Carrasco em 1990, Maradona foi o mais brasileiro dos argentinos

Craque viveu amor e ódio com Pelé, mas teve amizade com Careca e Rivellino como ídolo

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  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 25 de novembro de 2020 às 21:04

- Atualizado há um ano

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Habilidade, personalidade forte, títulos e glórias. A história de Diego Armando teve início no bairro pobre de Villa Fiorito, em Lomas de Zamora, na grande Buenos Aires, mas poderia muito bem ter como plano de fundo uma das várias favelas brasileiras.

Da infância pobre ao estrelato, é possível dizer que um dos maiores jogadores de todos os tempos é também o mais brasileiro entre os argentinos. Essa ligação entre o branco e azul com a canarinho foi provada dentro e fora de campo.

Quando ainda era chamado de Pelusa por conta da vasta cabeleira bagunçada, o menino que encantava a todos pela extrema habilidade se inspirava em um craque brasileiro: Rivellino.

O 'Patada Atômica' ganhou o imaginário de Dieguito durante a Copa do Mundo de 1970. A Argentina não participou daquele Mundial e Rivellino foi um dos responsáveis pelo tri brasileiro no México. O reconhecimento foi tamanho que Riva chegou a ganhar elogios na biografia de Maradona.

"Foi um dos maiores de todos os tempos, e quando eu digo isso as pessoas ficam surpresas. Não sei o porquê. Era a elegância e a rebeldia em pessoa para entrar em um campo de futebol. As coisas que me contam de Rivellino são incríveis. Ele também se rebelava contra os poderosos", diz trecho do livre ‘Yo soy Diego de la gente’.

Já com a carreira consolidada, outro brasileiro apareceu no caminho de craque. Foi com Careca, na Napoli, que Maradona formou uma das melhores duplas de ataque durante a sua passagem pelo futebol. O próprio Diego chegou a eleger o jogador brasileiro como o melhor parceiro que teve.

A amizade entre os dois extrapolou o campo. O lado brasileiro do argentino foi demostrando também no Carnaval. O destino preferido era o Rio de Janeiro, mas em 1998 ele apareceu de surpresa em Santos. Desfilou no trio elétrico e causou confusão entre os fãs ao deixar a cidade. Em 2006, Maradona foi uma das atrações em camarote no Carnaval do Rio de Janeiro (Foto: Reprodução) Em 2006, Maradona voltou a ser destaque no Carnaval do Rio de Janeiro. Estrela de um dos camarotes, ele não economizou na farra. Até mesmo o nosso churrasco chegou a ser elogiado pelo craque. O que já seria motivo para uma outra guerra entre brasileiros e argentinos.  

Careca conta que Maradona fazia planos para que eles pudessem jogar juntos no Brasil. O Santos seria o time escolhido. Aliás, a 10 que foi de Pelé quase teve Maradona como dono. E aí entra um outro personagem.

Pelé ou Maradona? A genialidade de Maradona com a bola nos pés sempre provocou a discussão. Quem foi melhor, Pelé ou Maradona? Sempre ácido, o craque argentino viveu momentos de amor e ódio com o rei.

"Se Pelé é o Beethoven, eu sou Keith Richards (fundador do The Rolling Stones), Ron Wood (ex-integrante do The Faces e atualmente no The Rolling Stones) e Bono Vox (cantor do U2) do futebol. Todos juntos, porque represento a paixão pelo esporte. Em um estádio, ninguém jamais ouviria músicas de Beethoven”. Foi assim que em 2012 Maradona respondeu após Pelé se comparar ao compositor alemão.

Apesar das muitas farpas trocadas, os dois nutriam carinho um pelo outro. Em 1995, Pelé tentou levar o argentino para o Santos. Na época ele estava com 34 anos e cumpria suspensão por doping. As negociações não avançaram.  Já em 2005, o rei foi o primeiro convidado no programa de televisão comandado por Maradona.

O último encontro dos dois aconteceu em 2016. Em uma festa, eles selaram a paz. Após saber da morte de Diego, Pelé lamentou nas redes sociais. "Que notícia triste. Eu perdi um grande amigo e o mundo perdeu uma lenda. Ainda há muito a ser dito, mas por agora, que Deus dê força para os familiares. Um dia, eu espero que possamos jogar bola juntos no céu”, escreveu. Em foto antiga, um jovem Maradona aparece vestido com a camisa da Seleção Brasileira (Foto: Reprodução) Carrasco admirador Em campo, Maradona não teve vida fácil contra os brasileiros. Em seis confrontos com a Seleção, ele somou dois empates, três derrotas e uma apenas vitória. Mas esse triunfo solitário talvez seja a lembrança mais marcante e dolorosa que os brasileiros têm do argentino

 Nas oitavas de final da Copa do Mundo de 1990, foi dele o passe para Caniggia fazer 1x0 e encerrar o sonho do Brasil no Mundial. Ao final daquele jogo, Maradona comemorou vestido com a camisa do Brasil. O uniforme havia sido trocado com o amigo Careca.

Usar a camisa do Brasil, no entanto, não era uma novidade para o maior ídolo argentino. Em 1979, durante o Mundial sub-20, no Japão, ele também vestiu a camiseta amarela. Uma outra imagem de um Maradona jovem usando o uniforme brasileiro circula na internet e comprova que o maior craque argentino também era admirador do nosso futebol.