Bruna Lombardi a mil por hora na poesia, na TV e na internet

Artista lança dois livros de poesia, lança a plataforma digital Rede Felicidade e estreia a série A Vida Secreta dos Casais no HBO, em outubro

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  • Hagamenon Brito

Publicado em 28 de agosto de 2017 às 06:25

- Atualizado há um ano

Entre 1976 e 1984, já famosa como atriz e modelo, Bruna Lombardi publicou três livros de poesia que conquistaram elogios dos mestres Ferreira Gullar, Clarice Lispector, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana, de quem a autora se tornaria amiga.

Múltipla em talento artístico e inquieta em sua aventura humana na Terra, Bruna foi desenvolver outras atividades e nunca mais publicou um livro de poemas. O tempo, porém, não atrapalhou a permanência da beleza poética da autora na natural "impermanência das coisas". Pelo contrário. Graças a admiradores ilustres, como a cantora Maria Bethânia (que incluiu alguns dos seus versos em shows), e diversas e espontâneas comunidades on-line na era da internet, a poesia de Bruna seguiu bem viva, lembrada.   Bruna Lombardi e o ator Carlos Alberto Riccelli estão casados há 38 anos. Os dois também têm parceria profissional (Divulgação) Agora, pela editora Sextante, ela quebra o longo hiato com o livro Clímax, com 150 poemas inéditas e orelha escrita por Maria Bethânia ("Gosto do inquieto dos seus versos. E sempre é bom desejar coragem e vitória a quem se arrisca. Brava!", diz um trecho), e a antologia Poesia Reunida, que reúne os livros No Ritmo dessa Festa (1976), Gaia (1980) e O Perigo do Dragão (1984).

Nessa entrevista exclusiva, feita no Sheraton Hotel da Bahia, a linda e gentil Bruna Lombardi, 65, fala sobre o retorno à literatura poética, a série A Vida Secreta dos Casais (estreia dia 1º de outubro no HBO) e seu trabalho em palestras e debates sobre temas para uma vida melhor. Com milhões de seguidores nas redes sociais, ela acaba de lançar a plataforma digital Rede Felicidade, comunidade interativa que compartilha conteúdos para inspirar as pessoas a viverem mais plenas.

Quem acompanha a tua trajetória artística sabe que você sempre está em movimento. Ainda assim, porque esse hiato tão grande em relação a um livro de poesia, sendo que você surgiu no gênero com impacto e sucesso na década de 1970? 

Eu fiz outras coisas, muita coisa ao mesmo tempo. Continuei a escrever poesia, nunca paro, mas publicar exige um momento de dedicação especial, uma imersão maior nesse universo. A poesia é muita séria, algo muito profundo. É diferente de publicar um livro de eventos, crônicas ou mesmo uma autobiografia. Na natural impermanência das coisas, ela é quem mais resiste, mais sobrevive, porque existe uma espécie de irmandade secreta de quem gosta de poesia. As pessoas são muito mais habitadas pela poesia do que a gente imagina. Mesmo que eu não tenha publicado algo novo em tantos anos, como você diz, minha poesia continua presente por aí, especialmente depois da internet, com pessoas compartilhando meus textos. As redes sociais são transformadoras também, nesse sentido. Ao contrário de muitos, eu gosto das redes sociais. Tudo depende do uso que você faz da internet, da sua proposta diante da ferramenta. Acho bom estar todo mundo conectado.

Você tem uma inquietação que te faz abraçar várias atividades ao mesmo tempo. Às vezes, no auge do sucesso numa dessas atividades, você parte para outra coisa. É uma característica da tua personalidade?

É interessante. Descubro isso mais ouvindo uma pessoa como você - um bom observador - falar, do que eu mesma. É uma característica intuitiva minha, não gosto de ficar numa zona de conforto, de ficar acomodada em algo que deu certo. Sempre estive mais interessada em conhecimento e novas experiências do que em dinheiro ou fama.

Qual foi a sensação de ter seus livros de poesia elogiados por mestres como Carlos Drummond, Vinicius de Moraes, Gullar, Clarice Lispector e Quintana? Você era tão jovem, não foi meio intimidador? (risos)

Nem nos meus maiores e mais loucos sonhos pensei em receber esses elogios (risos). Eu mal tinha saído dos meus 20 anos, mas já tinha a consciência da importância de estar lidando com aqueles mestres.  A cantora Maria Bethânia assina a orelha de Clímax: "Bruna quer arrancar prazer de onde for. Gosto do inquieto dos seus versos" (Leo Martins/Div.) Você sentiu preconceito de algumas pessoas, na época, como se uma mulher jovem e tão bonita e famosa não pudesse ser uma boa poeta, também?

É natural. Eu estava o tempo todo nas capas das revistas e, de repente, lancei um livro de poesia. Era mais uma desconfiança. Não uso a palavra preconceito num caso desses, porque quem sente preconceito mesmo num país como o nosso é a mulher negra pobre, por exemplo, e tantas outras pessoas.  Seria um desaforo eu usar a palavra preconceito para mim numa realidade social como a do Brasil. Mas, se tinham alguma desconfiança, passou com o tempo, porque as pessoas conhecem minha trajetória, a minha verdade. E aprendi também a conviver com essa minha dualidade, não podia separar o meu rosto da minha poesia, como brincou Chico (NR: Chico Buarque disse que era preciso "separar o rosto de Bruna da poesia de Bruna").

Sei que você prefere falar de felicidade, poesia e arte, mas como a política afeta a vida de todos nós, qual sua opinião sobre esse baixo astral político que domina o Brasil?

Sou apartidária, mas acho que a situação atual tem a ver com a nossa formação cultural, não algo ligado à cultura, mas à nossa estrutura, que possui uma corrupção sistêmica vinda desde o começo como colônia. Uma forma política na qual a elite quer o máximo de vantagens. Creio que estamos vivendo um período de expurgo com tantas denúncias de corrupção e investigações. Um período de dor do qual, acredito, o Brasil sairá muito melhor em pouco tempo.

Você promove jornadas de felicidade e mindfulness (prática ou estado de espírito de atenção plena, no qual o indivíduo desenvolve melhor consciência e foco), num exercício de bem-estar que não é ligado a nenhuma religião. Você é uma pessoa de religiosidade? 

Tenho grande religiosidade, mas nenhuma religião específica. Gosto de parte dos ensinamentos de várias religiões, estudo o assunto. Acabei de vir do Butão e de uma temporada na Índia, por exemplo. Tenho interesse nisso tudo, mas não em seguir dogmas ou uma religião, que são criações dos homens. Foram os homens que criaram as religiões. Agora, respeito quem possui religião, claro, desde que tenha tolerância ao próximo que pensa diferente da sua fé, mas que tem valores humanos, também. Usar a violência em nome da religião é ir de encontro ao próprio sentido religioso. Estou mais interessada no humanismo das coisas.

Você e Riccelli estão casados há 38 anos e trabalham juntos. Qual o segredo dessa aventura a dois tão longa? É o prazer de compartilhar experiências e descobertas, sempre? De ter compaixão pelo outro, mesmo quando ocorre confrontos? 

Você fez a pergunta e respondeu (risos). É isso, sim. Muito mais do que um contrato, que na verdade nunca houve, estamos juntos nessa viagem porque temos paixão e admiração um pelo outro. Somos bem diferentes em opiniões e temperamentos, mas parceiros apaixonados nessa aventura. E isso inclui brigas, claro, porque há vida (risos). 

Maria Bethânia escreveu um texto carinhoso na apresentação do livro Clímax. Qual a sua relação com ela e a Bahia?  

É uma amiga querida. Hoje mesmo, sabendo que eu estaria em Salvador, me mandou um WhatsApp. Eu e Riccelli vivemos muitas coisas boas na Bahia. Temos uma relação forte com a Bahia e uma casa em Trancoso. Salvador mesmo hoje, tão grande, ainda tem algo especial e generoso nela.

Série A Vida Secreta dos Casais fala de sexo, poder político e jornalismo

Criada por Bruna Lombardi e o filho Kim Riccelli, que também assina a direção com o pai Carlos Alberto Riccelli, a série A Vida Secreta dos Casais estreia dia 1º no canal HBO, com 12 episódios com uma hora de duração, cada - e a segunda temporada já está garantida.

"A trama tem várias camadas que se sobrepõem. Eu faço a sexóloga Sofia Prado, diretora do Instituto Tantra, um centro de terapias holísticas. Ao mesmo tempo, acontece um crime cuja investigação leva aos bastidores do poder político, ao jornalismo e ao universo cibernético", explica Bruna Lombardi. "No mundo atual, com a internet a as redes sociais, a opinião pública adquiriu um poder muito maior e a mídia também, para mostrar os desmandos do poder, a corrupção", completa a artista paulista, que adora trabalhar com o marido e o filho Kim. Uma experiência conjunta realizada também no cinema em filmes como O Signo da Cidade (2007) e Amor em Sampa (2016). Bruna interpreta a sexóloga Sofia Prado em A Vida Secreta dos Casais, que estreia dia 1º de outubro no canal HBO (Divulgação) O elenco de A Vida Secreta dos Casais, com locações em São Paulo, tem também Paulo Gorgulho (como um banqueiro e empresário influente no governo), Virginia Cavendish, Fernando Alves Pinto, Bia Seidl, Ondina Clais, Alejandro Claveuax, Letícia Colin e Camila dos Anjos).