Cavalo Marinho: moradores colocam 19 cruzes em praça para lembrar mortos

Atos marcam 365 dias da maior tragédia da Baía de Todos os Santos

  • Foto do(a) author(a) Nilson Marinho
  • Nilson Marinho

Publicado em 24 de agosto de 2018 às 08:41

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO
. por Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Há exato um ano a Baía de Todos os Santos virava palco da maior tragédia marítima recente da história do estado. Nesta sexta-feira (24), em frente o terminal, ao pé do monumento da Ilha de Vera Cruz, em Itaparica, 19 cruzes lembram as vítimas da lancha Cavalo Marinho I.

Alguns dos sobreviventes ficaram concentrados em frente ao terminal marítimo na manhã desta sexta, cerca de 60 pessoas, por volta das 8h, andaram do terminal até o Fórum Desembargador Antônio Bensabath, onde, durante 30 minutos, permaneceram em silêncio, para lembrar do acidente - quando a embarcação, toda em madeira,e com mais de 40 anos adernou por volta de 6h. Ao todo, 19 pessoas morreram. 

De lá, eles caminharam novamente de volta ao terminal onde, por volta das 10h, aconteceu um ato ecumênico, com a presença de um padre, um pastor, um representante do espiritismo e da igreja messiânica. 

Com cartazes e camisas com fotos das vítimas fatais da travessia, eles chamaram atenção de quem passava por ali. A estudante Marta Conceição, 19 anos, embarcou na lancha com a mãe, a dona de casa Rita dos Santos, 54. A filha conseguiu ser resgatada mas a mãe acabou morrendo.

[[galeria]]

A estudante diz que a empresa - CL Transporte Marítimo - precisa ser punida pelo acidente. Ela também cobra mais segurança na travessia até Salvador."Só queremos justiça, dinheiro não me interessa, nada vai trazer a minha mãe de volta. Infelizmente, foi tudo por ganância, até porque eles sabiam das condições de viagem", desabafa. "Minha tia era uma pessoa boa, só fez boas ações em vida. Sempre tememos a travessia. Alguma coisa precisa ser feita", completa a estudante Larissa dos Santos, 18, sobrinha de Rita.

Desde o dia da tragédia pra cá, contam os sobreviventes, pouca coisa foi feita. As embarcações continuam cruzando o mar até Salvador sem nenhuma segurança.

A família de Davi, a vítima mais nova do naufrágio também está presente no ato. O bebê de seis meses embarcou na companhia da mãe, da avô e da irmã, na época com 4 anos. Todos se salvaram mas Davi foi o único que não sobreviveu. A família estava indo para uma consulta médica do pequeno.  Tia do pequeno Davi, Roquelina da Cruz, pede justiça pela vida do sobrinho Foto: Nilson Marinho/CORREIO A tia, a doméstica Roquelina da Cruz, 36, veio cobrar por justiça e manter viva a memória do sobrinho. "De lá pra cá, um vazio imenso tomou conta de toda a família. Desde então, ninguém (empresa) nos procurou para dar um suporte".

O grupo saiu do fórum às 8h40. Eles caminharam em direção ao terminal onde aconteceu o ato. Um veículo com uma caixa de som acompanhou o cortejo.

CONFIRA ESPECIAL 'A DOR QUE AS ONDAS NÃO LEVARAM' SOBRE O 1º ANO DA TRAGÉDIA DE MAR GRANDE

De acordo com Joicy Helem Oliveira, 21 anos, após ser pressionados, a empresa CL Transportes tirou de circulação três lanchas: a Costa do Mar, Nossa Senhora da Penha e a Cavalo III. No entanto, a Costa do Mar voltou a fazer a travessia depois de 10 dias parada.

Joicy, que também faz parte da diretoria da Associação dos Sobreviventes da Tragédia Cavalo Marinho I, diz que, depois do acidente, nenhum representante da empresa lhe procurou. "Já não sou a mesma, deixei de fazer a travessia e agora sempre estou optando pelo ferry", afirma. 

A associação foi criada em 28 de outubro de 2017. Ela possui estatuto, mas ainda não foi registrada oficialmente. Para Rosana Monteiro, 53, esposa de um sobrevivente, o ato fará lembrar as vítimas e cobrar dos órgãos a melhora na Ilha. 

"Até agora não tivemos nenhuma mudança. As lanchas continuam rodando e sem segurança. Eu, por exemplo, tive que me mudar para Salvador porque fazer a travessia ficou complicado, principalmente para o meu marido", conta.

À noite, será realizada uma missa em memória dos mortos do naufrágio. A celebração vai acontecer na Comunidade Nossa Senhora das Candeias, localizada em Amoreira, Ilha de Itaparica, e terá início às 19h. 

Logo após a missa, os fiéis sairão em procissão até a praia, onde 19 rosas serão jogadas ao mar em homenagem aos mortos. O acidente aconteceu na manhã do dia 24 de agosto de 2017. A embarcação, chamada Cavalo Marinho I, virou 10 minutos após ter saído de Mar Grande em direção a Salvador com 116 passageiros e quatro tripulantes.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier