Biblioteca dos Barris recebe vistoria para avaliar risco de incêndio

Instalações do equipamento, fundado há mais de 200 anos, foram visitadas

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  • Nilson Marinho

Publicado em 3 de outubro de 2018 às 22:01

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Marina Silva/CORREIO

Eles estavam ali de olhos atentos ao forro dos tetos, às escadarias de acessos aos três pavimentos, às fachadas e aos equipamentos de segurança da Biblioteca Central do Estado, localizada nos Barris. Quando encontravam algo fora do lugar ou carecendo de manutenção, pontuavam nos folhetos das pranchetas que levavam em mãos. Todas as falhas, daqui há duas semanas, endossarão um relatório que será enviado aos órgãos competentes, além do Ministério Público da Bahia (MP-BA), para que algo possa ser feito, caso seja necessário. 

Na manhã desta quarta-feira (3), técnicos do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (CREA-BA), da Defesa Civil de Salvador (Codesal), membros do Conselho Regional de Biblioteconomia da 5ª Região (Bahia e Sergipe) e profissionais do Corpo de Bombeiros estiveram na biblioteca, no acervo da Fundação Gregório de Mattos e no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira para uma fiscalização. Segundo o CREA, foram levantadas informações relacionadas às instalações elétricas, hidráulicas, de conservação do acervo, projeto de segurança e de combate a incêndio e pânico, além da situação geral de manutenção predial. Novos prédios públicos serão vistoriados posteriormente, mas ainda não há um calendário. 

Cerca de 30 profissionais se espalharam pelos corredores e salas da instituição em busca de irregularidades e falhas de manutenção na primeira biblioteca da América Latina. Aos técnicos, no entanto, foi aconselhado a não comentar sobre os problemas, tendo a permissão apenas de colocar no papel aquilo visível aos olhos dos profissionais e de qualquer visitante do espaço. O CORREIO, no início deste ano, denunciou que, sem grandes investimentos, faltava limpeza, climatização e até jornais diários no equipamento público de 207 anos. 

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Relatório O relatório, de acordo com Eduardo Rode, assessor de apoio institucional do CREA, só será divulgado após as corridas eleitorais e a decisão de não comentar sobre as falhas durante a vistoria é para “não associar a uma questão política”, já que dois equipamentos vistoriados pertencem ao estado.  

A escolha dos prédios para inspeções, explicou o assessor, é porque tanto a biblioteca quanto o acervo têm um grande valor cultural e histórico para o estado. O museu, por sua vez, foi escolhido apenas por estar próximo dos dois equipamentos públicos. 

O assessor contou ainda que o CREA foi movido a realizar as vistorias depois que um incêndio destruiu grande parte do Museu Nacional, no mês passado, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Os conselhos, o Corpo de Bombeiro e a Codesal foram convidados a integrar a visita que faz parte de uma ação piloto. “É um trabalho desafiante, mas de grande importância para a cultura baiana. O Crea não poderia ficar de fora de uma ação fundamental para a sociedade”, avaliou Rode.

No setor de consulta aos periódicos, por exemplo, além do forte calor, já que os equipamentos de ar permaneciam desligados, era possível ver na sala de jornais raros algumas infiltrações – tais observações certamente foram para o relatório dos técnicos, assim como a falta de parte do forro de uma auditório no segundo piso, fiações expostas em algumas salas e elevadores e banheiros interditados.

Fiscalização O CREA estava ali justamente para observar se as empresas contratadas para manutenção do espaço apresentavam profissionais responsáveis para cuidar do ar e dos elevadores, além de se certificarem de que não havia nenhuma irregularidade com os contratos. Já a Codesal estava presente para analisar a parte estrutural do prédio como as fachadas. 

Os membros do Conselho Regional de Biblioteconomia levantavam informações sobre o estado de todos os documentos e livros que são preservados nos setores da biblioteca. Já os bombeiros fiscalizavam todo o aparato de segurança que está à disposição caso aconteça um incêndio menor ou de devastadoras proporções como o do Rio de Janeiro.

“Esse é o início. A partir daqui saberemos como estão também a situações de outras bibliotecas do nosso estado e como anda sendo preservada a nossa memória, nossos acervos ou se estamos vulneráveis”, afirmou Claúdio Silva, conselheiro do CR5°.

O comandante do Corpo de Bombeiros, Costa Souza, disse que sua equipe estava ali para analisar se os aparatos de segurança estão disponíveis para controlar um possível incêndio. Uma biblioteca, como a pública do estado, deve conter além de extintores, móveis e tetos de materiais de baixa ou nenhuma combustão e porta corta-incêndio. “A nossa fiscalização está baseada na nova lei 13.425/2017 e a necessidade de adequação das edificações a nova regulamentação que já vem sendo fiscalizada pela corporação”, afirmou Costa.

Ao visitante Gilmar Lopes de Sousa, 42, por sua vez, coube enfrentar o calor e a falta de jornais diários na sala. Algo que também foi pontuado por um visitante durante a visita da equipe do CORREIO no início do ano. “Eu já não visitava aqui há dois anos. No retorno, percebi que já não tem tantos jornais disponíveis como antes. Isso dificulta a nossa volta”, lamentou. 

*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro.