Cãoterapia auxilia no tratamento de pacientes com câncer

Hospital Santa Izabel implantou o programa Cão Amigo, que insere o animal nas sessões

  • D
  • Do Estúdio

Publicado em 27 de agosto de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos/divulgação

Quinzenalmente, as crianças estão internadas na ala oncológica do Hospital Santa Izabel esquecem, por um momento, que estão dentro de um ambiente hospitalar. A luta do tratamento contra o câncer abre espaço para momentos de descontração e muita diversão. É só o ‘doutor’ entrar no ambiente que os sorrisos brotam e trazem leveza para o local. Mas não é qualquer doutor não. Esse tem quatro patas, abusa da simpatia e faz a alegria da criançada. Trata-se do labrador Angus, que faz parte do programa Cão Amigo, iniciativa que insere o cachorro nas sessões de terapia e atividade com os pacientes do hospital.

“Ele é incentivador. Faz com que descaracterize as intervenções padrões. Fica mais lúdico, prazeroso e divertido. Com isso conseguimos um interesse maior do paciente para participar das terapias e atividades”, explica a psicóloga Tatiane Seixas, coordenadora do GNAP – Psicologia, empresa de saúde domiciliar que é responsável por Angus e presta serviços ao hospital Santa Izabel. Presença do cão ajuda a descaracterizar as intervenções padrões Entre as crianças que estão experimentando a ‘cãoterapia’, está Ysabela Duarte, quatro anos, que luta contra a leucemia, tipo de câncer que atinge o sangue. Diagnosticada em setembro do ano passado, começou o tratamento no Santa Izabel em outubro. Nos primeiros internamentos, era um sofrimento só. “Ela chorava, não queria ir de jeito nenhum. Eu não dormia a noite inteira já sabendo do fuzuê que seria para internar”, conta a mãe Jaciara dos Santos.

Jaciara mora com a filha em Ibicaraí, cerca de 477km de Salvador. Em dezembro do ano passado, Ysabela passou a contar os quilômetros para chegar logo ao Santa Izabel. Tudo por conta de Angus. “Quando falava em internar, era a alegria dela. Ela sabia que ele estaria lá a cada quinze dias. Ela até pede para ser internada só para ver o cão”, completa Jaciara.

A mãe agradece o suporte de Angus e sabe que o cachorro faz um bem danado ao tratamento da filha. “Faz com que a gente esqueça que um hospital é só para a gente doente. Ela pega, brinca com ele, dá comida na boca dele. Penteia ele. É uma festa”, diz Jaciara, que deixou o hospital ontem com a filha. Os últimos exames deram negativo e Ysabela entrou na fase de manutenção. Alegria estampada no rosto da mãe. Já a filha deixou Salvador em lágrimas, mas não pela doença e sim por não ver mais Angus. “Ontem ela veio chorando porque não queria sair de lá e fica me perguntando que dia vamos voltar para Salvador”, ressalta Jaciara. Longe de Angus, Ysabela não ficará sem um amigo de quatro patas, já que em casa a família convive com o vira lata Max.  

Tratamento eficaz Ysabela recebeu alta hospitalar e se despediu do amigo  O oncopediatra Bruno Freire acredita na ‘cãoterapia’ para o auxílio no tratamento oncológico, principalmente entre crianças, modificando o ambiente hospitalar e o deixando mais leve. “Quando chega ao diagnóstico, a criança é tirada do seu ambiente e entra numa nova rotina. Aí vem o início de um tratamento prolongado, de meses, até anos. E isso modifica a rotina do paciente com a família, afasta dos amigos, do ambiente escolar. E criança é apaixonada por animais. O cão ajuda na aceitação do tratamento e torna a vinda ao hospital prazerosa. É mais um fato para ajudar na adaptação a essa nova rotina, com quimioterapia, exames e internamento”, explica o médico."O cão ajuda na aceitação do tratamento e torna a vinda ao hospital prazerosa. É mais um fato para ajudar na adaptação a essa nova rotina, com quimioterapia, exames e internamento" Bruno Freire, oncopediatraOs pacientes oncológicos podem apresentar baixa imunidade e, com isso, estarem propensos a contrair outras doenças. Por conta disso, algumas pessoas costumam afastar os animais completamente da criança com câncer. O oncologista explica que não precisa se afastar de forma radical dos animais por conta do diagnóstico, desde que se tome todas as precauções. 

“Essa interação com o cão, no caso Angus, que é dócil e passa por todo um processo higiênico rigoroso, só será possível a depender da fase do tratamento. Se o paciente estiver com células de defesa muito baixa, existe o risco do processo infeccioso. Nessa fase, por exemplo, o paciente pode fazer processo infeccioso com a própria flora do indivíduo. Mas caso o paciente esteja com a sua defesa adequada, não há contraindicação. Enfim, a criança pode ter contato sem risco a depender da fase do tratamento e da imunidade”, completa.

Trabalho duro Angus não está ali apenas para interagir com as crianças de forma aleatória. O trabalho é sério. Uma semana na ala pediátrica e na outra com os adultos. O cachorro funciona como um instrumento a mais da terapia, como explica Tatiane Seixas. “São as mesmas atividades que são feitas em uma sessão convencional. Terapia mesmo. Se for um treino de marcha, por exemplo, o paciente é acompanhado pelo fisioterapeuta e pelo cachorro. Ou levando a guia do cachorro. O cachorro anda e ele anda atrás. Depende da atividade de cada um”, revela. O cachorro funciona como um instrumento a mais da terapia Entre as crianças, Angus é uma espécie de socializador. Ele é aquele amigo da turma que faz a bagunça e chama todo mundo para brincar. Funciona bem. Após a terapia com Angus, a ala pediátrica ganha um novo clima com todos interagindo entre si. “Pacientes oncológicos tendem a serem introspectivos por conta do tratamento e limitações físicas. Quando vamos com Angus, eles saem dos seus leitos, brincam com ele. Nesse momento, ela interage com Angus e com outras crianças, conversam uns com os outros sobre o cachorro. Os pais passam a interagir entre eles também”, ressalta Tatiane, que outro dia se emocionou com o relato de uma paciente de cinco anos. “Ela começou a falar com Angus: cachorrinho, você sabia que estou há três meses sem sair do quarto? Só sai para te ver”.

Tatiane é mais do que chefe de Angus, ela é técnica e mãe também, já que ele mora com ela. O trabalho de Angus não se limita apenas às visitas no Hospital. Ele passa por treinamentos diários para desempenhar bem às suas atividades. “É igual a criar filho, não para nunca. Fazemos treinos específicos de acordo com a atividade que ele vai fazer”, explica. Todo trabalhador merece uma folga e Angus hoje está descansando. E tem mais um motivo ainda para relaxar, afinal no dia 24 de agosto ele completou quatro anos. Vida longa a Angus.

Oferecimento:

O Estúdio Correio produz conteúdo sob medida para marcas, em diferentes plataformas.

Assinantura Estudio Correio
O Estúdio Correio produz conteúdo sob medida para marcas, em diferentes plataformas.