Caian mostra que rock baiano está muito vivo

Música se inspirou em um romance que viveu para criar todas as canções do álbum Paixão e Outras Drogas

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  • Roberto Midlej

Publicado em 5 de fevereiro de 2022 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Patricia Almeida/divulgação

Quantas paixões mal resolvidas já inspiraram canções de rock? Mas o baiano Caian foi além: criou um álbum inteiro inspirado em um romance que durou três anos. O disco Paixão e Outras Drogas é puro rock'n'roll, com a participação de Otto, Jajá (da Vivendo do Ócio) e outros brothers. Inicialmente, o músico queria que predominassem canções que exaltassem o amor, aquela fase em que tudo é lindo. Mas aí o relacionamento foi mudando, as incompatibilidades surgiram... "O disco então se divide em duas partes: a primeira, composta durante o relacionamento, tem canções mais longas e mais alegres. Na segunda, que é pra mim é a parte mais madura, falo do luto, da ressaca, da terapia que fiz... Nessa parte, o texto está mais afiado", garante Caian.

As músicas, então, seguem praticamente uma ordem cronológica correspondente à história de amor que ele viveu, quase como um roteiro, praticamente uma autobiografia. E isso não é à toa, afinal, além de ter graduação em música na Ufba, Caian tem larga experiência com teatro. Produz e toca trilhas ao vivo. Esteve em montagens como Dissidente, de Gordo Neto, e Amor Barato, de Fábio Espírito Santo. "Eu sempre imaginei o disco sendo encenado no palco, com a possibilidade de virar um musical", revela o músico. Por isso, leitor, não ouça na ordem aleatória. A experiência de ouvir as canções na ordem original é fundamental pra entrar no clima.

Além dos altos e baixos daquela paixão, o álbum fala da passagem de Caian por uma clínica de reabilitação para dependentes químicos. A canção Rehab 2 é uma referência a Amy Winehouse, que gravou Rehab. "Na verdade, eu descobri que não queria perder aquela paixão, que era, pra mim, a droga mais pesada. Fui pra clínica, na verdade, pra me curar da paixão", deduz o compositor. 

Caian internou-se em São Paulo por iniciativa própria em 2018 e diz que a experiência foi importante. "Pude me ver mais, foi massa!". Rehab 2 - meio country, meio blues - foi composta na clínica mesmo e é dedicada a um amigo que conheceu lá, morto de overdose no ano passado. "A pandemia não foi fácil pra gente [dependente]. Não me sinto curado, porque não tem cura. Mas estou em tratamento". E ele diz curtir a sobriedade: "Baby, ficar sóbrio também tem seu êxtase", diz em Rehab 2, que tem letra em inglês.

Mas não é só na forma que o trabalho de Caian se destaca. É, principalmente, no conteúdo, que mostra que o rock'n'roll baiano está mais vivo que nunca. Para alcançar tamanha qualidade, o cantor contou com dois veteranos das noites baianas: Lefer, no baixo, e Mauricio Braga, na bateria. "Eles estavam no Cascadura quando eu ainda usava chupeta, no começo dos anos 1990. Tocam há trinta anos! Então, o disco tem muito a cara deles. O álbum leva meu nome, mas a sonoridade é de banda". Tem ainda Arthur Romio, na guitarra, e Rafael Fraga, na percussão, além do próprio Caian, que toca diversos instrumentos. Então, aumenta o volume e curte a potência de Caian!

Papos sobre os bastidores da música

O produtor musical Clemente Magalhães é o apresentador do podcast Corredor 5, em que recebe produtores, instrumentistas, cantores e outros profissionais de seu meio. um dos encontros mais interessantes foi com Michael Sullivan, que nos anos 1980 e 1990, junto com o parceiro Paulo Massadas, dominaram as rádios do país. Sullivan, que não tem sido muito requisitado para entrevistas, fala, entre outros assuntos, sobre o preconceito que sofreu por fazer uma música romântica popular, como Deslizes (Fagner), Amanhã Talvez (Joanna) e Talismã (Leandro e Leonardo). Em outra conversa, Henrique Portugal, tecladista do Skank, lembra da importância que o show no Hollywood Rock teve para a banda em 1994. "Aquele show mudou nossa carreira. Ali, era nossa chance. E agradecemos a Benjor, nosso padrinho musical, porque ele abriu mão de meia hora do tempo dele pra gente fazer a passagem de som", revela o instrumentista. Não deixe de ver também o papo com o empresário de música Manoel Poladian, que fala sobre o sucesso e o ocaso da RPM. Sérgio Britto também conta boas histórias sobre sua banda, os Titãs.

Alf na HBO Max

Esta é pra você, que, como este jornalista, gosta de entrar no túnel do tempo: Alf, o ETeimoso, uma das séries cômicas de maior sucesso dos anos 1980, está no streaming HBO Max. E, para a viagem ao passado ser completa, a dublagem é a mesma daquela época, com direito até àquela famosa chamada: "Versão brasileira: Herbert Richers". A voz que Orlando Drummond (1919-2021) dá ao engraçadíssimo e atrapalhado alienígena é um dos mais divertidos trabalhos de dublagem já vistos no Brasil. Drummond, que foi o Seu Peru da escolinha do Professor Raimundo, ficou marcado também por dar voz a Scooby-Doo e Gato Guerreiro (de He-Man).