Besouro encontrado na América Central preocupa cientistas brasileiros

Conhecido como bicudo-vermelho-das-palmeiras, ele é  capaz de destruir plantações de coqueiro e dendê

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  • Georgina Maynart

Publicado em 14 de novembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: divulgação)

Ele é pequeno, mas pode causar um estrago enorme. Conhecido como bicudo-vermelho-das-palmeiras, o besouro é considerado uma das piores pragas existentes no planeta, capaz de destruir plantações de coqueiro e dendê.

O besouro vermelho ainda não entrou no Brasil, mas a presença dele em países da América Central fez os cientistas acenderem o alerta. Pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Sergipe, estão recomendando reforço no monitoramento das lavouras e no controle das fronteiras.

“A praga já chegou às Antilhas, Aruba e Curaçao, cerca de 50 quilômetros da costa venezuelana. Devido à grande capacidade de dispersão, ela pode invadir países com grandes extensões de palmáceas comerciais como Brasil, Colômbia e Venezuela. Os estados do Pará e Roraima podem ser a porta de entrada no Brasil”, afirma o pesquisador colombiano Juan Pablo Molina Acevedo, especialista na praga e integrante do grupo de pesquisa vinculado à Embrapa Tabuleiros Costeiros.

Roteiro de destruição O Besouro tem capacidade para voar grandes distâncias, e já atravessou continentes. O escaravelho vermelho, como também é conhecido, foi detectado pela primeira vez em 1972, na Indonésia. Nas últimas quatro décadas avançou sobre o norte da África e pelos países mediterrâneos no sul da Europa.

Em 2003, quando chegou a Espanha, o bicudo-vermelho exterminou todas as palmáceas de Múrcia, região ao sul do país ibérico, às margens do mediterrâneo. Em 2009 foi encontrado no oeste dos Estados Unidos, e a partir de 2011 foi detectado na América Central, nas ilhas de Aruba e Curação.

O potencial de estrago é grande caso chegue à América do Sul. A praga pode afetar 28 gêneros de palmáceas, desde as palmeiras comerciais mais conhecidas, como coqueiro e dendê, que geram renda para centenas de produtores rurais, até as palmeiras ornamentais.

“Hoje, com a revisão da lista de pragas quarentenárias, esse inseto está sendo categorizado oficialmente como praga quarentenária ausente, o que permite a adoção de medidas fitossanitárias nos pontos de fronteira para produtos hospedeiros da praga”, informa Paulo Parizzi, coordenador-geral de Proteção de Plantas do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura.

Recomendação Caso os produtores detectem a presença do bicudo vermelho nas lavouras, a recomendação é entrar em contato o mais rápido possível com as superintendências do Ministério da Agricultura em cada estado. O combate será feito através da aplicação de técnicas de manejo integrado de pragas. É um conjunto de ações que inclui, por exemplo, o controle biológico, com uso de insetos predadores do bicudo, os chamados nematoides entomopatogênicos (NEPs).

Segundo os cientistas, os NEPs conseguem provocar a morte de até 80% das larvas e dos adultos do bicudo. Eles têm a capacidade de se deslocar, localizar a larva da praga e parasitá-la no interior das palmeiras. A estratégia vem sendo usada no controle de outra praga que já atinge as lavouras de coco no Brasil, o bicudo-preto, um velho conhecido dos produtores brasileiros, aqui chamado de broca-do-olho-do-coqueiro.

O plano de combate com alternativas para conter o avanço do escaravelho vermelho, caso ele chegue no Brasil, está sendo traçado através de uma parceria entre pesquisadores brasileiros da Embrapa, e cientistas colombianos, ligados a Corporación Colombiana de Investigación Agropecuaria (Agrosavia), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal).

“Estamos alertas, criando estratégias de controle e monitoramento para evitar que a agricultura brasileira e a colombiana, que estão expandindo suas áreas de cultivo de coco e dendê, sejam afetadas”, complementa Molina.

Reprodução De acordo com os cientistas, o bicudo vermelho se reproduz com facilidade. “Ele é altamente prolífico. Uma única fêmea pode colocar de 200 a 400 ovos e desenvolver quatro ou cinco ciclos dentro do tronco da planta, até causar a sua morte. Após sair da planta hospedeira, os novos adultos podem 'colonizar' outras e exterminar uma plantação inteira”, afirma o pesquisador da Embrapa Aldomario Negrisoli.

O besouro também pode chegar ao Brasil através de mudas vindas de países onde a praga já existe. Ainda segundo os cientistas, a América do Sul tem todas as condições de clima, umidade e alta temperatura para que o bicudo se desenvolva rapidamente.

“Se o bicudo-vermelho atingir essas culturas poderá causar graves danos e um grande impacto na agricultura brasileira. Portanto, estratégias de manejo devem ser estabelecidas. A ecologia química, por meio da utilização de feromônios e substâncias atraentes e repelentes, pode fornecer ferramentas para auxiliar esse manejo, a exemplo de algumas tecnologias que já vêm sendo aplicadas no controle de outros insetos-praga existentes no Brasil", diz Alessandro Riffel, que desenvolve pesquisas com ecologia química na Embrapa Tabuleiros Costeiros.

Sintomas No início, as plantas atacadas pelos bicudos apresentam má formação. Depois que o besouro adulto penetra a planta, as folhas são destruídas. Com o crescimento das larvas e o aumento no número de galerias, os tecidos internos da palmeira ficam totalmente destruídos, levando a planta à morte. A palmeira atingida deve ser retirada da área e queimada. Besouro mata a palmeira por dentro. Planta atingida deve sere retirada e queimada (Foto: Divulgação / Agência Embrapa) Armadilhas Os projetos desenvolvidos até agora para controlar o bicudo-vermelho estão sendo feitos com base nas experiências já aplicadas de combate ao bicudo-preto. Entre outras estratégias, os pesquisadores analisam a possibilidade de usar uma espécie de armadilha para capturar o escaravelho vermelho. Um equipamento, desenvolvido no Brasil pela pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros Joana Maria Santos Ferreira, já vem sendo utilizado no combate ao bicudo-preto. É uma armadilha simples e de baixo custo feita com garrafas pet, que tem contribuído para a captura dos insetos.

Outro potencial controlador do bicudo-vermelho é o uso de algumas moscas, identificadas há mais de 25 anos como parasitas do bicudo-preto no Sul da Bahia. Elas já demonstraram uma eficiência de até 72% no combate às pragas já existentes. Mas ainda não foram realizados estudos detalhados sobre a eficiências destas espécies em novas áreas geográficas.