Bolsonaro entrou na luta eleitoral disposto a atirar para matar

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  • Armando Avena

Publicado em 31 de agosto de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A entrevista de Jair Bolsonaro no Jornal Nacional esta semana mostrou que o candidato do PSL à Presidência da República entrou na luta eleitoral disposto a atirar para matar. A declaração pode ser tomada literalmente, afinal o capitão do Exército disse na entrevista que um  policial deve entrar nas áreas de conflito e “matar 10, 15 ou 20 com 10 ou 30 tiros” e  ser condecorado por isso. Mas o que impressiona é a metáfora, ou seja, na defesa de suas ideias, Bolsonaro parece disposto a enfrentar qualquer um,  seja a imprensa,  os partidos, as mulheres, os negros ou os homossexuais.  A melhor defesa é o ataque parece ser o lema do candidato e questionado sobre o uso do auxílio-moradia, ele respondeu atacando os jornalistas que recebem como pessoa jurídica; frente à questão de igualdade de remuneração entre homens e mulheres, contestou colocando a situação pessoal da apresentadora; e ao ser arguido sobre seu apoio à ditadura militar, respondeu atacando a posição da rede de televisão à época. É um script conhecido, o mesmo utilizado por Donald Trump para chegar a Presidência dos Estado Unidos, mas traz enormes preocupações aos brasileiros, pois anuncia que se ele chegar à Presidência da República, teremos um período político tão conturbado como o que atualmente enfrenta nosso vizinho do Norte.  Mas há uma diferença fundamental: a democracia americana é sólida e a estrutura do sistema governamental impede que arroubos e bravatas de presidentes se transformem em políticas efetivas, bem diferente da infante democracia brasileira, tão frágil e tão sujeita a retrocessos. E então surge um pergunta fundamental: qual o compromisso de Jair Bolsonaro com a democracia? E o que ele faria, por exemplo, se o Congresso Nacional, onde não terá maioria, não aceitar suas propostas, impedindo-o de governar?  Há quem acredite que, com sua pouca paciência para com a democracia e sua declarada admiração pelo golpe militar de 1964, o capitão do Exército ficaria tentado, após ter nomeado todos os chefes das Forças Armadas, a partir para cima do adversário atirando para matar na  débil democracia brasileira.  Outros duvidam, pois muitos políticos tradicionais se aproximarão do presidente, mas, não vamos esquecer, que muitos políticos tradicionais também se aproximaram dos militares em 1964 e eles, que prometiam ficar pouco tempo no poder, cassaram a todos e condenaram o Brasil a 21 anos de ditadura militar. Mas, dirão alguns,  o Bolsonaro de hoje é outro e estaria longe do perfil estatizante e nacionalista dos defensores do militarismo. E até já definiu que seu ministro da Fazenda será o economista Paulo Guedes de reconhecida tendência liberal. Novamente é preciso cautela, afinal ministro é demissível ad nutume.  Guedes pode ser apenas o escudo liberal do velho nacionalista.  Na entrevista ao Jornal Nacional, por exemplo, o candidato Jair Bolsonaro tinha escrito à caneta na mão, como se não quisesse jamais esquecer, o slogan:  “Deus, Família e Brasil”, lema muito parecido com o ostentado na marcha “Família com Deus pela Liberdade”, que apoiou o golpe de 1964 e semelhante aquele  usado pela antiga Ação Integralista Brasileira, “Deus, Pátria e Família”, que pregava um Brasil potência, nacionalista, estatizante e centralizador. E basta olhar para o histórico de votos de Bolsonaro para perceber sua raiz nacionalista  e estatizante, afinal ele votou contra a quebra do monopólio das telecomunicações, contra a quebra do monopólio estatal do petróleo, contra a reforma administrativa e por aí vai. E aqui surge uma enorme diferença entre Donald Trump e Jair Bolsonaro, já que o primeiro teve  o trunfo de ser um empresário de sucesso e o segundo viveu toda sua vida como funcionário público no Exército e na política. O Brasil já caiu no conto de um  “salvador da pátria” de nome Fernando Collor que prometeu matar a inflação com um só golpe e quase destruiu o país, por isso os brasileiros precisam ter cuidado para não embarcar na canoa de outro “salvador da pátria” que agora promete acabar com os problemas brasileiros na base da bala.

Bolsonaro na Bahia Na Bahia, ninguém pongou ainda na popularidade crescente de Jair Bolsonaro.  Aliás, a rejeição do candidato João Henrique, que afirma ter seu apoio, é tão grande que nem Bolsonaro conseguirá alavancá-lo. E entre os demais candidatos,  até o momento apenas o candidato a senador Irmão Lázaro declarou seu voto no candidato do PSL  e terá vídeo de apoio gravado por ele. Já no interior do estado, a maioria dos eleitores ainda acredita que Lula é candidato, mas já há quem afirme que vai votar em Rui para governador e Bolsonaro para presidente.

Ciro e o refis dos pobres A proposta do candidato Ciro Gomes de fazer o refinanciamento das dívidas dos devedores inscritos no SPC é bastante razoável, especialmente para as dívidas menores, que representam a maioria absoluta dos endividados. O candidato tem razão quando afirma que já existem bancos oferecendo deságio para viabilizar renegociações e o refinanciamento a juros menores poderia ser viabilizado pelo governo a custo relativamente baixo.  A medida é positiva e pode trazer de volta ao mercado muitos consumidores e aquecer o comércio que continua andando de lado.

Concentração econômica

A Bahia é um estado em que 1 em cada 5 pessoa – representando 23,4% da população ou cerca de 3,6 milhões de baianos –  vive em duas cidades: Salvador e Feira de Santana, as únicas com mais de 500 mil habitantes. E apenas 6 municípios do estado são responsáveis por 45% do PIB, sendo que 5 deles estão na  Região Metropolitana de Salvador. Um estado do tamanho da Bahia não pode ter apenas duas metrópoles, distante 100 km uma da outra. É fundamental investir para criar metrópoles de porte médio na Bahia, distribuindo melhor a atividade econômica e reduzindo a concentração, inclusive demográfica.

Seca na Bahia A seca voltou a afetar quase metade dos municípios baianos. Mais de 3 milhões de pessoas estão em situação precária e os prejuízos econômicos são grandes. Num cenário como esse, os candidatos a governador do estado precisam dizer se vão continuar empurrando o problema com a barriga, com medidas emergenciais e paliativas, ou se vão apresentar aos baianos um plano de convivência com a seca. São várias as alternativas  econômicas para o semiárido, a exemplo da caprinocultura, das lavouras de sequeiro, da irrigação através de aquíferos, da geração de energia renovável e muitas outras. É necessário, contudo, um plano integrado de ação que estabeleça ações relativas a crédito, financiamento, fornecimento de insumos, extensão rural e outras. Um grande programa de apoio à produção econômica  no sertão da Bahia  terá um custo menor do que um pilar da ponte Salvador/Itaparica e vai custar bem menos do que R$ 50 milhões, que representa o custo mensal para sustentar os trabalhos da Assembleia Legislativa da Bahia.