Celebre os 90 anos de João Gilberto com música, livros e filmes

Filme 'Filhos de João' e livro 'Ho-ba-la-lá' estão entre dicas

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  • Roberto Midlej

Publicado em 10 de junho de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Completam-se hoje 90 anos de João Gilberto (1931-2019), um dos gênios da música brasileira que mais influenciou a geração seguinte de músicos do país. Desde Roberto Carlos, que começou a carreira emulando o jeito do juazeirense cantar, até os Novos Baianos, como ficou claro no documentário os filhos de João, do baiano Henrique Dantas.

E que tal celebrar as nove décadas de nascimento de João ouvindo alguns de seus discos, assistindo a filmes que remetem a ele ou lendo livros sobre sua vida?

Tuzé de Abreu, músico que foi amigo de João Gilberto e o acompanhou em diversas viagens, gosta tanto dele que mal sabe por onde começar. Ora, Tuzé diz que os melhores são os três primeiros, ora prefere citar o álbum gravado no Japão em 2006, que, para ele, “é uma preciosidade, é inacreditável o que ele faz ali e prova que ele cantou cada vez melhor, até o fim. É um disco comparável à Segunda Sinfonia de Brahms”. O álbum Live in Tokyo está no Spotify e o blu-ray foi lançado no Japão, onde João Gilberto fez turnês de muito sucesso. 

Mas Tuzé se entusiasma também ao falar de Amoroso, álbum de 1977 que ganhou arranjos do polonês Claus Ogerman. Embora reconheça que, tecnicamente, essa é uma das obras-primas do juazeirense, Tuzé também destaca, por questões pessoais, os três primeiros álbuns de João: Chega de Saudade, de 1959; O Amor, o Sorriso e a Flor, de 1960; e João Gilberto, de 1961.

“Não sei se é por purismo, mas pessoalmente gosto muito dos três primeiros, que, para mim, foram como uma epifania. A semente está ali. Foi ali que o som foi descoberto”, diz Tuzé. “Mas se eu pensar como alguém que estudou música, aí reconheço há outros álbuns melhores”, pondera. Mas se você prefere uma novidade, visite a Radio Batuta, no site do Instituto Moreira Salles. Chegaram lá na semana passada 41 gravações que Joçao Gilberto nunca gravou oficialmente. As fitas não tiveram tratamento em estúdio e foram gravadas de maneira amadora, por isso há chiados e ruídos. Mas até isso dá um charme especial ao material.  Primeiro LP de João Gilberto, Chega de Saudade Nele, João canta ao lado de Astrud Gilberto, sua esposa na época. Num outro registro, de 1960, João se apresenta com Vinicius de Moraes num show que celebra um aniversário da Associação Atlética da Bahia. Há ainda gravações de Nada Além, O Samba da Minha Terra e Saudade da Bahia.

Cinema O documentário O Barato de Iacanga, na Netflix, conta a história de um festival numa fazenda de São Paulo, que teve atrações como Jorge Mautner, Raul Seixas e Erasmo Carlos. Ok, mas onde entra João Gilberto nessa história? Acredite, leitor: o pai da bossa nova se apresentou surpreendentemente nesse festival dominado por “hippies”, como dizia a imprensa na época.

João Gilberto era conhecido por suas manias folclóricas e se recusava a se apresentar enquanto não ajustassem a temperatura do ar condicionado. Mas isso não o impediu de participar de um festival (des) organizado de maneira amadora por um bando de jovens sem experiência em produção de espetáculos e com um som improvisado, de péssima qualidade. E o mais incrível: João pegou a estrada até a fazenda  dirigindo o próprio carro e o filme mostra ele chegando ao volante.

Há também uma produção baiana que aborda a influência de João Gilberto sobre os Novos Baianos: Filhos de João, o Admirável Mundo Novo Baiano. No entanto, não espere ver João Gilberto no filme. “Eu queria evitar problemas de direito de imagem, então solucionei isso mostrando apenas partes do corpo de João, como as mãos e os dedos”, revela Henrique Dantas, diretor do filme. João Gilberto chegando ao festival de música em Iacanga Henrique chegou a negociar com um produtor de João Gilberto a entrevista com o bossanovista. “Ele disse que João havia gostado da ideia e havia topado dar o depoimento pro filme. Me deu o telefone da casa dele e insisti por unz dez dias ligando para ele, mas ele não atendia, mesmo sabendo que era eu. Então, no filme, ele é um sujeito oculto”, diz o diretor.

Henrique diz que essa situação foi semelhante ao que ocorreu com o jornalista alemão Marc Fischer, que se empenhou em encontrar João Gilberto no Rio de Janeiro. Para isso, conversou com artistas próximos a ele, como Miúcha e Roberto Menescal, mas não adiantou: o encontro nunca ocorreu. Mas esse “não encontro” está registrado no livro Ho-ba-la-lá – À Procura de João Gilberto, lançado em 2011. 

E do livro surgiu o filme Onde Está Você, João Gilberto, disponível no Globoplay. No documentário, o diretor franco-suíço Georges Gachot refaz a peregrinação de Marc Fischer em busca de João Gilberto. Para isso, conversa com as mesmas pessoas que o alemão, incluindo o barbeiro que fazia a barba de João na casa do músico.