Casarões que pegaram fogo na Baixa dos Sapateiros não são tombados

Apesar disso, técnicos do Iphan estão no local para avaliar estragos do incêndio

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 4 de setembro de 2018 às 14:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nilson Marinho/ CORREIO

Os três casarões incendiados na Baixa dos Sapateiros não estão tombados nem pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) nem pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) - apesar de serem considerados imóveis históricos. As estruturas ficam na Avenida José Joaquim Seabra, a principal via do bairro, e foram consumidos pelas chamas na noite desta segunda-feira (3).

Em nota, o Iphan informou que técnicos do Instituto estão no local avaliando os estragos. “Os casarões que foram incendiados não são tombados individualmente e ficam fora da área tombada no Centro Histórico de Salvador. Ainda assim os técnicos do Iphan-BA já estão no local, por solicitação da Defesa Civil, dando apoio aos trabalhos, por serem imóveis históricos”, disse o orgão em nota.

As chamas começaram por volta das 22h, na Serraria Carvalho, prédio de número 338, e rapidamente atingiu os dois casarões no lado esquerdo. O fogo assustou moradores da região e a fumaça podia ser vista a quilômetros de distância. No local, funcionavam cinco estabelecimentos comerciais - Belíssima Confecções, Ítalo Confecções, Vitrine Jóias, Verona Kids e Serraria e Organização Carvalho.

Nesta terça (4), os bombeiros ainda procuram pelo idoso José Hunaldo Moura de Carvalho, 85 anos, dono da serraria. Familiares dele disseram para a polícia que o homem não conseguiu sair a tempo. A suspeita é de que ele tenha morrido no incêndio. Segundo os moradores, o incêndio começou por volta das 22h (Foto: Alberto Maraux/ SSP) Tradição O Brasil ainda era uma colônia quando a Baixa dos Sapateiros surgiu no Centro de Salvador. Era a segunda metade do século XVI e o que existia no local era um riacho, alguns nascedouros de água e muita vegetação.

Segundo o historiador do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Jaime Nascimento, o surgimento do bairro foi consequência do processo de expansão da cidade e a região sempre teve atividade comercial.

“Primeiro, Salvador cresceu em direção ao Pelourinho. Depois, houve um novo processo de expansão, em direção à Nazaré, que passou por aquele vale. Os dejetos dos açougues eram lançados no riacho que corria naquela região, o que acabou dando o nome de rio das tripas para o córrego. Depois, surgiu a rua do couro e o nome de Baixa dos Sapateiros, devido ao comércio específico desses tipos de produtos”, contou.    Bairro tem tradição comercial (Foto: Arquivo CORREIO) Os sobrados que ainda permanecem de pé mostram que o bairro era uma mistura de residencial e comercial, e que a região era habitada por famílias abastadas. Durante cerca de quatro séculos, a Baixa dos Sapateiros tinha o comércio específico de venda de calçados, bolsas, acessórios e outros objetos de couro.

“A partir da década de 1960 do século passado, a região começa a sofrer algumas mudanças, tanto do tipo de comércio como do perfil de moradores, até chegar ao estado de abandono em que se encontra. Não há um motivo específico para essas mudanças, mas o bairro se transformou e muitos sobrados foram divididos em apartamentos menores”, contou Jaime.

Uma das figuras famosas da Baixa dos Sapateiros foi o carnavalesco Nelson Maleiro. Antes de começar a construir carros alegóricos para os blocos de Carnaval, ele fabricava malas para sobreviver. Daí o nome com que ficou conhecido. Músico, Nelson tocava sax tenor, bongo e timbais, e foi o fundador dos blocos carnavalescos Mercadores de Bagdá (1950) e Cavaleiros de Bagdá (1960), que marcaram época.