Caíque diz que perdeu o foco, mas voltará: 'Sei que vou brilhar'

Após passar de titular a terceira opção em um mês, goleiro do Vitória abre o jogo em entrevista exclusiva

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  • Daniela Leone

Publicado em 23 de maio de 2018 às 05:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Maurícia da Matta/EC Vitória

A carreira de Caíque está apenas no começo, mas já sofreu os primeiros abalos. Revelado no Vitória, o goleiro de 20 anos ganhou a titularidade no dia 11 de abril, no primeiro jogo da quarta fase da Copa do Brasil, contra o Internacional, e a perdeu após a derrota por 3x0 contra o Sampaio Corrêa, dia 16 de maio, nas quartas de final da Copa do Nordeste. Na ocasião, ele falhou nos dois primeiros gols do adversário maranhense.

Em pouco mais de um mês, Caíque apresentou falhas graves e viu sua popularidade despencar com a torcida e com a comissão técnica. No domingo passado (20), não ficou sequer no banco de reservas contra o Ceará, e já sabe também que não jogará a partida de volta contra o Sampaio Corrêa, nessa quinta (24), às 19h, mesmo com o desfalque de Elias, que não está inscrito no torneio. Também prata da casa, Ronaldo será o titular.

O goleiro estreou como profissional no dia 13 março de 2016, e num Ba-Vi. Naquele dia, fez defesas importantes no triunfo por 2x0 no clássico disputado na Fonte Nova. Ao todo, defendeu o rubro-negro em 44 jogos e sofreu 60 gols. Nesta entrevista exclusiva ao CORREIO, ele fala sobre o que sentiu após perder o posto de titular e afirma que a indefinição em torno da renovação contratual prejudicou seu desempenho. 

O que provocou o atual momento conturbado na sua carreira? Vários fatores podem ter contribuído para essa fase ruim. Determinação com certeza não foi, pois sempre fui comprometido com o meu trabalho, nunca fui irresponsável com relação às minhas obrigações, mas claro que a questão contratual pode ter sido fator determinante pra essa situação que enfrento hoje.

A indefinição da renovação contratual te atrapalhou psicologicamente? Você se sentiu pressionado? De certa forma, sim. Existe toda uma construção, que, de certa forma, eu participo. Imaginamos que estamos bem e que saberemos separar as coisas, mas isso não significa que no plano real aconteça essa separação. Toda a indefinição contratual contribuiu para que eu perdesse o meu foco, que é jogar futebol, ajudar a minha equipe na busca pelos resultados positivos.

Está tudo certo com a renovação de contrato? Na semana passada, antes do jogo com o Sampaio Corrêa, já estava tudo definido. Já tínhamos acertado as bases financeiras do contrato. Eu poderia assinar um pré-contrato com qualquer equipe e o Vitória sabia disso. Existiam sim clubes interessados na formalização, mas optei pelo Vitória. Não queria sair pelo fim do contrato, deixando o clube a ver navios. Da minha parte está tudo certo desde antes das falhas, após fazer boa partida contra o Vasco.

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Você sentiu vontade de assinar com outro clube? De mudar de ares? Eu firmei um compromisso. Antes das falhas, ou seja, após ser melhor em campo, no jogo anterior, contra o Vasco, porque minha equipe me ajudou a conquistar isso individualmente, mas também eu ajudei minha equipe a conquistar três pontos. Eu me sinto frustrado pela atuação no jogo contra o Sampaio, mas tenho plena consciência da minha capacidade técnica para superar tudo isso. Tem sido assim na minha carreira e, mesmo diante de má fase, sei que vou brilhar e me consolidar como atleta profissional. A má fase passa. No nosso profissionalismo, às vezes chega fase boa, fase ruim, e a gente tem que saber lidar com essas situações.

Você tem evitado sair de casa por causa das críticas da torcida? Não. Quem é torcedor de verdade e trabalhador como eu sabe que estou sempre buscando o melhor. Sou goleiro e sujeito a acertos e erros. Você tem aí, recente, o goleiro do Bayern de Munique falhou contra o Real na Liga dos Campeões, o maior torneio do mundo junto com a Copa. Ele falhou, mas poderia ser o responsável pela classificação também. É levantar a cabeça e seguir com dignidade, sem temer qualquer possível indisposição com as torcidas organizadas.

Qual foi a falha que mais te incomodou? Sem dúvida a do jogo contra o Sampaio Corrêa. Me deixou muito sentido, me incomodou bastante.

A do primeiro gol? Sim. Frango contra o Sampaio Corrêa custou caro ao goleiro (Foto: Paulo Soares / O Estado) Como você soube que não seria relacionado para enfrentar o Ceará? E o que sentiu? Mancini me chamou e tivemos uma conversa. Eu sabia que isso poderia acontecer, mas preciso estar preparado para qualquer situação. Claro que ninguém quer sair do time por cometer falhas, por erros como os meus. Fico muito triste, mas estou refletindo sobre tudo isso e tenho certeza que terei nova oportunidade para reverter essa situação.

Você gostaria de ser titular no jogo de volta contra o Sampaio Corrêa ou acha que nesse momento é melhor ficar fora para as coisas acalmarem? Quem decide quando e quem joga é a comissão, mas se tivesse a oportunidade de jogar eu ficaria muito contente, porque teria a possibilidade de reverter os erros e buscar ajudar o time. Sei que é difícil acontecer, estarei torcendo pelo Ronaldo, que, se entrar, faça o melhor de si e ajude o Vitória a buscar a classificação. É um menino trabalhador, que sempre respeitou os momentos, esperou as oportunidades. Vou torcer muito por ele, para ele fazer uma boa partida. É um menino que merece muito.Você já viveu bons momentos com a camisa do Vitória. Por que dessa vez foi diferente? Quando não conseguimos manter nosso nível de concentração, perdemos nosso foco e o resultado pode ser desastroso. A gente tem que ter um nível de concentração sempre alto. Também não culpo nenhuma situação que possa ter acontecido. Eu sou responsável pelo meu desempenho nos jogos. Dizem "só tem 20 anos", mas é assim que a gente vai aprendendo. A gente tem que ser responsável pelos nossos atos e o que eu preciso é buscar um direcionamento para o meu trabalho, buscar com o dia a dia retomar o que eu sempre representei como atleta.Você acha que se tivesse ganhado a vaga de titular no começo do ano, no Campeonato Baiano, as coisas teriam sido diferentes? Não sei explicar se sim, mas o momento que eu comecei a jogar foi muito bom, início de Brasileiro. Porém o momento do time foi ruim, para todos nós em geral, em conjunto. Isso certamente interfere no desempenho em campo, mas claro que eu sou responsável direto pelo que está acontecendo comigo. 

Você estava pronto para assumir a posição de Fernando Miguel no momento conturbado em que o Vitória estava passando? Sim, tecnicamente eu estava pronto e estou pronto. Não entro em campo pensando em erros, em falhas. Trabalho o dia a dia esperando as oportunidades. Se tivesse feito um jogo bom como o do Vasco, isso não teria acontecido. Às vezes também, é um fato, eu carrego um pouco a fama do “novo Dida”. Estou pronto hoje porque reconheço os meus erros e sei que tenho capacidade para reverter essa situação.

Sua esposa está no oitavo mês de gestação. A paternidade está influenciando no seu desempenho em campo? Não. Filho vem para nos dar força, para aumentar mais a responsabilidade. É um sonho que eu tinha de ser pai. Esse momento é família, isso me ajuda. Eu sou novo, mas vou ser pai e estou casado com uma menina guerreira e trabalhadora, que está firme nesse momento difícil comigo. Quero ter o prazer de cuidar de meu filho e, sem dúvida, isso é um motivo de alegria.

Qual foi o maior aprendizado que você teve durante esse período conturbado? Fica o aprendizado de que precisamos evoluir a cada instante, a cada dia, e que tudo pode mudar da noite para o dia, do dia para a noite, de uma semana para outra. Fui herói um jogo antes, contra o Vasco, e hoje sou o culpado por deixar meu time nessa situação complicada para o jogo de quinta. Aprendo que será assim, então, esse é o momento de levantar a cabeça com humildade, reconhecer que preciso melhorar, buscar novamente a confiança da comissão técnica, da diretoria e, principalmente, buscar me preparar para, quando surgir nova oportunidade, estar preparado e ajudar o meu time.