Cadê a Baía?

por Aninha Franco

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Publicado em 6 de janeiro de 2018 às 09:02

- Atualizado há um ano

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Há muito tempo que a Baía não recebe tantos turistas antes do Carnaval! Falar nele, cadê ele? Ainda não vi uma propaganda de camarote, um outdoor de estrelas ligadas aos blocos de abadás, e o Carnaval é daqui a um mês. Que será do fulejo de 2018 sem Ivete Sangalo? Carlinhos Brown já avisou, em entrevista a Marrom, que encerra sua participação carnavalesca em 2019. E aí? Apareceu alguém com sua cabeça de parque de diversões?

Passamos anos e anos e anos discutindo, comentando e gracejando com a queda do fluxo carnavalesco e não fizemos uma mudança em sua estrutura até que ele virou isso. Logo ele que era aquilo. Ele, o Carnaval da Baía que foi, que era uma outra cidade dentro da cidade durante sete dias, onde milhares de humanos podiam ser alegres ou felizes, dependendo de seus quereres. O Carnaval da Baía que era, que foi, uma convenção anual de prazer que encerrava um calendário de festas prazerosas.Baianidade e tristeza são antônimos perfeitos, em diversas gradaçõesAs festas também estão problemáticas. Quatro de Dezembro, de Oyá, mais religiosa que mundana, esteve cheia e bonita em 2017. Mas não houve caruru nem choveu no dia. Choveu depois aquela chuva de Oyá zangadíssima que nós assistimos. E eu soube que Lula participará do Cortejo da Lavagem do Bonfim e que Ciro Gomes deve vir no Dois de Fevereiro de Yemanjá. Políticos não deveriam fazer políticas em festas. Sobretudo políticas mal intencionadas. É cristalino que nenhuma lavagem conseguirá lavar a sujeira de Lula e do lulopetismo. Então, pra que mesmo? Ciro Gomes ofendeu todas as mulheres brasileiras quando ofendeu Patrícia Pilar e vai participar da festa de Yá, a Senhora das Águas?

Que lástima tudo isso! Baianidade e tristeza são antônimos perfeitos, em diversas gradações, iniciadas por um colorido autêntico e elegante, até um lamaçal de cheiros, tons, sons e sabores. Os tons e os sons, os sabores e os odores da baianidade estão desequalizados e necessitando de muitos reparos. E o primeiro reparo a ser feito numa sociedade que conseguiu substantivar seus hábitos e criações na baianidade é sua gastronomia. Gastronomia é a primeira arte e a mais essencial de todas elas. A Itália elegeu 2018 como o ano da comida italiana, que está mais forte na Baía que a gastronomia baiana. Por aqui, come-se muito mais spaghetti, risoto e até estrogonofe russo no cotidiano, do que efó ou arroz de hauçá.  E se uma receita é um algoritmo criado com os ingredientes do entorno, alterar uma receita é como alterar o algoritmo, o poema, introduzindo ou retirando versos de sua criação original. Conheço estrangeiros que têm mais medo de uma “Moqueca Baiana” do que de um assaltante. Porque numa moqueca vendida na maioria dos restaurantes da cidade pode haver um coquetel  molotov feito com leite de coco e azeite de dendê pronto para explodir estômagos.

Já comentamos aqui que cantamos aquilo que somos e prezamos. Que o canto dos shows, dos discos e dos arquivos pode ser a evolução de orações sagradas de humanos que temiam os segredos de existir com mais força do que nós.  A baianidade conta a história de sua construção através da música. E o que é que nós estamos c(a)(o)ntando sobre nós agora?