Biografia sobre Belchior fala sobre o sumiço do artista dez anos antes de morrer

Livro está em campanha de financiamento coletivo e pré-venda pelo site Benfeitoria

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  • Laura Fernades

Publicado em 3 de fevereiro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

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O que levou o cantor Belchior a deixar todo o sucesso para trás, aos 60 anos, rumo a uma jornada anônima pelo sul do país que terminou com sua morte dez anos depois? Isso é o que conta a biografia Viver é Melhor que Sonhar – Os Últimos Caminhos de Belchior (Sonora Editora), dos jornalistas Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti. Em campanha de financiamento coletivo, o livro em fase de finalização está com pré-venda pelo site Benfeitoria.    Road book, a obra percorre o caminho feito por Belchior dez anos antes de sua morte, na tentativa de compreender o que o fez mergulhar no exílio. Sem explicar a ninguém o motivo de seu sumiço, o cantor cearense deu apenas um telefonema aos filhos, atravessou dezenas de cidades, dormiu em locais abandonados, viu seu patrimônio ir embora, dependeu de caridade e chegou a ser expulso por quem o abrigou.   Autor de sucessos como Apenas um Rapaz Latino-Americano e Como Nossos Pais, Belchior viajou em companhia de uma nova produtora e também amante, Edna Assunção de Araujo, a Edna Prometheu. Os dois percorreram cidades como Montevidéo (Uruguai), Porto Alegre e Sobral. Os autores repetiram os passos: foram mais de 10 mil quilômetros de viagem e mais de 150 entrevistas com quem conviveu com o cantor – a freira, o hippie, o ativista rural... Belchior acumula sucessos como Rapaz Latino-Americano e Como Nossos Pais  (Foto: Dulce Helfer/Divulgação) “É um artista muito instigante da música brasileira, com uma produção de muita qualidade e de um gesto muito ousado dentro do showbusiness”, destaca o autor mineiro Marcelo Bortoloti, 45 anos. “O fato de ter desaparecido sem dar notícia, ter rompido com a sociedade, instiga questões: por que agiu assim?”, provoca.    Sumiço  O livro não traz respostas, mas hipóteses construídas a partir do relato de quem conviveu com Belchior. O projeto já existia antes do artista morrer, em 2017, e a ideia era entrevistar as pessoas até chegar nele. “Com sua partida, os personagens dessa história estavam mais sensíveis a abrir o coração para contribuir com nosso trabalho”, comenta Chris Fuscaldo, 40.    Dessa forma, os autores entraram “para valer” nos lugares por onde o cantor passou. Especialmente em San Gregorio de Polanco, no Uruguai, “onde Belchior e Edna foram muito felizes” até serem descobertos pela imprensa. “Ficamos hospedados na mesma ‘cabaña’. Foi emocionante, porque para além de pesquisadores somos fãs também”, conta Chris, que escuta o artista desde pequena, por causa da rádio dos anos 1980.    Também autora de uma biografia de Zé Ramalho, em andamento, Chris conta que se viu instigada a refletir sobre a atitude que Belchior teve de abrir mão de sua carreira e de sua vida. “Uso a palavra ‘suposto’ desaparecimento porque eu sempre acreditei que ele não sumiu, apenas optou por outro estilo de vida, que não foi aceito pela mídia, que passou a chamar de ‘sumiço’”, pondera. Os jornalistas Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti em visita à cidade Sobral (Foto: Divulgação) A autora esclarece que não é contra as matérias que foram veiculadas no período, mas é contra a forma como Belchior “foi criminalizado na maior parte delas”. Chris acrescenta que achou desrespeitosas as vezes em que ele e Edna Prometheu disseram que não queriam falar e ainda assim foram perseguidos por jornalistas. “Tem uma cena que foi fotografada deles fugindo pelas ruas de Porto Alegre dos jornalistas. Os rostos entregam o desconforto”, destaca.  

Picuinha  Uma das partes mais difíceis do processo de construção do livro foi, portanto, lidar com a linha tênue entre fofocas e fatos.  “Perceber o quanto a mídia pode ser cruel com os seres humanos me fez repensar toda a minha carreira e realizar que aprofundar minhas pesquisas e apurações é o melhor caminho para evitar sofrimentos como os que Belchior e Edna viveram”, reflete. “Eles só queriam o tempo deles em paz”, completa.    Marcelo conta que usou o bom senso na hora de separar fofocas e fatos, mas tinha coisa que não tinha como evitar. “Para mim foi uma história edificante. E como toda história, tem lados mesquinhos. Agora, explicar essa trajetória a partir das picuinhas seria muito pequeno. Belchior é maior. É um exemplo de humano”, elogia o autor.    Então reforça que o cantor era uma criatura complexa, intelectual e profunda. “Mas existe por trás dessa complexidade todo um desejo de liberdade, de rompimento com determinado tipo de padrão de vida que é o padrão do sucesso, da fortuna, almejado pela maioria da sociedade. Ele é corajoso em ir na contramão e abandonar tudo isso”, defende.

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Serviço O quê: Livro Viver é Melhor que Sonhar - Os Últimos Caminhos de Belchior Autor: Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti Editora: Sonora Preço R$ 59 (só o livro) Financiamento coletivo no site do Benfeitoria com diferentes recompensas. Vai de R$ 79 (livro + livro de George Martin) a R$ 490 (dez exemplares do livro de Belchior).