Carnaval combina com namoro sério?

Confira dicas para curtir a folia numa boa com ou sem sua cara-metade

  • Foto do(a) author(a) Laura Fernades
  • Laura Fernades

Publicado em 17 de fevereiro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .
.

A economista Beth Sá, 44 anos, conheceu o marido no meio do Carnaval. O detalhe é que ele ficou com ela o bloco inteiro achando que se tratava de outra paquera. “Meu marido era o mais galinha de Salvador”, confessa Beth, aos risos. Contrariando o mito de que a festa profana é só para quem está solteiro, a economista e foliã de carteirinha curte o Carnaval com sua cara-metade há mais de 20 anos e não abre mão.

Afinal, quem disse que Carnaval não combina com relacionamento sério? A última pesquisa feita pelo site de relacionamentos Par Perfeito mostra, por exemplo, que 51% das mulheres e 66% dos homens entrevistados não terminariam o namoro por conta da chegada da festa. Tem gente que até casa no meio do Carnaval e a gente já vai contar essa história.

Não foi o caso de Beth, que precisou ter jogo de cintura com o engenheiro eletricista Samuel Rodrigues, 67 anos, até de fato casar. O destino uniu os dois no extinto bloco Pinel, depois de Beth ganhar o abadá de um amigo. Logo depois, o mesmo destino deu outra ajuda, afinal o casal não trocou telefone - Samuel achava que já conhecia a paquera - e acabou se reencontrando por acaso no dia seguinte. Foi aí que Beth ganhou um cartão dele. Beth Sá e Samuel Rodrigues no bloco Camaleão, onde saíram por 15 anos (Foto: Acervo pessoal/Divulgação) Depois do Carnaval, os dois começaram a sair e engataram um namoro que fugia do padrão. “No primeiro ano, ele tinha ‘n’ mulheres. Mas eu não ficava atrás, não, viu? Ele não queria me assumir, então durante um ano namorei ele e outro. Até que eu disse: ‘Só largo o outro quando você for morar comigo’. Deu certo e há 19 anos eu estou exclusiva dele”, ri Beth, sem pudor de contar sua história.

Em pouco tempo, os dois ficaram conhecidos como “o casal do Camaleão”, por causa do bloco onde saíram juntos durante 15 anos ininterruptos. “Até hoje, tem pessoas que reconhecem a gente. O segurança, o menino do gelo... Eu sempre digo: ‘Isso é amor de Carnaval’”, resume Beth, orgulhosa. Como casou nova, com 24 anos, a economista conta que “queria curtir a vida” e, por isso, ia para todas as folias e micaretas com o marido.

“Aí fiz 32 anos e disse ‘não, agora é hora de ter filho’. Oxe, mesmo depois do filho deixava ele com a babá e ia curtir”, gargalha. “Eu acho que Samuel é minha alma gêmea, porque eu moro e trabalho com essa criatura, convivo 24 horas. Faço questão de sair no Carnaval com ele. Sem ele, não tem graça”, sorri. Hoje com 67 e 44 anos, Samuel e Beth seguem na folia (Foto: Acervo pessoal/Divulgação) Regras O que, afinal, faz um relacionamento sobreviver aos mitos do Carnaval? Simples: quando um casal precisa enfrentar um período de festas como o de agora, é importante conversar com o (a) parceiro (a) para entender o que um espera do outro. Quem dá a dica é a psicóloga Paula Gular, 36 anos, que há dez anos vê em seu consultório a recorrência de temas como a liberdade no relacionamento e a dificuldade de lidar com o outro em situações onde há divergência de interesses.

“É preciso conversar para entender o que se espera do outro. Estamos em um relacionamento monogâmico? Em um relacionamento aberto? Quais são as regras?”, explica Paula. A psicanalista acrescenta que a falta de diálogo é sintoma de dificuldades que já existem.“Se o casal já tem conflito, é provável que vá aparecer no período de festa. Não é o Carnaval que acaba o relacionamento, mas revela coisas que já estavam acontecendo e não eram ditas”, completa.Além de ter projetos e programas de lazer em comum, um casal se mantém vivo a partir do momento em que os envolvidos entendem a necessidade de suportar aquilo que é diferente no outro, explica a psicóloga, “coisas que não fazem parte de seu gosto pessoal”. “Se não tenho vontade de ir no Carnaval e meu marido quer ir, eu vou ficar em casa e gerenciar o meu ciúme, a minha ansiedade”, exemplifica.

Por isso, a confiança é fundamental. Outra dica citada por Paula é entrar em um acordo onde todos possam ter o que desejam e não se sintam obrigados a fazer o que não querem. “Se você fica de cara amarrada, isso também é desagradável. O que é o relacionamento? Compartilhar vivências, experiências”, resume a psicóloga.

Casamento Apesar de muitas pessoas encararem o Verão como um “momento de pegação e paquera”, como lembra Paula, ou irem para o Carnaval com o intuito “de beijar todo mundo, como se fosse algo apenas carnal”, acrescenta Beth, é também nessa época do ano que o amor se consolida. Pelo menos foi o que aconteceu com a produtora Larissa Novais, 26, e o designer de produto Christian Dagnoni, 26, que se casaram no meio do Carnaval do Rio de Janeiro.

“Carnaval combina com tudo! É muito mais do que profano, ele é um espaço de troca, de ocupação do espaço público, de resistência. Para mim, o Carnaval de rua é um momento real de amor e respeito”, defende Larissa, que é baiana e mora no Rio. Ela e Christian celebraram sua união no meio do bloco de rua Charanga Talismã, onde já tinham assumido um relacionamento aberto.

“No meio da folia, em 2018, eu olhei pro meu atual parceiro e percebi que era com ele que eu queria estar”, lembra Larissa. Pernalta, o casal que se conheceu enquanto praticava a perna de pau em uma praça, foi abençoado com poesia por um músico que incorporou o papel de padre, e depois seguiu em cortejo pela cidade.

[[galeria]]

‘Piranhar’ Até hoje, o relacionamento de Larissa e Christian se mantém firme porque é “gerenciado na base da conversa”. “Tem dias que queremos sair só eu e ele, fechadinho. No outro dia, a gente quer piranhar. Nosso relacionamento é à base de diálogo, sinceridade e confiança. A gente confia que quando quiser paquerar, a gente vai falar, então também confia quando fala que estamos só nos dois ali”, explica Larissa.

Todos os relacionamentos, para a produtora, precisam de acordos, conversa, confiança e cabe a cada um entender o que funciona para a relação. “Se um relacionamento termina durante o Carnaval, acredito que é pela falta de diálogo”, acredita Larissa.

O Carnaval pode ser, sim, um momento de terminar um relacionamento e “pegar geral”, pontua o coach de desenvolvimento humano e administrador André Nery. “Mas quantos relacionamentos não nascem no Carnaval? Quantos casamentos? Então, não dá para rotular”, pondera Nery, que é presidente da Una Coaching e observa a recorrência do tema em seu trabalho.

Para Nery, a nova geração vive a Era da experiência e também está aberta a um casamento, mas só se fizer sentido. “Esse casamento não precisa ser quadrado”, reforça. “A gente conhece sempre alguém que terminou um relacionamento por causa do Carnaval, mas do ponto de vista geral, as pessoas têm a necessidade de estabelecer relações, conexões, algo mais profundo”, acredita.

Mitos do Carnaval * Para curtir o Carnaval, o relacionamento tem que acabar * Não dá para o casal sair separado, pois vai haver traição * Não existe amor no Carnaval: é só pegação * Não é possível encontrar uma pessoa legal na folia para um relacionamento sério

Dicas para o casal curtir a folia

1. Faça um acordo onde todos possam ter o que desejam e não se sintam obrigados a fazer algo que não queiram. Ir para a festa e ficar de cara amarrada é desagradável. Relacionamento significa compartilhar experiências.

2. Planeje a folia com antecedência, para não ter surpresas. Por exemplo: combinar que o casal vai ficar em casa e de repente descobrir que o (a) parceiro (a) comprou o bloco para curtir com um (a) amigo (a).

3. Não proíba sua cara-metade de fazer nada, porque isso cria um desejo oculto no outro e aí a pessoa pode sentir a necessidade de realizar sua vontade escondida de você.

4. Vai curtir separado? Confiança é fundamental. No Carnaval, existe uma aglomeração de pessoas no clima da paquera, mas se o acordo é ser fiel ao outro, exercitar a confiança é importante para a parceria dos dois.

5. Esteja preparado (a) para levar na brincadeira se sua cara-metade for paquerada por outra pessoa. Não dá para levar tudo na ponta da faca. Saia mais relaxado (a) e tente fugir de confusão.

O CORREIO Folia tem o patrocínio do Hapvida, Sotero Ambiental, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio do Salvador Bahia Airport e Claro.