Bases que abrigam tropas americanas são atacadas no Iraque

Rede iraniana diz que ataque é vingança pela morte de general do Irã

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  • Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2020 às 20:44

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arif Ali/AFP

Duas bases aéreas instaladas no Iraque e que abrigam forças conjuntas norte-americanas e iraquianas foram atingidas por mais de uma dúzia de mísseis nesta terça-feira (7), confirmou o Pentágono. 

A base aérea de Ain Al-Asad, no oeste do país, e a base de Erbil, na região curda do Iraque, foram as duas instalações atacadas. A Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (Quds, na tradução da língua persa), assumiu a responsabilidade pelos ataques. Até o fechamento desta edição, não havia ainda confirmação de vítimas. A rede de TV norte-americana CNN informou não haver  relato inicial de feridos ou mortos.

A base de Ain Al-Asad foi visitada pelo presidente Donald Trump, em 2018. Na ocasião, Trump disse que os contribuintes norte-americanos haviam contribuído com milhões de dólares para a construção da base.

Os ataques ocorreram no mesmo dia do funeral do ex-chefe supremo da Quds, o general Qassim Soleimani, morto em Bagdá, no último dia 3, em uma operação americana que utilizou drones. Desde então, o governo do  Irã tem ameaçado dar uma resposta à morte do militar.

O cortejo fúnebre de Soleimani, que aconteceu nesta terça, 07, na cidade iraniana de Kerman, teve tumulto, com dezenas de mortos e feridos. A confusão começou  após um ataque de pânico iniciado  na multidão e que ainda não teve causas definidas pelas autoridades. Iranianos colocaram flores em homenagem ao general Soleimani na embaixada do Irã em Jacarta, na Indonésia (Foto: Bay Ismoyo/AFP) Atentado no Iraque  A rede estatal de TV iraniana informou que dezenas de mísseis foram lançados contra Al-Asad. Já a rede de televisão árabe Al Mayadeen, citada pela agência de notícias Reuters, divulgou que um "alerta total" foi ativado após os ataques. Ainda segundo a Reuters, a TV iraniana informou ainda que o ataque é parte da "operação de vingança de Teerã chamada de Mártir Soleimani"."Estamos alertando todos os aliados dos americanos, que deram suas bases ao seu exército terrorista, de que qualquer território que seja ponto de partida de atos agressivos contra o Irã será alvo", declarou a Quds por meio da Irna, a agência de notícias oficial iraniana. A guarda também ameaçou Israel.O presidente Donald Trump, segundo a agênciade notícias  AP, foi informado dos ataques às duas bases no Iraque. Em comunicado oficial, a Casa Branca afirmou que: "O presidente foi informado e está monitorando a situação de perto e consultando sua equipe de segurança nacional para as providências".

Um porta-voz das forças armadas da Noruega disse também à AP que cerca de 70 soldados noruegueses estavam em Al-Asad na hora do ataque, mas não confirmou se houve feridos.

Enterro tumultuado Ao menos 56 pessoas morreram e 213 ficaram feridas durante um tumulto no funeral do general iraniano Qassim Soleimani, em Kerman, sua cidade natal. O enterro do general ocorreu após quatro dias de homenagens ao ex-líder da Guarda Revolucionária, que tiveram início em Bagdá e se estenderam por outras cidades iranianas.

A confirmação das mortes foi dada por Pirhossein Koulivand, chefe da equipe médica de emergência do Irã, em depoimento à TV estatal. O tumulto ocorreu enquanto a procissão estava em andamento. O funeral do militar foi adiado e o enterro atrasou algumas horas.

Na segunda-feira, dia 6, uma multidão se reuniu na Universidade de Teerã, onde o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, dedicou orações ao militar considerado herói iraniano. Paquistaneses protestaram contra a morte do general iraniano, em Lahore (Foto: Arif Ali/AFP) Morte aos inimigos  De acordo com a TV estatal do país, a multidão que seguiu o cortejo foi formada por milhões de iranianos, que se alternavam entre explosões de tristeza e de fúria, com gritos de "Morte à América!" e "Morte a Israel!". Na multidão também estava o chefe do movimento palestino Hamas, Ismail Haniyeh.

Ao longo da caminhada, foram queimadas bandeiras dos EUA e de Israel, enquanto homens e mulheres pediam vingança pela morte do general Soleimani.

O líder da Guarda Revolucionária do Irã, Hossein Salami, ameaçou incendiar lugares em países aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio. Hossein Salami elogiou os feitos do general Soleimani e disse que, como mártir, ele representa uma ameaça ainda maior aos inimigos do Irã. “Vamos nos vingar. Vamos incendiar os locais que os Estados Unidos apreciam”, afirmou o líder militar. A Quds, no entanto, passou a ser comandada pelo vice de Soleimani, o general Esmail Qaani, amigo pessoal do general morto (veja perfil abaixo).

Alvos escolhidos  Antes do ataque às bases, a agência de notícias iraniana Tasnim havia informado que as forças militares do Irã estavam preparadas para usar mísseis de médio e longo alcances para atacar bases dos EUA no Oriente Médio. O governo em Teerã teria "13 alvos" possíveis para responder à morte de Soleimani. Do outro lado, Trump disse ter "52 alvos iranianos na mira".

Segundo Ali Shamkhani, secretário do Conselho de Segurança Nacional do Irã, mesmo as opções "mais limitadas" seriam um "pesadelo histórico" para os EUA, informou a agência.  As bases dos EUA no Kuwait, Iraque, Jordânia e Arábia Saudita já estão em vigilância máxima após os mísseis disparados contra as instalações iraquianas.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamed Javad Zarif, afirmou que a resposta iraniana aos EUA seria "proporcional" ao ataque sofrido pelo país. Iranianos feridos em tumultos no funeral de Soleimani receberam atendimento no hospital de Kerman (Foto: Atta Kenare/AFP Alemanha retira tropas Em meio aos tumultos no funeral de Soleimani e aos ataques às bases americanas, as forças armadas alemãs anunciaram a retirada de parte dos seus soldados, atualmente baseados no Iraque. Eles deverão ser transferidos para a Jordânia e para o Kweit, devido às tensões entre EUA e Irã.

De acordo com o Ministério da Defesa alemão, o contingente  em Bagdá e em Taji, ao norte da capital iraquiana, com cerca de 30 pessoas, vai ser apenas “provisoriamente reduzido” e a realocação “começará em breve”.

Além dos militares baseados na capital do Iraque e proximidades, a Alemanha conta com tropas no Curdistão iraquiano, também em missões de treino das forças de segurança locais. No total, Berlim possui atualmente cerca de 120 militares no Iraque, no âmbito da coligação internacional contra o autoproclamado Estado Islâmico.

 Unesco adverte EUA sobre patrimônio persa

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reagiu, nesta terça-feira, 07, às ameaças de ataques aos tesouros culturais do Irã (antigo Império Persa), feitas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, via Twitter.

No sábado (4), Trump disse no Twitter que os EUA fizeram uma lista de 52 locais que poderão ser alvo, caso o Irã tente retaliar o assassinato do general Soleimani. Ele acrescentou que alguns desses alvos são de "muito alto nível e importantes para o Irã e a cultura iraniana".

Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, encontrou-se ontem com o embaixador do Irã e observou que tanto os EUA quanto o Irã já ratificaram duas convenções, uma sobre proteção de propriedades culturais durante conflitos armados e outra para proteger os patrimônios culturais e naturais da humanidade. 

Trump recebeu críticas pela ameaça dentro dos EUA. Especialistas argumentam que esses ataques violariam o direito internacional.

Teste de caças

Os EUA conduziram seu primeiro exercício em massa com o novo caça F-35A, lançando 52 deles de sua base em Utah, segundo informou a unidade 388ª Ala de Caça da força aérea. 

A força aérea americana, porém, defendeu a tese de que foi apenas uma coincidência o fato de o número de aeronaves apresentadas nesta terça ser o mesmo dos alvos citados pelo presidente do país, Donald Trump, em sua ameaça de ataque ao Irã. 

Trump disse no Twitter que tinha mapeado 52 pontos iranianos para serem atacados pelos EUA, incluindo o patrimônio cultural do país, que é tombado pela Unesco.  Os novos jatos elevaram para 78 as aeronaves da força ativa dos EUA. De acordo com o jornal britânico The Guardian, dos três esquadrões ativos, um está em operação no Oriente Médio. Esmail Qaani participa do funeral do ex-chefe e amigo Soleimani (Foto: AFP) PERFIL: Quem é o sucessor de SoleimaniVice de longa data do general Quassem Soleimani, Esmail Qaani se tornou o novo chefe da Quds - Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, a força de elite iraniana. Qaani tem 63 anos e nasceu em Mashad, no nordeste do Irã. É a segunda cidade mais populosa do país e um importante local de peregrinação para os muçulmanos xiitas. O agora general da Quds ingressou na guarda em 1980. Assim como o antecessor, ele é veterano da sangrenta guerra Irã-Iraque, que durou de  1980 a 1988. O conflito opôs o governo do Irã ao regime de Saddam Hussein, ex-ditador iraquiano preso e executado pelos Estados Unidos. Amigo pessoal de Soleimani, Qaani custuma afirmar que ele e o antigo superior são "filhos da guerra".