Bethânia e Zeca Pagodinho cantam na Concha neste sábado (14)

Artistas já se apresentaram em Recife e trazem a Salvador a turnê De Santo Amaro a Xerém

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  • Roberto Midlej

Publicado em 14 de abril de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: foto: daniela nader/divulgação

Uma tem fama de séria e disciplinada; o outro, dizem, é um fanfarrão que não é lá muito chegado a ensaios, embora seja um sambista muito competente. Por isso, quando a turnê De Santo Amaro a Xerém foi anunciada, em feveiro, muita gente ficou surpresa com a reunião entre Zeca Pagodinho e Maria Bethânia, que se encontram neste sábado (14) na Concha Acústica, com ingressos esgotados.

Mas a baiana não acha a reunião com o carioca tão improvável assim: “Tanto que está acontecendo!”, ri Bethânia, que reconhece a diferença entre ela e o sambista e sô vê vantagens nisso. “O Zeca é malandro e eu sou rigosora na arte, sim. Mas isso não nos afasta e até nos une. É natural que as pessoas sejam diferentes, afinal, não saímos de um fábrica. E sem as diferenças, a vida seria uma tristeza, não é?”, diz a cantora.

Rainha

Zeca não esconde a alegria de estar ao lado da “Rainha”, como ele a tem chamado. O cantor, apesar de descontraído e sorridente, costuma ser lacônico em entrevistas por telefone. Mas, nesta conversa com o CORREIO, era só alegria e não economizou palavras. “Eu estava nervoso com esse show, porque ia cantar com a Rainha, né? Aí, ela me faz cantar Chão de Estrelas (clássico de Orestes Barbosa e Silvio Caldas). Eu disse: Mas, Bethânia, eu não sei cantar! Aí, terminamos e ela disse: ‘Viu como você cantou lindo?’. E ela fala meu nome de um jeito só dela. Dá até saudade dela me chamando”.

O cantor estava tão empolgado e comprometido, que, mesmo não gostando de ensaiar, ele chegava às sessões antes mesmo de Bethânia. “Às vezes, eu dizia: ‘não precisa você vir amanhã’. E no dia seguinte lá estava ele, duas horas antes de mim”, diverte-se Bethânia.

No repertório, são 41 canções, sendo algumas interpretadas só por um deles e outras em dupla. Há músicas que marcaram a carreira de cada um deles, como Sonho Meu, de Dona Ivone Lara, e Samba Pras Moças, do baiano Roque Ferreira. Há também uma homenagem às escolas de samba favoritas dos dois: Portela, de Zeca, e Mangueira, de Bethânia. 

Há também uma inédita, Amaro Xerém, composição de Caetano Veloso. Bethânia se entusiasma ao falar do samba e não perde a oportunidade de corujar o irmão: “Falei para ele que queria uma música para o show. Ele estava fora do Brasil, mas nos mandou mesmo assim, muito animado. A música é linda demais! Meu irmão continua afiadíssimo!”. Caetano Veloso compôs um samba, Amaro Xerém, a pedido da irmã, para o show A canção, diz Bethânia, é uma viagem entre a cidade de Santo Amaro, onde ela nasceu, e Xerém, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, localidade com que Zeca tem uma forte ligação. Tem ali um sítio e uma escola de música frequentada por mais de 200 crianças. 

“Antes de ir para o Rio trabalhar, Caetano foi para a cidade passar um tempo ali, então conhece muito o Rio de Zeca, o Rio do samba. E ele faz uma ligação bonita entre Santo Amaro e Xerém”, reconhece Bethânia.

“A música é uma poesia do caramba! Tem umas músicas no show que eu nunca tinha cantado e tinha que decorar. Aí, eu disse: ‘Não posso decorar mais nada’. Mas acabei aprendendo. E que porrada!”, comemora Zeca.

Ele não esconde a admiração por ela, nem vice-versa. “Sou apenas o Zeca Pagodinho. Ela não, porra! Cresci ouvindo Bethânia na vitrola. Sei de cor o (disco) Drama Terceiro Ato”. Bethânia responde à altura: “Ele é nobríssimo. Um homem do samba e mais nobre que o samba, não existe. Ele me chama de Rainha, é muito carinhoso, muito afetuoso. Aí chamo ele de Príncipe, meu príncipe encatado, é meu lorde”. Zeca também é só elogios a Salvador: “A cidade é minha casa e tenho muito amigo aí. Nelson Rufino (compositor baiano) é campeão e a maioria dos meus sucessos é dele. De vez em quandoi me liga, manda uma música. E tô louco pra chegar aí, pra almoçar na casa da Regina Casé. Vou fazer o show, mas só volto pro Rio na segunda-feira. Vou beber muito e cantar tudo que tiver que cantar aí”.

Rio de janeiro Com a cidade natal, Zeca não demonstra tanto entusiasmo com o momento atual. “A cidade tá complicada, mas vai melhorar, né? Não tem escola, hospital, alimentação... mas vai melhorar!”.

Já Bethânia revela preocupação com a segurança: “Eu moro junto da Rocinha e às vezes a gente ouve um helicóptero sobrevoando. As pessoas saem de casa, mas estão muito temerosas”.

A cantora faz críticas à intervenção militar: “A orla está muito bem vigiada, mas é muito desagradável você passear de maiô ou dar um mergulho na praia passando ao lado de fuzis. E você se pergunta por que aquilo tá ali”.