Blocos afro fazem bonito no circuito Osmar no último dia de Carnaval

Pela primeira vez na história, Ilê saiu sem cordas; público compareceu com fantasias

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  • Da Redação

Publicado em 26 de fevereiro de 2020 às 06:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Na saída do Ilê Aiyê do Curuzu, o desfile só começa depois que a pipoca e o milho branco são jogados sobre o público, e as pombas brancas soltas. Comida sagrada no Candomblé, a pipoca é um grande símbolo de transformação, e foi ela quem iniciou um novo capítulo nos 46 anos de história do Ilê Aiyê, ontem. É que o bloco baixou suas cordas, e abriu espaço para o folião pipoca se misturar aos seus associados (e vice-versa).

Na multidão que se formou atrás do trio ainda no Campo Grande, gente vestida normalmente, mas a maioria usando as fantasias desse ano ou roupas confeccionadas com tecidos de outros carnavais do Ilê.  Ilê Aiyê fez seu primeiro desfile sem cordas em 46 anos de história (Foto: Betto Jr./ CORREIO) Caso de Ivete Santos, 41 anos, que reaproveitou a fantasia do ano passado e fez bonito na avenida. "Já saí quatro vezes no Ilê, mas esse ano não pude pagar. Achei muito legal a ideia da pipoca, e fiz questão de vir vestida com o tecido do bloco porque além de ser lindo representa a história e a força do bloco", explicou.

O trio independente foi apoiado pela prefeitura, que também injetou recursos nos blocos Malê Debalê, Muzenza, Olodum e Cortejo Afro. Os principais afro são também apoiados pelo edital Ouro Negro, do Governo do Estado. Entre eles, o Olodum, a Didá, o Cortejo Afro e o Muzenza. Olodum também arrastou pipoca nesta terça de Carnaval no circuito Osmar (Foto: Divulgação) Saindo atrás do Ilê como associada desde quando foi fundado, há 46 anos, a professora de dança Neusa Borges, 62, lamentou o fato de agora serem só dois os dias em que o bloco desfila mantendo suas características originais.

"É muito triste saber que o Ilê Aiyê, um bloco afro de referência que o mundo inteiro conhece, hoje está nesse patamar. Torço para que ano que vem ele volte a ter três dias de cordas, porque são elas que organizam e deixa o desfile bonito. É essa beleza que faz as pessoas agudarem nossa passagem na madrugada do domingo", pondera a professora, que é moradora da Liberdade. Trio sem cordas do Ilê Aiyê atraiu foliões de outros Carnavais com fantasias antigas (Foto: Betto Jr./CORREIO) Beleza, pertencimento, identificação, ancestralidade e resistência são só algumas das qualidades exaltadas por quem faz questão de seguir os afros no Carnaval. “É muita emoção, e acho que só o amor explica mesmo. Eu posso ser o que eu quero no Ilê”, comemora Luis Artur Ferreira, 22, que há cinco anos sai como associado do bloco ao lado das amigas e vizinhas da mesma idade. Ontem, estava acompanhado de três delas, e a expectativa era encontrar mais gente querida. “Tem gente que só vejo no Carnaval, atrás do Ilê”, diz Luis.

Quase todo mundo que não dispensa os afros do roteiro, tem um bloco de coração. No Muzenza, que veio atrás da pipoca do Ilê, encontramos vários apaixonados pelo bloco também surgido no bairro da Liberdade, como um tributo ao músico jamaicano Bob Marley. ”Desde os 13 anos eu saio em blocos  afros. Já saí no Badauê, Filhos do Congo, Bankoma, Arca de Zambi, mas Muzenza é o que eu mais amo”, diz Jucelma Nery 48, cujo amor vem de família. De geração em geração, amor aos blocos afros vai se renovando (Foto: Betto Jr./CORREIO) Acompanhada da neta Andressa, a baiana Hildete Nascimento é só uma das provas de que o amor pelo Muzenza (e por todos os blocos afros) é nutrido de geração em geração. “É amizade, felicidade e orgulho, mesmo diante dessa situação péssima que estamos vivendo. É resistência mesmo”, resume.  

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