Cantora nigeriana Okwei Odili faz ponte entre a Bahia e a Nigéria

Artista que vive na Bahia desde 2013 lança o álbum Òsùmàrè no dia 2 de março

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  • Roberto Midlej

Publicado em 25 de março de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Carolina Santana/divulgação

A cantora nigeriana Okwei Odili, 36 anos, veio à Bahia pela primeira vez em 2013, onde se instalou no Instituto Sacatar, na Ilha de Itaparica, para participar de um programa de residência artística e passou dois meses ali até voltar para seu país. 

Em 2016, tomou a decisão de retornar para o Brasil e morar em Salvador. Muitos fatores pesaram em favor da escolha pela capital baiana e a música, claro, era um deles. Mas nada talvez tenha sido tão decisivo quanto a possibilidade de fazer comidas que ajudassem a matar as saudades de sua terra natal.

“Aqui, compro os ingredientes que preciso e faço as comidas em casa. Consigo facilmente aipim, inhame, dendê, camarão seco, amendoim... não encontro tudo, mas pelo menos consigo fazer inveja nas amigas que estão na Europa”, diz com bom humor e ainda com um forte sotaque.

Mas nada que lhe impeça de cantar em português, como na música A Lua, um samba com um pouquinho de bossa, que está no novo álbum dela,  Òsùmàrè. O lançamento, que chega às plataformas no próximo dia 2, foi gravado em Salvador, num estúdio em Brotas, com a banda Aweto, parceira de Okwei desde que ela chegou ao Brasil. “Escolhi a Bahia também por causa dos músicos daqui. Às vezes, me perguntam por que não escolhi São Paulo. É que a Bahia tem uma música muito forte, seja em Salvador, Santo Amaro ou Cachoeira”.

Okwei é a autora das canções do álbum, todas em inglês, com exceção de A Lua. “Sei que este não é um momento para 'graça', mas a gente precisa dançar e relaxar. O disco tem um pouco de tudo e falamos de amor, de natureza...”. Ela reconhece que política e racismo são temas importantes e, embora não estejam explicitamente no álbum, aparecem nas entrelinhas de algumas canções. “Falamos de amor e só o amor pode derrotar o ódio”, diz a compositora.

Brasil A música brasileira está presente de várias maneiras em Òsùmàrè: tem maracatu, baião, ijexá, bossa, samba... Isso pode dar a falsa impressão de que falta “personalidade” ao álbum, que seria apenas uma salada de ritmos. Mas não é isso que ocorre, porque Okwei consegue imprimir sua identidade e fazer uma ponte entre Brasil e Nigéria.

Por isso, o álbum reúne músicos daqui e de lá. Uma das nigerianas presentes é a rapper Blaise, uma pioneira do ritmo em seu país. Ela está com Okwei na música Show Me Your Color. O pianista nigeriano Funsho Ogundipe  está em Chop Your Moni Go, que tem um tom mais dançante e marca a fusão da Bahia com a Nigéria. 

Os artistas baianos também estão presentes. Além da banda Aweto, está João Teoria, do grupo Skanibais, que faz uma participação especial na música Soweto. A canção é uma homenagem ao bairro homônimo, em Joanesburgo - capital da África do Sul -, criado pelo governo do apartheid em 1963 para confinar a população negra.  Em Tinini Tanana, Okwei faz uma poderosa homenagem ao ativista sul-africano Steve Biko, fundador do Movimento da Consciência Negra. 

A cantora diz que logo que chegou à Bahia, ficou impressionada com o samba-reggae. Ela diz que o ritmo difundido pelo músico Neguinho do Samba (1955-2009) é uma marca original da Bahia e embora, haja algumas coisas parecidas na África, trata-se de um ritmo genuinamente baiano. 

Okwei deseja estender e consolidar esse intercâmbio cultural entre os dois países e já deu um passo importante para isso: hoje, realizou o sonho de morar na Nigéria e no Brasil, alternando uma temporada lá com outra aqui.