Carros andam na contramão e em cima da calçada para fugir de protesto no Iguatemi

Viaturas da Transalvador desviam o tráfego e vão isolar áreas e fiscalizar bloqueios irregulares de vias

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  • Da Redação

Publicado em 11 de abril de 2018 às 00:00

- Atualizado há um ano

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Uma manifestação que acontece na tarde desta quarta-feira (11), contra a prisão do ex-presidente Lula, deixa o trânsito completamente travado na região do Iguatemi. Quem trafega na área não consegue seguir no sentido Paralela. Já quem vai em direção ao Rio Vermelho só consegue trafegar se for pela via marginal da ACM.  O CORREIO flagrou veículos na contramão e outros trafegando em cima do passeio da calçada do Shopping da Bahia, para escapar do trânsito. Carros circulam em cima do passeio do Shopping da Bahia (Foto: Carol Aquino) Para fugir do bloqueio da manifestação, carros seguem na contramão (Foto: Carol Aquino) A Transalvador bloqueou os principais acessos à Avenida ACM (veja a lista abaixo). Desde cerca de 15h30, o trânsito  está  sendo desviado na altura  do  MC Donalds. Só  é  possível  passar pela via marginal  da avenida. Motoristas  que estavam na região do Iguatemi, na tentativa  de fugir do congestionamento,  retornavam pela contramão, subiam os canteiros  nas proximidades  do Burger King e até mesmo faziam o retorno  pela calçada  do  Shopping da Bahia,  com apoio da Polícia  Militar.  

Foi essa a orientação recebida pelo motorista de caminhão Carlos Henrique  Silveira. Ele estava  há cerca de 30 minutos parado em frente ao centro comercial e tinha acabado de voltar de uma consulta médica.  “Vim do médico agora e não  tenho como tomar  meus remédios, pois eles tiraram meu direito de ir e vir”, reclamava o motorista, que viu o trânsito ser fechado após a passagem de poucos carros que seguiam na frente do  seu. Poucos minutos depois, um policial  militar o orientou a fazer o retorno pela contramão.  

Teve gente que mesmo parado no trânsito, apoiou o movimento. O cobrador Uelton de Lacerda, 32, estava dentro do ônibus  que faz a linha Pituba -Cajazeiras  XI. “Eu só  não  estou lá  no meio porque estou no meu horário de trabalho”, disse. Para ele, as pessoas só reclamam que estão paradas, mas não  procuram saber das causas  do protesto. “Depois, quando as consequências chegam, ficam aí chorando”, disse

No mesmo ônibus, a operadora de telemarketing Iasmin Góes de Santana, 24, tentava acalmar o filho Levi, de 4 anos. Inquieta, a criança tinha sido levada pela mãe ao Hospital Teresa de Liseux, também na Avenida ACM, por causa de uma dor de ouvido. "Já estou aqui há uns 40 minutos e vou esperar um pouco mais para ver se a manifestação acaba. Não tenho outra opção. Vou para Cajazeiras XI. Acho a causa da manifestação até justa, mas acaba que atrapalha todo mundo", disse a mulher. 

No alto  de um  minitrio elétrico, as lideranças  da manifestação  convidaram os  manifestantes presentes a deixar  uma palavra de apoio. A cantora Márcia Short foi uma das que se pronunciaram.  “Temos que ocupar os espaços e pedir a libertação  do nosso presidente indiretamente.  Ele foi o cara que mudou a vida do nosso preto, do nosso povo pobre. Ele fez escola, investiu na educação.  Lula Livre”’, disse a cantora, repetindo o grito dos manifestantes, que também tocavam em caixas de som os jingles das campanhas de Lula à presidência  

Embora a maioria dos participantes estivessem com roupas do MST, Cut ou outros movimentos  sindicais, algumas pessoas vieram do trabalho para participar. “Eu cheguei  pouco depois que começou porque tava no trabalho, na Cidade Baixa. Lula vale toda a luta. Eu vi que ele é inocente e isso tudo é uma perseguição  política. Os outros candidatos sabem que não estão  à altura  dele e estão  tentando  impedí-lo”, disse a operadora de telemarketing Iasmim Lopes, 19.

Em um certo momento os manifestantes chegaram a reclamar da Transalvador, que teria "esvaziado a manifestação" com os desvios no trânsito. Eles chegaram a anunciar que iam liberar duas faixas que vinham do Corpo de Bombeiros no sentido Tancredo Neves para dar maior visibilidade à causa, mas acabaram desistindo. Pelas vias interditadas, só ambulâncias recebiam permissão para passar. 

Transtorno O transtorno  maior ficou  por conta de quem anda de ônibus na capital. Com  a ACM  interditada e passagem  liberada apenas para ambulâncias,  muita gente teve mesmo que ir a pé. Apressada,  a estudante de Psicologia  Veronica Afonso, 31, tentava chegar até  o CAB (Centro Administrativo da Bahia). Ela tentava  chegar até o metrô vinda do Simm.

"Tenho que entregar um documento no CAB até  segunda, senão  perco meu estágio. Por causa da manifestação  parece  que o setor que eu vou vai fechar. Vou me arriscar. Na sexta vão  fechar tudo de novo e eu não quero deixar tudo para a última hora”; disse, se referindo a uma sessão em apoio a Lula que acontecerá na Assembleia Legislativa no dia 13. Ainda não há confirmação se os manifestantes irão fazer caminhada pelo CAB. 

Quem trabalha na região do Iguatemi, Juracy Magalhães ou Itaigara não teve outra opção senão seguir andado até pontos de ônibus ou até o Metrô. A estudante de Direito Rebeca Santos, 22, conta que andou cerca de 20 minutos desde o estágio na região da Comercial Ramos, até a Estação do Metrô do Iguatemi. 

"Eu nem vou para a aula hoje. Geralmente eu pego um ônibus que passa aqui na frente do shopping, mas agora eu nem sei que ônibus eu poderia pegar. Sei que tem outro que vai para lá, mas dá uma volta danada e eu não sei por onde vai", disse a estudante que estuda em uma faculdade particular no Stiep, mas decidiu voltar para casa, em Mussurunga. 

"Acho que as pessoas tem o direito de protestar, mas não sei se esse era o momento apropriado. Poderia ser num domingo, talvez desse até mais gente. Mas sei que o que eles queriam era chamar a atenção", refletiu Rebeca, dizendo que não participaria da manifestação porque apesar de reconhecer as coisas boas feitas pelo ex-presidente, concordava que ele tinha que cumprir pena, assim como qualquer outra pessoa que foi condenada. 

Vindo do Itaigara, onde trabalha, o artífiicie Alex Góis, 44, andou 40 minutos para chegar ao Iguatemi, quando normalmente faz este mesmo percurso em dez minutos de ônibus. "Vi que estava tudo parado e vim a pé. Estou indo pegar o metrô até o Retiro e de lá pego um ônibus até Candeias", contou o homem, que mora na Região Metropolitana de Salvador. "Se a manifestação for em apoio a Lula, eu apoio", disse o homem, acrescentando que naõ se importava com os transtornos. 

Em nota, a Transalvador informou que, para minimizar os impactos no trânsito, definiu estratégias em torno do Shopping da Bahia e da Av. Caribé, que liga Lauro de Freitas à capital. Viaturas escaladas para atuar de modo preventivo e emergencial já estão posicionadas para desviar o tráfego, isolar áreas e fiscalizar bloqueios irregulares de vias realizados propositalmente por manifestantes. 

Além dessas medidas, mensagens de alerta à população também serão divulgadas através da imprensa e de notificações destinadas aos usuários do aplicativo NOA Cidadão, a fim de que as pessoas evitem, caso possível, trafegar nas áreas afetadas.  Manifestação deixa trânsito consgestionado na Avenida ACM (Foto do leitor) "Estamos monitorando durante toda a semana, através da imprensa e das redes sociais, as possibilidades de manifestação. E trabalhamos para minimizar os impactos desses eventos, que acabam por prejudicar a rotina e o direito constitucional de ir e vir de milhares de pessoas", afirmou o superintendente Fabrizzio Muller. 

A Transalvador ressalta ainda que o artigo 253 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) determina que o uso proposital de veículos para interromper, restringir ou perturbar a circulação na via é infração gravíssima. A multa pode alcançar R$ 5.869,40, e o motorista tem suspenso o direito de dirigir por 12 meses, além de ter o veículo apreendido. A medida administrativa é de recolhimento do documento de habilitação e remoção do veículo.

Caminhada Por volta das 18h, a manifestação se transformou em caminhada em direção à Avenida Tancredo Neves. Os manifestantes chegaram a dizer que parariam em frente à Fieb, mas decidiram se dispersar mesmo na Rodoviária por volta de 19h30. No caminho, iam pichando postes com a frase "Lula Livre". Segundo a lei federal 9.605, pichar edificações ou quaisquer outros monumentos urbanos é crime, sujeito a pena de três meses a um ano e multa. 

Na sexta-feira passada, outro protesto contra a prisão do ex-presidente Lula fechou as pistas da Avenida ACM, na região do Shopping da Bahia (antigo Iguatemi) durante 3 horas. As vias foram fechadas por volta das 15h30 e só foram liberada às 18h50, quando a maior parte do grupo seguiu para o outro lado, na direção da Rodoviária de Salvador, onde continuaram sua manifestação, que se dispersou por volta das 20h.

Outros atos em apoio ao ex-presidente Lula estão agendados para os próximos dias, que são uma Sessão Especial na Alba na sexta-feira (13) às 10h, um ato por Lula e Marielle Franco no Rio Vermelho, às 17h do dia 14 (sábado) e uma carreata de Cajazeiras ao Cetnro, no domingo às 9h. 

Vias com desvios:

- Avenida Mário Leal Ferreira (Bonocô) para o Acesso Norte;  - Avenida Paulo VI para o retorno da Avenida ACM, sentido Lucaia;  - Rua Cipreste para o retorno da Avenida ACM, sentido Lucaia;  - Rótula do Abacaxi para a Avenida Mário Leal Ferreira (Bonocô);  - Avenida ACM para a marginal em direção a Pituba;  - Viaduto do final da Avenida Barros Reis para a Rótula do Abacaxi.