Belo e poético, A Forma da Água atesta o direito de amar

Indicado a 13 Oscars, filme de Guillermo del Toro politiza de forma poética o ‘diferente’

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  • Doris Miranda

Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 06:10

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Ninguém dá nada por Elisa Esposito (Sally Hawkins), coitada. Muda e sem charme, trabalha totalmente invisível como faxineira num laboratório de pesquisas militares em plena Guerra Fria entre os EUA e a Rússia. Sua única companhia no local, tão marginalizada quanto ela, é a também auxiliar de limpeza Zelda (Octavia Spencer), negra despachada que assume seu lado maternal diante da amiga.

Mas, Elisa, imagina, é mais corajosa do que se pensa. Descobriu no tanque do laboratório um segredo que a seduz de forma avassaladora: um anfíbio humanoide (o ex-mímico Doug Jones), capturado na Amazônia, onde era adorado como deus, que será dilacerado em testes. Diante dele, ameaçador mas também irresistível em sua masculinidade, ela se vê mulher, sensual, dona do direito de amar  um pretendente tão deslocado quanto ela própria. Apaixonada e correspondida, Elisa planeja libertar o monstro e, quem sabe até, se unir a ele num abraço desprovido de qualquer preconceito. O diretor mexicano Guillermo del Toro no set de filmagem de A Forma da Água (foto/divulgação) Dono de um olhar poético um tanto ‘torto’, fascinado por monstros da antiga Hollywood e criaturas mitológicas da cultura latino-americana, o diretor mexicano Guillermo del Toro, 53, construiu em A Forma da Água uma obra política de poesia e delicadeza pungentes. “Nós, latinos, vivemos há décadas o que é ser o outro nos Estados Unidos. A ideologia nos separa, mas espero que a fábula volte a nos unir”, diz o diretor de O Labirinto do Fauno (2006).

Capaz de prender o espectador na poltrona mesmo sem lhe entregar um clímax convencional, o filme, que segue em ritmo constante, sugerindo às vezes um pouco de tédio, questiona temas como tolerância e respeito às diferenças culturais em dias de um embrutecimento cada vez maior no ser humano.

Indicado em 13 categorias do Oscar, a fábula de Guillermo homenageia clássicos como A Bela e A Fera e O Monstro da Lagoa Negra (1954) - desse último veio, inclusive, o visual da criatura.  “Os monstros têm uma dimensão espiritual para mim, são quase religiosos”, explica. Assim, com espírito elevado, ele chega ao Oscar: “Se ganhar, estarei comovido. O maduro é ir com vontade, só que sem esperar resultados”.

COTAÇÃO - ÓTIMO

Horários de exibição:

UCI Orient Shopping da Bahia  Sala 1 (dub): 10h50 (M), 14h, 16h30, 19h, 21h30 (leg)  UCI Orient Shopping Barra  Sala 6 (leg)(delux): 10h30 (M), 13h10, 15h50, 18h30, 21h10  Cinépolis Bela Vista  Sala 3 (dub): 14h10, 16h50, 19h40 (leg), 22h20 (leg)  Cinemark  Sala 3 (leg): 15h10 | Sala 9 (leg): 12h10 (quarta), 13h (exceto quarta), 17h50 (quarta), 19h (exceto quarta), 20h50 (quarta), 21h50 (exceto quarta)

OUTROS MONSTROS NA FILMOGRFIA DE GUILLHERMO DEL TORO:

Geometria (1987) Em um de seus primeiros curtas, um garoto invoca o demônio depois de tanto falhar em aprender desenho geométrico

Cronos (1993) No México colonial, um alquimista cria um mecanismo para viver para sempre, mas falha miseravelmente

Mutação (1997) No seu primeiro longa americano, del Toro fala de insetos transgênicos que se voltam para acabar com a espécie humana

A Espinha do Diabo (2001) Durante a Guerra Civil Espanhola, um garoto de 12 anos é levado para um orfanato mal-assombrado

Blade II (2002) Del Toro assume a franquia do caçador de vampiros num longa em que o protagonista tem de se unir a seus antigos inimigos

Hellboy (2004) e 'Hellboy II' (2008) Do mundo das HQs, o mexicano pinça um super-herói vindo do inferno que luta contra forças sombrias

O Labirinto do Fauno (2006) Na Espanha pós-Guerra Civil, uma garota passa por provações impostas por um velho fauno

Círculo de Fogo (2013) Quando há um ataque de monstros marinhos, a alternativa da humanidade é recorrer a equipamentos robóticos

A Colina Escarlate (2015) Um casarão gótico e cheio de fantasmas acolhe uma escritora e seu marido misterioso