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Miro Palma
Publicado em 23 de maio de 2018 às 05:00
- Atualizado há um ano
O processo de lapidação de pedras preciosas não é simples. Primeiro, porque elas são encontradas em seu aspecto bruto e, para distinguir seus potenciais, é preciso o olhar atento. Em seguida, é necessário dar forma e moer tudo aquilo que não presta e está atrapalhando as virtudes. E, por fim, o polimento, o cuidado em manter suas qualidades sempre presentes. Essa transformação lembra muito a de jogadores de futebol. Descobertos ainda sem a técnica necessária, eles são treinados e aprimorados ao longo da carreira para que seus potenciais sejam alcançados. E precisam de constante polimento para se manter em alto nível. O time que esquece de lapidar suas peças preciosas vai perdê-las.
Temos um exemplo disso bem próximo. O goleiro Caíque, do Vitória, estreou no time profissional em um Ba-Vi de 2016 e, depois de grandes defesas e um saldo final de 2x0 para o rubro-negro na Fonte Nova, se tornou uma joia do clube. Com o excelente desempenho, foi comparado a Dida, goleiro que também teve sua estreia no profissional em um Ba-Vi, e se tornou um dos maiores atletas do mundo na posição.
Daí em diante teve boas atuações, chegou à seleção sub-20 e acumulou muitas polêmicas. O temperamento impulsivo do jogador começou a mandar sinais de que o jovem de então 18 anos precisava de polimento. Foram inúmeras situações que deveriam ter ligado o sinal vermelho do clube como a provocação ao presidente do Bahia com uma máscara, discussão com torcedores na saída de campo, esquecimento de passaporte em viagem para se apresentar à seleção sub-20, discussão com uma equipe de TV depois de um empate da mesma seleção e o envolvimento na confusão no Ba-Vi de abril de 2017, que garantiu o rival na final da Copa do Nordeste.
E, então, veio a inconstância. Sucedendo bons jogos com más atuações, e depois retornos triunfais como aconteceu na segunda partida contra o Inter, pela Copa do Brasil, este ano. A má fase começou a se instaurar e seu nome passou a ser alvo de críticas pesadas, especialmente depois das falhas terríveis contra o Sampaio Corrêa pelas quartas do Nordestão. A joia perdeu o brilho, a forma e foi renegada a uma pedra no caminho do time.
É compreensível a raiva do torcedor depois do declínio no desempenho do jogador. E era esperado que ele voltasse ao banco, até mesmo para preservar a imagem do atleta e permitir uma recuperação. Mas, a condução feita pelo clube nessa transição do goleiro foi, no mínimo, negligente.
Deixou por conta dele a responsabilidade pela decaída na performance. Como se a pedra preciosa do dia para noite se tornasse sozinha um pedaço de tijolo. Como se a mão de quem lapida não fizesse a diferença na hora de trazer a virtude, o brilho. Sua escalação já foi descartada para os próximos jogos. “Caíque já teve o momento dele”, disse Mancini durante entrevista, em referência às escolhas de Elias e Ronaldo para assumir a camisa 1. Faltou tato. Não só dele como do Vitória em tratar esse momento publicamente.
Caíque é um jogador com grande potencial em sua posição. Ainda tem muito a oferecer ao Leão e ao esporte. No entanto, precisa de um bom lapidador. Alguém que consiga moldá-lo, que moa todas essas imperfeições que tanto o atrapalharam desde a sua estreia. E, nesse caso, meus caros, a responsabilidade maior pelo seu futuro está muito mais nas mãos do clube que o abriga do que nas luvas do goleiro.Miro Palma é subeditor do Esporte e escreve às quartas-feiras.