Bembé do Mercado se torna Patrimônio Cultural do Brasil

Celebração acontece para rememorar a luta pela liberdade e resistência dos povos negros

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  • Fernanda Meneses

Publicado em 13 de junho de 2019 às 20:38

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Zeza Maria/divulgação

Há 130 anos, em todo 13 de maio, a feira de Santo Amaro vira um grande terreiro de Candomblé a céu aberto, reunindo pessoas de diversas manifestações culturais com base na religião de matriz africana.

Conhecida como Bembé do Mercado, a celebração acontece todo ano para rememorar a luta pela liberdade e resistência dos povos negros. A cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo, é o palco para essa festa que teve sua primeira celebração em 1889, um ano depois da abolição da escravatura.

Essa celebração se tornou nesta quinta-feira (13) Patrimônio Cultural do Brasil. Um dossiê com todos os estudos feitos a partir de um estudo de campo, foi apresentado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural e os conselheiros que estavam reunidos na sede do IPHAN (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural Nacional), avaliaram o parecer e unanimemente decidiram que o Bembé deveria se tornar patrimônio cultural do Brasil.     Celebração baiana vira Patrimônio Cultural do Brasil (Foto: Divulgação/Zeza Maria) O Bembé é um patrimônio de extrema importância para a cultura baiana, brasileira e sobretudo a cultura negra. Sua celebração surgiu depois de um passo importante na história afro-brasileira e é uma forma de manter viva uma cultura que foi tirada de seus povos e que até hoje é alvo de preconceito. Antes e até mesmo depois da abolição da escravatura, o maculelê, a capoeira e os cultos de candomblé eram celebrados de forma escondida e o dia 13 de maio, é um dia onde os candomblecistas, principalmente, podem manifestar sua fé de forma pública, mostrando toda a força que os terreiros têm. 

A festa reúne mais de 40 terreiros e pode ser caracterizada como uma obrigação religiosa que é destinada às divindades das águas, Iemanjá e Oxum. É também um momento de agradecer a proteção individual e coletiva. Se divide em três momentos: os ritos, que são as cerimônias para os ancestrais Padê de Exu, Orô de Iemanjá e Oxum; o Xirê do Mercado e a entrega dos presentes a Iemanjá e Oxum. 

Hermano Queiroz, 36, Diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, é baiano e demonstrou muita felicidade depois que o Bembé foi confirmado como Patrimônio Cultural. “Foi um momento, desde o início até o final, de muita emoção”, disse. O pedido para registrar a celebração de matriz africana foi apresentado ao Iphan pela Associação Beneficente e Cultural Ilê Axé Ojú Onirè em 2014. Bembé do Mercado é comemorado há mais de 100 anos (Foto: Divulgação/Zeza Maria) O Babalorixá santo-amarense Pai Pote, 53, estava bastante emocionado ao falar sobre essa conquista e a todo momento destacava a importância que o Bembé tem para toda comunidade que participa dessa festa. “Isso não é importante só para o Bembé, mas para o povo negro e para as manifestações culturais do Brasil”, reforçou. Para o Babalorixá, começou mais uma resistência de salvaguarda para o povo negro.

Assim como o santo-amarense, o diretor Hermano Queiroz fez questão de lembrar sobre a importância da salvaguarda. Foram criados planos a curto, médio e longo prazo, colocando questões importantes como intolerância religiosa e a construção de um memorial. A salvaguarda tem a missão de proteger o Bembé do Mercado e não depende somente do IPHAN, mas de atores responsáveis pela preservação do patrimônio cultural brasileiro, da sociedade civil (moradores locais) e políticos. 

*Com orientação do subeditor Roberto Midlej