Batalha de Pagode teve 24 participantes, incluindo um transgênero

Dançarinos participaram de duelos no formato mata-mata no Teatro Gregório de Matos

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  • Da Redação

Publicado em 18 de novembro de 2018 às 21:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Evandro Veiga

A dançarina Piink Albuquerque - que implora ao repórter para não revelar seu verdadeiro nome -, de 24 anos, já pode comprar um novo celular, para substituir o aparelho que pifou nesta semana. O dinheiro que faltava para a nova aquisição, ela ganhou neste domingo (18), depois de vencer a segunda edição da Batalha de Pagode, que aconteceu no Teatro Gregório de Matos.

A disputa integrava o EPA! - Encontro Periférico de Artes, evento que promoveu do dia 12 até promoveu a apresentação de espetáculos de dança e de teatro em Salvador. Na Batalha, 24 dançarinos e dançarinas participavam de duelos de dança ao som do pagode baiano.

Nas finais da competição, Piink precisou superar 11 adversárias para ganhar os R$ 700, enquanto a vice-campeã ficou com R$ 400. Um dos maiores desafios da Batalha era que os dançarinos não sabiam que música iria ser executada na hora de sua apresentação. "Isso é bom porque permite uma movimentação mais livre", revela a dançarina que vive no bairro de Cajazeiras.  Ela não tem pudor em assumir que sua maior motivação para participar era mesmo o dinheiro: "Me escrevi de última hora, faltando minutos para acabar o prazo. Agora, pra completar o valor do celular, a gente vai ali e pede dez reais à mãe, vinte ao pai e consegue, né?" Samuel Barreto, vencedor entre os homens Desinibida, encarou a plateia de mais de duzentas pessoas com muita desenvoltura. "Pra mim, é bem tranquilo porque danço em banda e já gravei alguns clipes", diz, sugerindo ao repórter que assista a suas participações nos vídeos de Solinho da Rabeta, de Léo Santana, e de Vida que Segue, do Psirico.

Transgênero

Uma das adversárias de Piink era Natha Sympson, 20 anos. Ela, que se identifica como transgênero não binário, inscreveu-se na categoria feminina. "Eu não sou um gay afeminado. Sou uma pessoa feminina, mas fujo dos padrões binários. Na sociedade, ou você é 'um' ou é 'dois'. Mas eu sou 'três'", revela Natha, que foi eliminada na segunda fase das finais.

"Acho muito importante essa questão da representatividade, principalmente nesta época, em que nossos direitos são ameaçados. Fico muito feliz que a organização tenha aceitado minha inscrição na categoria feminina", diz a estudante de bacharelado interdisciplinar de artes da Ufba. Infelizmente, Natha não venceu, mas tinha planos caso levasse os R$ 700: "Se ganhar, vou tomar um banho de loja", disse ao repórter, pouco antes de ser eliminada.

A trilha sonora era bem variada e até chegou a despertar uma certa polêmica porque, para alguns competidores e para um membro do júri, o DJ Telefunksoul - que comandou as picapes - fez concessões demais no repertório, inserindo uma pegada eletrônica no pagode em suas remixagens. O DJ se defendeu: "A tendência do pagode contemporâneo é essa: se misturar com o funk ou com a música eletrônica, por exemplo. BaianaSystem e Attoxxá são a prova disso. O pagode não se restrine mais àquela violinha característica". E a trilha realmente teve de tudo: da clássica A Nova Loira do Tchan até sucessos recentes, como Lepo Lepo.

Homens

Entre os homens, o vencedor foi Samuel Barreto, 20 anos. Samuel, que estuda balé e jazz, não teve muito tempo de se preparar para a apresentação da Batalha, mas ainda assim, brilhou. "O universo do pagode não exatamente o meu. Domino melhor outras danças e não pude me dedicar muito à preparação. O vídeo que mandei para a seleção era um que eu já tinha pronto e nem gostava muito dele. Tanto que o arquivei no Instagram para que ninguém assistisse. Mas mandei para o concurso e foi aprovado". Piink, no momento da vitória. A primeira à esquerda, Edlane, foi sua adversária na final Samuel também ficou surpreso pelo tipo de pagode apresentado: "Esperava uma quebradeira, mas tinha muito funk e eletrônica também. Isso é bom pra explorar a nossa capacidade de dançar, mas eu me perdi um pouco na batida diferente". Vai investir parte do prêmio em um curso para fazer esculturas de balões, que custa cerca de R$ 550. O restante vai ser usado para comprar ingressos para os colegs assistirem ao seu próximo espetáculo.