica Enrico Marcovaldi, do Instituto Jubarte.  Fêmeas com filhotes são os últimos a migrar para áreas de alimentação, porque os filhotes precisam aumentar sua camada de gordura, alimentando-se do leite que contém cerca de 40% de gordura, e desenvolver sua musculatura para a extensa migração. Mais de 14 mil baleias jubarte são esperadas no litoral brasileiro.

Meio ambiente De acordo com Faith Wilson, pesquisadora do Irish Whale and Dolphin Group (Grupo irlandês de Baleias e Golfinhos), tão importante quanto o socorro aos animais que estão exauridos na praia, é a investigação das potenciais causas destes encalhes.  “Encalhes oferecem uma oportunidade de explorarmos questões mais profundas sobre a situação da saúde dos nossos oceanos. A coleta de pele e gordura para quantificação de metais pesados e contaminantes orgânicos persistentes (como PCB), análise de conteúdo estomacal para verificar ingestão de plástico, e a avaliação de ossatura para descobrir eventuais traumas por colisão com embarcações, podem oferecer diretrizes claras para preservação da espécie e para que possamos evitar futuros incidentes”.

Também nessa sexta-feira (22), um tubarão-martelo foi morto na praia de Armação. Pescadores se assustaram

Veja o que fazer se encontrar uma baleia encalhada:Isole a área e entre em contato com o Programa de Resgate do Projeto Baleia Jubarte - outras espécies de baleias, lobos marinhos botos e golfinhos também são atendidos. Sede da Praia do Forte:  (71) 3676-1463 ou 8154-2131 Sede de Caravelas (sul do estado): (73) 3297-1340 ou 98802-1874 (ligações a cobrar são aceitas);   Não toque e nem se aproxime, além do tamanho e do peso que podem oferecer riscos, animais encalhados, vivos ou mortos, também podem transmitir doenças aos seres humanos;   Animais domésticos, como cães e gatos, também precisam ficar longe do local, pelos mesmos motivos;   Não se aproxime da cauda - são animais grandes em situação de debilidade física, que podem se tornar ariscos com a aproximação de outros indivíduos e causar ferimentos;   Não tente salvar o animal ou devolvê-lo ao mar se ele estiver com vida - o trabalho deve ser feito por especialistas;   Evite respirar o ar expirado pelos animais;   Tire fotografias do animal, para possibilitar a identificação da espécie e documentação do caso