Caso Paraíso Tropical: veja as contradições e respostas que a polícia ainda busca sobre morte de jovem

A arma do crime ainda não foi encontrada, o desaparecimento do corpo por dois dias não foi esclarecido e não está claro se o assassino recebeu ajuda

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  • Gil Santos

Publicado em 4 de agosto de 2017 às 13:00

- Atualizado há um ano

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Quase quatro meses depois do adolescente Guilherme dos Santos Pereira da Silva, 17 anos, ser assassinado no pomar do restaurante Paraíso Tropical, no Cabula, algumas perguntas seguem sem respostas e o caso acumula contradições. A arma do crime ainda não foi encontrada, o desaparecimento do corpo por dois dias não foi esclarecido e não está claro se o assassino recebeu ajuda. Ontem, o delegado Guilherme Machado, responsável pela investigação, informou que não vai mais comentar o assunto.  Guilherme foi baleado e morto no dia 17 de abril, por volta das 17h, quando estava com três amigos no pomar do restaurante. A família diz que os adolescentes estavam pegando frutas no terreno, uma ação que era habitual, quando foi atingido. Já o dono do restaurante, o chef Beto Pimentel, afirma que eles tentaram entrar na área privada do estabelecimento, região que é cercada por muros. A história ganhou um novo capítulo essa semana depois que a polícia anunciou a prisão de Fabilson Nascimento Silva, o Barriga, 31 anos. Ele era o funcionário que estava de plantão no dia do crime e contou que atirou para assustar os adolescentes, mas que não teve a intenção de ferir o jovem. Segundo ele, o disparo foi acidental. Desaparecido Um dos principais mistérios é o desaparecimento do corpo de Guilherme durante dois dias. Ele foi morto na tarde de uma segunda-feira, mas só foi encontrado no final da tarde de quarta, por equipes do Corpo de Bombeiros. O jovem estava no mesmo pomar onde houve o crime, mas na área sul do terreno, próximo à Avenida Luís Eduardo Magalhães. Ele não foi enterrado, estava caído sobre as folhagens. O terreno já havia sido vistoriado por equipes da polícia no dia anterior, que encontraram apenas uma sandália e o boné da vítima sujos de sangue. Familiares e amigos de Guilherme disseram que também vasculharam o local nos dias anteriores e na manhã em que o corpo apareceu. “Passamos duas vezes pelo local onde ele foi encontrado e ele não estava lá. Tenho certeza disso”, contou na época o irmão da vítima, o montador de móveis Rafael Silva. Segundo a Polícia Civil, Fabilson ainda não explicou o que fez com o corpo de Guilherme depois que o adolescente foi baleado. A família do jovem acredita que o funcionário recebeu ajuda de alguém para esconder o corpo. A polícia informou que  ele será indiciado por ocultação de cadáver. Guilherme foi morto por um tiro de espingarda calibre 20, cano duplo, por isso o adolescente foi atingido duas vezes. As balas acertaram a cabeça da vítima, mas, mesmo depois da prisão de Fabilson, a arma ainda não foi encontrada. Na época, Beto Pimentel disse, em entrevista exclusiva ao CORREIO, que o funcionário não trabalhava armado. Segundo ele, a espingarda foi deixada no restaurante por outro homem, que foi contratado para fazer um serviço temporário, no telhado. Ele apareceu um dia com a arma, que estava velha e com problemas, e Fabilson ficou de consertá-la. Acidental Segundo Fabilson, a arma disparou acidentalmente. Ele contou que ouviu os passos dos jovens e que fez o disparo para assustar os adolescentes. Disse também que não tinha a intenção de balear Guilherme e que a forma como a arma disparou prova que foi  acidental. A família da vítima contesta a versão e acredita que, se o tiro acertou a cabeça do jovem,  foi direcionado para ele. O pai de Guilherme, o mensageiro Edmundo Silva, contou, durante o sepultamento do filho, que o laudo cadavérico atestou traumatismo cranioencefálico como causa da morte e que o corpo apresentava marcas de queimadura. A polícia explicou, na época, que o traumatismo foi provocado pelos tiros e que as marcas eram do próprio processo de decomposição.  Segundo o delegado Guilherme Machado, responsável pela investigação do caso, Fabilson disse em depoimento que contou com a ajuda de outra pessoa para esconder o corpo do jovem, mas a polícia não informou quem foi o comparsa ou o nome do suspeito. “Ainda é prematuro dizer que Beto tem envolvimento. Foi Barriga quem atirou, mas o inquérito ainda não foi concluído”, afirmou o delegado, na apresentação do preso, anteontem.Fabilson trabalhou para o chef por cerca de seis meses, como “faz-tudo”, mas foi dispensado do trabalho no ano passado após algumas discussões com o patrão. Cerca de três meses antes do crime, ele procurou novamente o ex-chefe pedindo por emprego. Ele tem passagem policial por envolvimento em brigas e foi apreendido quando adolescente por homicídio. Beto contou que só soube do passado do funcionário depois da morte de Guilherme. Versões A Polícia Civil informou que o chef apresentou versões distintas sobre o caso, mas não deu  detalhes. Na semana em que Guilherme desapareceu, ele negou que o crime tivesse acontecido dentro da área do restaurante, mas 11 dias depois disse que estava com o funcionário quando tudo aconteceu. Fabilson afirmou que foi o patrão quem lhe deu a arma, o que foi negado pela defesa. Segundo o advogado Alano Frank, que representa Beto Pimentel, há uma “incongruência nessa informação”. Ele também saiu em defesa do funcionário e afirmou que estava escuro no momento do fato e que Fabilson agiu em legítima defesa. Beto disse, na época, que não contou desde o início que sabia quem havia atirado porque estava tentando convencer Fabilson a se entregar para a polícia. O mobilizador social do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca/Bahia), Silvio Baptista, informou que a instituição está acompanhando o caso desde o início e que a família de Guilherme está recebendo acompanhamento jurídico e psicossocial. “A mãe e o irmão dele estão sendo assistidos. Agora, estamos aguardando a finalização do inquérito e que ele seja remetido para o Ministério Público para que possamos atuar como agentes de acusação”, afirmou.Segundo Rafael, a família se reuniu e decidiu acionar o restaurante na Justiça. Como essas ações não são assistidas pelo Cedeca, eles terão que contratar novos advogados. “Eles (donos) também têm culpa no que aconteceu”, afirmou o irmão da vítima. Mais de três meses depois da morte de Guilherme, a família do adolescente ainda não consegue se desfazer dos pertences dele. As roupas, calçados e outros objetos do jovem foram guardados como lembranças. Ele era o caçula de dois filhos e morava com a família em Pernambués. Guilherme cursava o 8º ano (antiga 7ª série) do Colégio Estadual Ministro Ademar Baleeiro, que fica no mesmo bairro, quando morreu. A prisão de Fabilson é temporária, por até 30 dias. A polícia acredita que esse tempo seja suficiente para concluir o inquérito. Ele será indiciado por homicídio e ocultação de cadáver. Perguntas ainda sem respostas1. Onde o corpo de Guilherme esteve durante os dois dias em que ficou desaparecido? A polícia disse que ainda investiga essa informação.2. Onde está a arma usada por Fabilson Nascimento para atirar em Guilherme Silva?A polícia ainda não recuperou a espingarda usada no crime. 3. O assassino recebeu ajuda para esconder o corpo? Quem ajudou? A polícia disse que ainda apura esses detalhes.4. O dono do restaurante apresentou versões distintas para o caso? A polícia disse que sim, mas que ainda não vai divulgar o que ele disse porque é parte sigilosa do inquérito. 5.  O tiro que acertou a cabeça de Guilherme foi disparado de forma acidental?A polícia informou que essa pergunta ainda será respondida no inquérito.[[saiba_mais]]