Candidatos consideram inesperado e difícil tema da redação do Enem

'Não estava preparado para este tema, mas deu para construir um texto legal', disse um estudante

Publicado em 5 de novembro de 2017 às 17:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Além de professores, o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano - Desafios para a Formação Educacional de Surdos no Brasil - surpreendeu também quem fez a prova neste domingo (5).

"O tema nos surpreendeu muito. Estávamos esperando coisas climáticas, a crise hídrica, algo de política - temas que são abordados diariamente nos jornais. Quem tem deficiência auditiva realmente precisa ter mais atenção nas escolas, em locais de trabalho, etc. Foi muito importante para o conhecimento da população", avaliou o estudante Leonardo Augusto, 22 anos. Ele e Evelin Teixeira, 21, fizeram a prova no Colégio Estadual Manoel Devoto, em Salvador. Além de usar os textos-base, a candidata baseu seu texto em experiências pessoais.

A estudante Maria Izabel Zacarias, 17 anos, considera que o primeiro dia de prova do Enem foi melhor do que no ano passado, mas considerou o tema da redação bem difícil. "Achei mais fácil do que a do ano passado, mas a redação foi difícil. É um tema que não estava presente no nosso cotidiano", disse.   

Ao contrário de muita gente, Thiago Hage fez a prova na capital baiana e gostou do tema da redação. Ele foi pelo lado da inclusão social. Ao CORREIO, Hage disse que a sociedade vê os surdos como deficientes, mas que "são pessoas iguais e que têm só uma certa limitação". "Eu falei, na minha redação, sobre igualdade, sobre inclusão social. Acho que me dei bem", contou. Ele não gostou do tempo de realização da prova. Segundo ele, a avaliação foi muito extensa e contou com muitos textos para ler, o que atrasou a produção dele. "As questões não eram objetivas", afirmou.  Thiago Hage é formado em Direito e vai tentar Medicina (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO) O estudante Denis Jarbas, de 21 anos, um dos primeiros a deixar na Universidade Nove de Julho (Uninove), em São Paulo,  considerou, no geral, as provas complicadas e o tema da redação surpreendente. “[Não estava preparado] para este tema não, mas deu para construir um texto legal com [a ajuda] dos textos-base”, disse ele a jornalistas. Para ele, que já tinha feito o Enem no ano passado, as provas deste ano foram mais difíceis. “Este ano foi mais difícil por causa da redação também”.

A estudante Luiza Araújo, 18 anos, que também fez as provas na Uninove, considerou o tema inesperado. “O tema do ano passado [sobre intolerância religiosa] foi mais fácil”, disse a jovem, que pretende cursar Farmácia.  “Você não vê pessoas com deficiência auditiva nas escolas normais”, disse ela, acrescentando que na escola onde estuda não convive com surdos.

Em Brasília, a candidata Camila Alves considerou díficil desenvolver a abordagem do tema. “Eu li e reli os textos-bases que eles dão, mas foi bem complicado. Todo mundo estava esperando temas mais de atualidades, e muita gente não estudou esse assunto”, disse a estudante, que quer tentar uma vaga em enfermagem.

O estudante Caio Thomaz também em Brasília considerou o tema inusitado, pois esperava um assunto mais ligado à política. “Eu usei bastante os textos motivadores que tinha, então não achei tão complicado”, disse, embora admita que abordou o tema de foma superficial.

Já a estudante Mariana Spaolonzi, de 18 anos, avaliou o tema da redação como tranquilo. “Não achei [o tema da redação] tão difícil. Esperava que fosse pior. Achei bem tranquilo”, disse ela, que fez o Enem na Uninove, em São Paulo.

Ela contou que um dos textos de apoio abordava a questão das pessoas com deficiência auditiva não conseguirem vaga no mercado de trabalho mesmo que tenham formação educacional adequada. "Era para a gente desenvolver uma solução para isso. Eu pensei [ao escrever sobre o tema] em uma empresa que fosse direcionada só para deficientes auditivos, daí teriam mais vagas. Acho que as empresas acabam usando a lei das cotas e pegam só o número mínimo de pessoas. Então, o resto acaba ficando sem emprego. Precisa ter mais inclusão”, disse.

O candidato Gustavo Santos Duarte, 18 anos, considerou a prova de língua portuguesa a mais difícil do dia. “A redação foi tranquila. Gostei da redação. O tema foi bem legal. Estudo em uma escola onde há alguns alunos surdos e consigo interagir um pouco com eles. Isso me deu vantagem para poder fazer a redação”, contou o aluno que pretende cursar fisioterapia.

* Colaborou Lucas Pordeus Leon, da Rádio Nacional de Brasília