Bloco As Muquiranas representa o melhor da irreverência do Carnaval de Salvador

A esculhambação já começa na concentração. Fomos atrás delas neste sábado (25)

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 26 de fevereiro de 2017 às 08:19

- Atualizado há um ano

“Agora é que o bicho vai pegar! Sai de baixo”, avisou um folião bem na ponta da passarela do Campo Grande. O alerta não indicava a chance de alguém ser vítima de uma briga, violência policial ou algo do tipo. O único risco, de fato, era de perder a compostura ou até, quem sabe, a própria dignidade. 

[[galeria]]Não, não era a pipoca do Kannário ou o Camaleão com Bell Marques que despontava na esquina. A atração da vez? As Muquiranas. O maior bloco de travestidos do mundo chegava com suas pistolas de alegria, suas fantasias atochadas até o talo e sua irreverência bem dotada. “Êta, zorra! Esses caras são f... Bora sair daqui”, disse um outro, sem arredar o pé do local, como que esperando de propósito a bagaceira que estava por vir. E veio. Vestidos de gladiadoras douradas, ao som do É O Tchan, As Muquiranas provocaram o que há de mais contraditório na sua estreia no Carnaval 2017, neste sábado (25). “Esses bichos são nojentos demais, vei”, reclamou uma foliã depois de dar gargalhadas ao ser atingida por tiros d’água. “Sai daí seu cão!”, bradou ela, tentando reagir com a água do gelo derretido de um isopor. TransformaçãoPara muita gente, eles são o resumo do Carnaval, a essência da folia. A esculhambação já começa na concentração. Ali eles já mostram ‘seus’ pênis. De brinquedo, claro. Porque Muquiranas que é Muquiranas tem tara por pênis. São de todos os tamanhos, mas difícil encontrar um do tamanho do levado pelo nutricionista Lucas Barbosa, de 27 anos, que estava acompanhado de outros três amigos igualmente bem dotados. “O que mantém a avenida ainda viva são as Muquiranas. No dia que As Muquiranas não saem, isso aqui fica morto, pode reparar”, disse Lucas. “O cara pode estar sofrendo o que for em casa, pode ter tomado corno, pode estar sem dinheiro. Aqui, ele esquece tudo”, ensinou. “A ideia do Carnaval é a transformação, é essa virada de chave. Quando a gente coloca essa fantasia, a gente vira outra pessoa. Isso é o Carnaval”, diz o estudante Denilton Andrade, de 23 anos.Tanto que as crianças se amarram. São alguns dos principais alvos das Muquiranas. É guerra! As pistolas d’água duelam em alta com as latas de espuma. Mas, seja no chão ou de cima dos postes, arquibancadas e praticáveis que adoram invadir, eles na verdade não poupam ninguém. Da repórter de TV que não consegue trabalhar em paz até o policial. “Eu já atirei água em polícia. Sabe aquele último da fila. Ele passou metendo a fanta e eu meti o jato nele. Nem viu quem foi”, disse o vendedor Maurício Freitas, 32 anos. Mas, em se tratando de pirraça, o principal alvo do seu desbunde são os homens acompanhados de uma mulher. “Não quero você, não! Sua horrorosa! Sua baranga! Eu quero ele, esse gostoso!”, brincou um deles com um casal. “A gente não liga, não. E uma brincadeira saudável. As muquiranas mantem a essência da rua”, acredita o policial militar Pedro Santos, 36 anos, acompanhado da esposa. “O bloco mais irreverente da avenida”, resumiu Beto Jamaica, ao lado de Compadre Washington. Hoje e amanhã, ainda bem, tem muito escracho nas ruas. As Muquiranas saem ainda com Psirico e Leo Santana.