Batalha de dança, oficina e palestras reúne amantes do hip hip em Brotas

Abertura da 2ª Liga Baiana de b.boys e b.girls, que vai até julho, foi no Solar Boa Vista

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  • Carol Aquino

Publicado em 22 de abril de 2018 às 20:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

“Domingo é de lei a gente se encontrar”. A frase do bailarino e professor de dança Emerson Santana, 22 anos, fez ainda mais sentido neste domingo (22). É que no dia típico em que os adeptos da cultura hip hop costumam se encontram houve a abertura da 2ª Edição da Liga Baiana de B.boys e B.girls. 

B.boy e b.girl é o jeito de chamar um dançarino de um tipo específico de street dance, o break, mas que acrescenta um toque pessoal à coisa. O evento, que aconteceu no Cine Teatro Solar Boa Vista, no Engenho Velho de Brotas, reuniu a galera que queria curtir um som, trocar uma ideia e, é claro, dançar. 

Além de dançarinos afiados, era um desfile de gente estilosa. Chapéus, camisas que lembram as usadas por jogadores de basquete, lenços e basqueteiras, e peças que remetem ao vestuário dos afroamericanos dominavam a cena. Isso tudo porque a cultura hip hop vem das ruas dos Estados Unidos, num movimento que surgiu ainda na década de 70.

Foi vendo Michael Jackson dançar na TV que Emerson teve o primeiro contato com o street dance. A paixão só cresceu quando ele encontrou um grupo de dança de rua na Boca do Rio, bairro em que cresceu. Através do New Style Crew foi que ele deu os seus primeiros passos na dança. Apesar de já dançar há 14 anos, ele fez questão de participar de uma das oficinas na tarde deste domingo (22). “Se a gente não vir, não movimenta”, conta.

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A também bailarina e professora Michelle Arcanjo, 28, também estava praticando nas oficinas da tarde. “A gente precisa se aprimorar sempre. E precisa também ver os outros artistas, criar redes. É uma oportunidade de se encontrar, se fortalecer, se apropriar de um espaço e mostrar que existe demanda”, comenta. 

Vinda de Simões Filho, na Região Metropolitana, ela, bailarina clássica, conta que quando começou a aprender este novo estilo de dança encontrou resistência por parte da família.“A cultura do hip hop é vista como marginalizada, tem certo preconceito. Mas depois que a família foi conhecendo o que era, aceitou bem”, relembra Michelle. O ponto alto da liga foram as batalhas de dança, que aconteceram na modalidade allstyle e seven to smoke footwork. Com premiações em dinheiro, elas atraíram amadores e profissionais. O seven to smoke é uma modalidade em que sete competidores se enfrentam. Quem ganha a maior parte dos desafios é o vencedor. 

Apesar do esforço de todos os competidores, quem levou os R$ 150 de premiação foi o tatuador e bailarino Bruce Lee Cardoso, 28, que tira parte do seu sustento das competições que participa. "Vim hoje de Brasília. Lá, eu fiquei em segundo lugar na competição que participei", conta. 

Autodidata, ele aprendeu a dançar com vídeos e deu o seu toque pessoal acrescentando movimentos da capoeira, que aprendeu com o pai, que era capoeirista. E não parou por aí. Apaixonado pela cultura hip hop, aprendeu também outras artes, como o grafite e já fez letras de rap. 

Profissionalização A realização do evento é de Ananias Break, que também é fundador do grupo independente Ruas, e que há mais de dez anos busca ampliar os espaços ocupados pela cultura hip hop, mas especialmente pela dança de rua. “O foco este ano é a profissionalização das danças de rua. Então, provocamos oficinas, palestras, competições e apresentações”, comenta. 

Quem chegava no evento não aprendia só sobre os movimentos da dança, mas também sobre elaboração de projetos para concorrer em editais público. E o bate-papo não versava sobre as últimas tendências, mas sobre o “empreendedorismo e formação de grupos”.“Queremos potencializar e instrumentalizar os grupos que existem na Bahia”, delimita Ananias. A luta das pessoas que vivem do hip hop hoje é buscar mais espaços onde possam praticar os estilos dentro do gênero, que são variados. Somente dentro do hip hop há pelo menos quatro: que são o break, o locking, o popping e o freestyle. Cada uma tem suas características e movimentos próprios e exigem treino e dedicação.

O problema enfrentado pelos praticantes, a maioria afrodescendente, é a falta de espaços públicos para a prática, ou até mesmo de aulas regulares em escolas de dança, como hoje existem aulas de balé clássico, dança contemporânea ou de dança afro.

“Muitas pessoas pensam que a dança de rua é espontânea, mas ela é muito técnica, em todas as suas modalidades. Muitos dizem que ela é o tipo mais contemporânea que existe, porque se apropria de técnicas das outras danças”, conta Ananias

Batalha de B.girls A Liga Baiana continua nos próximos dias. De 8 a 27 de maio, o Teatro Cine Solar Boa Vista continua ocupado pela galera do street dance. Serão realizadas oficinas de dança popping, técnica acrobática e locking. As atividades formativas serão ofertadas gratuitamente e os eventos terão ingressos a preço popular.

Os interessados em participar devem acompanhar a fan page do projeto para efetuar as inscrições presenciais. 

O projeto só termina no mês de julho e o restante da programação deve ser divulgado. Entre as atividades está prevista uma batalha de b-girls, com a discotecagem de uma DJ e avaliação de três juradas do sexo feminino, que vêm para o evento de outros estados.