Busto de Ruy Barbosa avaliado em R$ 20 mil foi vendido em ferro-velho por R$ 200

Peça furtada de museu no Centro Histórico de Salvador seria derretida

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  • Bruno Wendel

Publicado em 5 de outubro de 2018 às 16:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: ABI/Divulgação

Busto de Ruy Barbosa foi devolvido a museu por dono de ferro-velho (Foto: ABI/Divulgação) Única das 16 peças furtadas no Museu Casa de Ruy Barbosa, no Centro Histórico de Salvador, a ser recuperada até esta sexta-feira (5), o busto em bronze do jurista baiano é avaliado, pelo menos, R$ 20 mil. Por sorte, o dono de um ferro-velho, que pagou R$ 200 na peça, levada do museu no último final de semana, ainda não tinha colocado em execução o plano de derreter a relíquia.

O comerciante soube do arrombamento do museu através da imprensa e entrou em contato com a polícia. Com as informações dele, a Polícia Civil já tem pistas dos três criminosos – os dois que invadiram e levaram as peças do acervo e o homem que atuou como intermediário na venda do busto.

A peça foi devolvida à Associação Bahiana de Imprensa (ABI), proprietária do museu, nesta quinta (4), após o meio-dia. O espaço é administrado através de um convênio, firmado em 1998, pelo Centro Universitário UniRuy/Wyden (antiga Faculdade Ruy Barbosa).

“Das peças furtadas do acervo, quatro foram bustos, sendo que o recuperado é o maior e todo em bronze”, declarou o presidente da ABI, Antônio Walter Pinheiro. 

O busto de Ruy Barbosa (meia idade) pesa cerca de 50 kg e o valor estimado é tomado com base em outro busto. "Outro dia, fizemos um orçamento para confeccionar um busto de Miguel Calmon (político e diplomata brasileiro), nos mesmos moldes, no mesmo tamanho e em bronze, e ficou entre R$ 20 mil e R$ 30 mil", declarou Pinheiro. 

Além de acionar a polícia e informar a imprensa do arrombamento do museu, a ABI adotou outras medidas, que dificultarão a venda das peças. “Será difícil para os criminosos venderem tudo. Hoje, quando há o sumiço desse jeito, é registrado no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). E, muito dificilmente, uma instituição de respeito, como museu e antiquário, se prestaria a isso, pois tudo é cadastrado. É muito difícil que uma pessoa direita queira ser encarada como o receptador”, observou Pinheiro. 

Apesar das medidas, o presidente da ABI não acredita que todas as peças serão recuperadas. “Temos que repor o acervo do museu, que hoje tem 960 livros da época de Ruy e 300 peças entre móveis, cadeiras, quadros, bengalas. Foi recuperado um dos quatro bustos levados, de valor, foi muito importante para levantar a moral da gente", comentou o presidente da ABI. "O busto seria derretido. Espero que os outros não tenham tido esse caminho, pois algumas peças são pequenas. Recuperar tudo será uma glória", concluiu.

Investigação O arrombamento do museu é investigado por duas unidades da Polícia Civil. A primeira é a Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), onde a ocorrência foi registrada como “furto qualificado/ arrombamento com subtração de bens”. A titular da unidade, delegada Maritta Souza, destacou a principal dificuldade na apuração: o museu não tem câmeras. “É inadmissível que um museu não tenha um sistema de câmeras. Vamos recorrer a filmagens de outros prédios”, declarou a delegada.

A segunda unidade envolvida na apuração do crime é a Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR). Agentes da unidade receberam a ligação do dono do ferro-velho informando que tinha pago R$ 200 pelo busto no bairro de Massarunduba. Ele foi ouvido e liberado. "Já estamos no encalço dos criminosos. O dono do ferro-velho passou informações importantes para a identificação dos três criminosos", declarou a delegada Carla Santos, titular da DRFR.De acordo com a delegada, o homem que vendeu o busto ao comerciante é uma pessoa conhecida pela atividade de venda de objetos na Cidade Baixa. “Temos informações onde podemos encontrá-lo e ele é envolvido com outros tipos de crimes”, disse a delegada, sem dar mais detalhes para não comprometer o trabalho da equipe. Portão de entrada do museu, que ficou danificada após invasão (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) História Ruy Barbosa morou até os 16 anos (de 1849 a 1865) na rua que hoje leva seu nome. A Casa de Ruy Barbosa foi arrematada em leilão pelo jornalista Ernesto Simões Filho, então presidente do Jornal A Tarde, no início do século XX. Em 1935, a ABI conseguiu a posse do imóvel. Naquele mesmo ano, foi feita a reconstituição do imóvel original, que estava completamente em ruínas.

Diretor de Patrimônio da ABI, Luís Guilherme Pontes Tavares contou que o roubo dos objetos altera o projeto de exibi-los em evento preparatório da reabertura do Museu de Imprensa da ABI.

Segundo ele, nos últimos anos, a ABI realizou o inventário do acervo da Casa Ruy Barbosa, e conhece, com detalhes, cada objeto roubado. “Essa ação criminosa instala a ABI entre as entidades brasileiras agredidas devido à missão que se impuseram de preservar a história nacional”, comentou.

Quem tiver informações sobre o paradeiro das peças deve entrar em contato com o Disque-Denúncia pelo telefone 3235-0000 (Salvador e RMS) ou pelo 181 (interior).

“É assustador o que tem sido feito com a memória do Brasil e, particularmente, da Bahia. Um acervo constituído por peças que contam a história do ‘maior dos brasileiros’, como Ruy era chamado, se transformou em relíquias sujeitas a roubos e transações”, declarou o diretor de Cultura da ABI, Jorge Ramos, também no site da entidade.

Precedente A Casa de Ruy Barbosa abriga um museu gerido e mantido pelo Centro Universitário UniRuy/Wyden. O Convênio de Intercâmbio e Colaboração Técnica e Cultural firmado em 1998 entre a instituição e a ABI teve o objetivo de devolver à comunidade o espaço do Águia de Haia, como também era conhecido o jurista baiano.

O imóvel chegou a ser invadido por ladrões em 1997. Na época, a maior parte dos objetos roubados foi recuperada e seguia disponível para exibição até agora.

A pró-reitora administrativa/operações do UniRuy, Eliana Martins, acompanhou a ocorrência. Por e-mail, ela reforçou a parceria e manifestou a disponibilidade do reitor da instituição de ensino, Hubert Basques, em contribuir com as investigações. Imagens das peças furtadas em museu (Foto: ABI/Divulgação) Confira a lista de materiais roubados 1 busto de Ruy Barbosa em bronze (meia idade) - recuperado 1 busto de Ruy Barbosa em bronze (ancião) 1 busto em miniatura de Ruy Barbosa em bronze (peso para livro) 1 estátua de bronze 6 medalhas de bronze de formato circular, com borda lisa. (1849/1907) 1 medalha de prata de formato circular, com borda marcada por friso em relevo. (09/10/1907) 1 medalhão de bronze dourado com bordas lisas 1 par de óculos de viagem com antolhos, armação de metal prateada, formato oval, lentes ovais acinzentados 1 par de óculos de grau, armação de metal prateado de formato oval, lentes ovais incolores 1 caneta tinteiro preta 1 taça.