Cantora paraense Aíla denuncia assédio, racismo e outros temas em show

Artista estreia a turnê Em Cada Verso Um Contra-Ataque, quinta-feira (24), em Salvador

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  • Laura Fernades

Publicado em 22 de agosto de 2017 às 06:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Andrade/Divulgação

Sem o menor pudor, a cantora paraense Aíla, 28 anos, denuncia o racismo, a homofobia, a intolerância e o assédio. “Peguei o metrô na Sé semana passada/Mana, lhe disse que não foi do nada/Que o otário me alisou/Me dê licença/Minha carne não está à venda/E meu corpo não é sua merenda/Me faça o favor!”, diz a música #Nãovoucalar, uma das que fazem parte do show que Aíla apresenta quinta-feira (24), às 21h, no Commons Studio Bar.

“O que me move é fazer essas microrevoluções através da minha arte”, justifica a cantora sobre o tom crítico e político do seu segundo álbum, Em Cada Verso Um Contra-Ataque (Natura Musical), que dá nome à turnê que tem patrocínio da Vivo.  O show, que chega em Salvador pela primeira vez, conta com participação dos cantores baianos Lucas Santtana, também produtor do álbum, e Josyara, que faz a abertura da noite.

No repertório, não faltam canções autorais que ilustram o “artivismo” de Aíla. Um exemplo é a música Lesbigay, parceria com a cantora Dona Onete, uma das mais respeitadas do Pará, que fala sobre um lugar “onde o amor não tem cor, nem nome, nem pressa”. Ou na música Melanina, composição inédita de Chico César que defende: “Você precisa urgentemente amor/De um amiguinho de cor/E concordar com ele/E acordar com ele/Com cor dá! Com cor dá!”.

Como uma espécie de resumo do que o público pode esperar do trabalho, a música Clã da Pá Virada manda seu recado: “Então eu canto, canto, canto/Mas não se engane/Em cada verso há um contra-ataque”. Ao CORREIO, Aíla explica que a ideia era fazer um disco mais politizado que o anterior Trelelê (2012). “O artista não pode ser neutro, ele precisa se posicionar, abrir esses espaços de diálogo com o público, fomentar mesmo a discussão”, defende.

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Discurso Predominantemente pop, com flertes pelo rock e pelo eletrônico, Em Cada Verso Um Contra-Ataque também conta com participação do guitarrista Manoel Cordeiro, pai de Felipe Cordeiro. Além das parcerias já citadas, o álbum reúne canções do pernambucano Siba, do mineiro César Lacerda e outras compostas com a artista visual Roberta Carvalho, namorada de Aíla.

“Aíla tem essa vontade de experimentar, de falar, de trazer um discurso. Ela veio de uma favela de Belém, é lésbica, fala de coisas que fazem parte da vida dela e traz esse discurso no som. Aíla tem essa coragem de experimentar, de estar aberta para ouvir e acessar um outro tipo de som”, elogia Lucas Santtana, 46 anos, sobre a cantora nascida no bairro Terra Firme, periferia de Belém, e radicada em São Paulo. O cantor baiano Lucas Santtana assina a produção musical do disco de Aíla e participa do show (Loiro Cunha/Divulgação) Lucas explica que porque Aíla está falando de coisas “que são caras” à sociedade, o som “tinha que ter uma pressão”. Assim, o pop escolhido estrategicamente para alcançar um número maior de pessoas, ganha o peso de uma atmosfera punk rock, com guitarra, baixo e bateria. “A intenção desse disco era ser pop, mesmo, chiclete, porque isso faz com que eu chegue ao público que talvez não ouviria uma música política mais engessada”, revela Aíla.

Questionada se teme retaliação por seu claro posicionamento político, Aíla reforça que “arte é isso: artivismo, falar sobre gênero, feminismo, racismo, questões sociais”. “De vez em quando me deparo com críticas e respondo. Acho importante não esconder as críticas e tentar mudar o pensamento das pessoas que na maioria das vezes são preconceituosas... Mas é isso que me fortalece, na verdade. Poder dialogar com gente que pensa diferente de mim”, finaliza.