Bebê morta em ação da PM é sepultada: 'Veja o que vocês fizeram'

Família pede por justiça: "A gente quer que eles paguem na cadeia”, diz irmã

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 1 de fevereiro de 2019 às 16:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: Almiro Lopes/CORREIO

O caixão da pequena Agatha Sophia, de apenas 7 meses, foi sepultado sob uma chuva de rosas brancas e amarelas, jogadas por familiares e amigos, na tarde desta sexta-feira (1º), no Cemitério de Plataforma.  "Veja bem o que vocês fizeram", dizia a mãe, Jessica Maciel, 26 anos, que passou o velório agarrada ao caixão da filha, cantarolando como se a ninasse. A frase se refere aos policiais que participaram da ação que terminou com a morte de Agatha, atingida por uma bala de borracha. A mãe prometeu que não vai descansar enquanto não se fizer justiça. Mãe ficou agarrada ao caixão todo o tempo (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Esse era o mesmo desejo de todos os que compareceram ao enterro da menina: justiça. Três amigas de infância de Jéssica e vizinhas da família estavam indignadas com a situação. Uma delas, que também tem um filho de 5 anos, mesma idade do irmão de Agatha, declarou que o filho dela agora tem medo de policiais. “Ele tinha o policial como um herói e agora está apavorado”, disse.

Outra amiga da família, que não quis se identificar, afirmou que o filho de Jéssica também questionou à mãe o porquê de o policial ter matado a irmã dele. “Imagine como esse menino vai crescer? A gente só quer justiça, queremos que eles sejam punidos”, ressaltou. 

O pai de Agatha, Arivaldo Soares da Silva, foi quem, junto com outros familiares, carregou o caixão da menina até o local do enterro, que ele não aguentou assistir. Em meio a lágrimas e abraços de amigos, ele se afastou da cova e só repetia que não conseguia “ver aquilo”. 

A filha dele, irmã mais velha de Agatha, uma adolescente que preferiu não dizer o nome, passou o velório sentada, amparada pela família e se levantou apenas no momento em que o caixão estava sendo fechado. Ela disse ao CORREIO que a irmã não merecia isso e que a família vai buscar por justiça. “A gente não quer só que eles percam a farda; a gente quer que eles paguem na cadeia”, declarou.

Ela também ajudou o pai a carregar o caixão da irmã de 7 meses. A comoção no enterro de Agatha Sophia atingiu a todo mundo, desde a crianças - muitas chorando - até idosos. Familiares e amigos levavam fotos da bebê (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Tensão Outra amiga da familia, que viu Jéssica nascer, estava muito abalada e disse que a comunidade não consegue nunca ter paz, porque toda semana tem alguma ação da Polícia Militar.

Neste momento, ainda no início do velório, com a mãe da criança agarrada ao caixa, uma gritaria começou na porta do Cemitério de Plataforma. “Eles não deixam a gente em paz nem aqui. Já não basta o que fizeram?”, disse o tio de Agatha, Reginaldo Maciel. Segundo ele, que supeitou da presença de um policial à paisana no enterro. “Eu estava filmando minha família, esse momento triste da perda de minha sobrinha, quando, de repente, percebi aquela presença estranha. Ele não faz parte da comunidade, porque lá todo mundo se conhece. Eu filmei ele e foi quando ele arrancou o celular de minha mão”, contou. 

Muitas pessoas foram atrás do homem, que vestia uma camisa social listrada, azul. Ele, que segurava e mexia no celular de Reginaldo, devolveu o aparelho e, em seguida, foi expulso do local pelas pessoas que acompanhavam o velório. 

Revoltado, Arivaldo, pai de Agatha, disse que a PM, até o momento, não se manifestou junto à família e apenas disse que vai tomar os procedimentos para investigar a autoria do crime. “Isso é um absurdo. Não prestaram nem solidariedade e ainda vieram aqui nos intimidar. A gente vai atrás de justiça”, disse. Pai se emocionou durante enterro (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Relembre o caso Jéssica Maciel contou ao CORREIO que o pesadelo começou no último domingo (27), na localidade Recanto São Rafael, por volta de 19h30, quando ela saía, acompanhada dos filhos e da irmã, do aniversário de uma amiga. A bebê estava acordada, nos braços da mãe, no momento em que foi atingida na cabeça por uma bala de borracha.

"Eu já estava praticamente na avenida principal do bairro quando eles (policiais militares) chegaram com bomba, spray de pimenta e aquelas armas apontadas. Foi bater e inchar a cabeça dela, imediatamente. Ela chorou até desmaiar", relatou.

Com a filha nos braços, já desmaiada, Jéssica e a irmã pediram ajuda a dois militares que, segundo ela, negaram socorro. A mãe, então, recorreu a um motociclista que passava no momento do crime e prestou ajuda, levando a criança à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Marcos. Em seguida, a bebê foi transferida para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde teve morte cerebral decretada nesta quinta-feira (31).

Em nota, a PM informou que, com a morte da menina, o processo administrativo não tem alterações. "Não há mudanças, pois todas as providências penais e administrativas já foram adotadas".

*Sob supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier