Barra 69: Baby entrou de penetra, se 'fretou' com Pepeu e o Novos Baianos nasceu

Então com 17 anos, cantora fugiu de casa, no Rio, e chegou à Bahia no dia do show

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  • Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2019 às 06:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ceci Alves/Reprodução

Baby do Brasil durante entrevista para documentário sobre o Barra 69 (Foto: Reprodução)  Se os hippies de Arembepe, nem de galera, viram Caetano Veloso e Gilberto Gil de graça no Teatro Castro Alves, nos shows de despedida a caminho do exílio, uma garota sozinha, vinda de muito mais longe, entrou sem pagar e ainda bagunçou um tantinho.

Bernadete Dinorah, que hoje atende por Baby do Brasil, tinha apenas 17 anos (recém-completados) quando desceu na rodoviária de Salvador, quase sem um puto no bolso, fugindo de casa, no Rio. Ela acompanhava uma amiga que fizera pouquíssimos dias antes, numa estranha situação.

“Eu fui socorrer uma pessoa na rua, e levei em casa, ajudei a pessoa três dias, no terceiro dia essa pessoa disse 'olha, eu tenho que ir embora. Minha mãe mandou eu ir embora'. Era um problema de violência dentro da casa dela. E ela disse: 'minha mãe me mandou umas passagens, e me mandou uma a mais. Você quer ir?' E me estendeu as passagens”, comenta Baby, numa entrevista para a cineasta baiana Ceci Alves, que prepara um documentário sobre o Barra 69.

Sem saber nada do que se passava com Caetano e Gil, de quem a nova amiga também era parceira, Baby baixou no Campo Grande. “Mas quando eu cheguei na porta do TCA, essa minha amiga tinha grana, todo mundo tinha, mas eu não tinha”, recorda a pendenga de quem não podia avisar em casa que tava na Bahia. 

Com pouca grana e juízo, mas muita fé em Jesus Cristo, ela se encaminhou até a entrada do teatro.“A verdade é que eu olhei de fora pro seu Karam, que era o cara que ficava na porta do TCA por anos. Ele ficava com a porta de vidro meio aberta, pegando os ingressos. E eu orei, falei 'Deus, eu preciso ficar invisível, e andar e passar e esse homem não pode me parar'. E eu acabei de orar, eu passei direto e ele não viu”, entrou.Passou pela cortina e, lá dentro, ainda buscou um lugar privilegiado: acabou sentando bem atrás de Gal Costa. “E foi lindo. Ela recebeu uma homenagem”, recorda. No embalo, quis homenagear Gil. “Ele revolucionou o nosso país, e eu joguei o relógio pra ele de presente, como uma fã”, conta Baby.

Não demorou muito tempo pra ela perceber, logo atrás de Gil, o virtuoso guitarrista da banda Leif's, que acompanhava as estrelas do espetáculo. Foto: Reprodução Era Pepeu Gomes. “Ele tava muito bonitinho, de boina, e eu achei uma graça”. Achou tanto que encontrou o sósia de Mick Jagger depois do show, na casa de Gil e Caetano, na Pituba, e ficou de ‘frete’. Baby, Pepeu e Jorginho, nos primórdios dos Novos Baianos (Foto: Reprodução) “Quando ele (Pepeu) saiu eu tava em cima do muro, que era baixo. Aí eu olhei e falei: 'vem cá um minutinho'. (...) E tititi, tatatá, perepepê, papapá, e dali, no outro dia, ela (amiga) me levou no Brasas, que era o point da galera”, conta, citando um bar copo-sujo entre a Carlos Gomes e o Campo Grande.

E aí ninguém mais marcou touca: depois de Pepeu, e Jorginho, do grupo Leif’s, lá ela conheceu Moraes Moreira, Luiz Galvão e Paulinho Boca, e naquele abraço dos ‘velhos baianos’ (embora novinhos) a caminho do exílio, nasceu também a alegria, alegria dos Novos Baianos. Foto: Divulgação