Cantor mineiro brilha em álbum que inclui versão suave de Me Adora, de Pitty

Por Hagamenon Brito

Publicado em 1 de novembro de 2017 às 06:05

- Atualizado há um ano

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Mineiro radicado em São Paulo desde 2015, depois de viver oito anos no Rio de Janeiro, o cantor e compositor César Lacerda, 30 anos, se considera um “caetanista” em influência estética musical, incluindo a admiração por João Gilberto que ele traz naturalmente no seu canto doce, em afinidade com as  lições que o tropicalista aprendeu - e ampliou em repertório - com o mestre de Juazeiro.  O cantor e compositor César Lacerda, 30 anos, lança o álbum Tudo Tudo Tudo Tudo (Foto/Divulgação) Essa referência que alimenta a personalidade própria de César, bem como uma ambição artística de dialogar com o grande público para além do universo indie, é um dos muitos encantos do seu quarto e ótimo álbum, Tudo Tudo Tudo Tudo (YB Music/Circus), trabalho produzido por Elisio Freitas e dirigido artisticamente por Marcus Preto (Gal Costa, Mallu Magalhães).

“Eu e Marcus viemos elaborando a ideia desse disco desde 2015. Queríamos canções bonitas e com letras diretas. Compus 30 músicas pensando assim”, conta o artista, também um multi-instrumentista que toca violões de aço e de náilon, piano, flauta e glockenspiel (instrumento idiofone percussivo) no álbum. 

Oito músicas desse baú compõem o repertório de Tudu Tudo Tudo Tudo, mais uma feita em parceria com Romulo Fróes (com quem ele lançou o ótimo álbum O Meu Nome É Qualquer Um, em 2016) e a regravação de Me Adora, de Pitty.

O grande hit rock’n’roll da cantora baiana, de 2009, vira uma canção suave entre a bossa e “uma milonga de Jorge Drexler”, com a interpretação dando um novo sentido ao próprio modo da pronúncia da palavra  “foda”. Pitty, inclusive, escreveu para César Lacerda elogiando a versão. Diversificado, o álbum vai da balada (Por Que Você Mora Assim Tão Longe?) ao folk (Quando Alguém, com participação de Maria Gadú), passando pelo samba-canção (Percebi seus Olhos em Mim), soul funk (a homoerótica O Homem Nu), blues (Fim da Linha), pop country (Sei Lá, Mil Coisas) e o samba do  Recôncavo Baiano (O Marrom da sua Cor), tudo com elegância.

Nas letras, o afetivo César Lacerda move-se entre o pessoal  e o universal, de reflexões sobre os 30 anos à finitude que paira sobre tudo. “Vou te contar/ que tudo, um dia, vai passar/ essa falta de dinheiro, essa crise, esse governo/ esse grito preso de que tudo mais vá pro inferno/ o temor disso durar por muito tempo, ser eterno/ eu te digo: tudo acaba! tudo tudo tudo tudo/ah! isso também vai passar!/ essa canção/ isso também vai passar! nós dois”, canta em Isso Também Vai Passar.

Em um belo texto sobre o álbum, o escritor português Valter Hugo Mãe diz: “César Lacerda é um arma contra toda a atrocidade. Sua candura não é inocente, é sábia. Ele deita por sobre nós inteligência profunda: afeto e esperança”.  Verdade, pois. Veja o videoclipe de Me Adora

O escritor português Valter Hugo Mãe fala sobre César Lacerda

"Eu sei que sua realidade é toda difícil, cheia de batalha e adiamento, mas acredito de verdade que se um dia o Brasil dominar o mundo vai ser por beleza e doçura. Nenhuma outra cultura sabe depurar suavidade como a cultura brasileira. Esse “homem cordial” tem muito de mito, mas o mito é um destino social. Um futuro sempre acenando, como um diapasão procurando afinar corações, afinando gestos.

César Lacerda é uma arma contra toda a atrocidade. Sua candura não é inocente, é sábia. Ele deita por sobre nós inteligência profunda: afeto e esperança. Se soubermos isto, afeto e esperança, seremos cultos porque seremos gente. Eu disse que dava vontade de beijar o vidro do telefone, escutei o disco no telefone como se o César ligasse só para mim. E não tive como me segurar.

Este disco é intimidade para todos, para cada um. Lindo de pular de uma alegria calma, grata. Aos beijos no ar, para espalhar. Para beijar sem olhar a quem. Isso é o meu sonho de Brasil. Feito de tanta batalha e adiamento, a impressão que perdura é a de que há um afeto nos comovendo pelo ar. Desce sobre nós como chuva de boca e beijo" - Valter Hugo MãeBossa Revista e Ampliada Parente mais descontraído do clássico Chega de Saudade (1990), de Ruy Castro, o livro A Onda Que Se Ergueu no Mar (2001) ganha uma segunda edição revista e ampliada (Cia das Letras/392 págs./R$ 59,90). Agora, a volta - mais íntima e pessoal - do autor ao universo de Tom Jobim e João Gilberto vem com cinco textos-bônus. Um deles revelando os ásperos bastidores da gravação do álbum Getz/Gilberto (64), e outro sobre Wilson Simonal.  

UCI Orient Barra exibe filme-show do Pearl Jam erça (7/11), às 20h, 19 cinemas do Brasil exibirão o filme-show Pearl Jam Let’s Play Two, gravado no estádio do Chicago Cubs, em 2016. Liderado pelo grande vocalista Eddie Vedder, o Pearl Jam é um dos gigantes do rock. Em Salvador, a exibição será no UCI Orient Barra e os ingressos já estão à venda: R$ 40/R$ 20. Veja o trailer do filme.