Cenas inusitadas provocam curiosidade nas ruas de Salvador

Imagem faz parte do Festival Internacional de Artes Cênicas que começa nesta terça-feira (23)

  • Foto do(a) author(a) Laura Fernades
  • Laura Fernades

Publicado em 23 de outubro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Rodrigo Munhoz/Divulgação

Quem passar pela Praça Castro Alves nesta terça-feira (23), às 18h, vai se deparar com a cena inusitada de uma mulher executiva carregando, literalmente, um homem de paletó e gravata em um carrinho, onde ele lê tranquilamente seu jornal. Além de um convite à reflexão sobre o trabalho feminino, O Peso Masculino é o nome da performance de abertura do 11ª Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (Fiac Bahia), que acontece de terça (23) a domingo (28), em teatros, praças, ruas e esquinas de Salvador.

Com todo o cuidado do mundo para não atrapalhar a leitura do rapaz que está confortavelmente sentado no carrinho, a artista baiana Jaqueline Vasconcellos passeia a céu aberto na primeira apresentação do festival, tentando evitar os carros que passam, a trepidação das ladeiras e a ajuda de outros homens. “Jaqueline vai colocar em discussão esses papéis que são tradicionais e que hoje passam por uma mudança, por um atrito positivo”, destaca o diretor e coordenador geral do Fiac Bahia, Felipe de Assis, 40 anos.

O espetáculo de Jaqueline é só um dos 12 que fazem parte do festival que tem a “encruzilhada” como mote. A partir de uma programação que pela primeira vez será 50% gratuita, o evento propõe que artistas e público se encontrem nas esquinas das ruas para refletir e dialogar sobre a sociedade atual. “A gente escolheu a encruzilhada, um lugar de convergência, como metáfora pra gente pensar na abertura de novos caminhos”, explica o diretor.

Você tem um minuto? Por isso, até domingo, as pessoas vão encontrar artistas em espaços como o Largo Dois de Julho e o Passeio Público. Na Praça da Piedade, por exemplo, acontece a performance Você tem um Minuto para Ouvir a Palavra?, com direito a sofá, cadeiras e microfone para quem quiser participar. O encontro que acontece quarta-feira (24), das 10h às 16h, é uma maratona de leitura de textos conduzida pela jornalista carioca Nayse Lopez, ou pela pessoa que estiver passando na hora e tiver vontade de ler o que der na telha. Sacolas na Cabeça, da Anti Status Quo Companhia de Dança (Foto: Luciana Lara/Divulgação) Já quem passar pelo Terreiro de Jesus na sexta (26), às 16h30, ou por Plataforma, no sábado, às 11h30, vai encontrar um grupo de pessoas usando sacolas de papelão na cabeça. Longe de ser uma ameaça, o grupo Anti Status Quo Companhia de Dança, de Brasília, apresenta o espetáculo Sacolas na Cabeça para questionar a sociedade de consumo e o sistema capitalista. A indagação, provoca o diretor do Fiac, é: “o quanto a nossa cabeça está completamente voltada para as compras e o quanto elas já estão compradas?”.

Ou seja, em cada esquina há um convite para “unir forças com os artistas e poder pensar em uma proposta de mundo melhor”. “O artista tem que ir aonde o povo está. Nosso contexto atual está muito mais para a disputa do que para a escuta, então o que a gente propõe é estar na rua, no contato, tendo a emissão de uma ideia, mas com o execercício de escuta, de diálogo”, resume Assis.

Função Além de ocupar as ruas, o festival também vai marcar presença em outros espaços da cidade, como o Goethe-Institut, o Teatro Sesc-Senac Pelourinho, o Teatro Vila Velha e o Teatro Martim Gonçalves. A programação, que inclui seminário, intercâmbio e oficinas, reúne espetáculos como Exceções à Gravidade, do grupo americano Avner the Eccentric; Santa Maravilha Recebe – Entrevistas perforMágicas, de Paula Lice, e Bonito, de Edu O. e Lucas Valentim, ambos baianos.

Cada apresentação propõe, do seu jeito, uma aproximação do público com o fazer artístico. “Nesse momento em que se critica tudo, muitas vezes se ataca uma classe como a artística sem conhecimento. Cabe ao artista estar mais próximo e discutir a importância desse trabalho com as pessoas”, defende Assis. “Está todo mundo se sentido sufocado, pressionado, inseguro... O festival é o momento de dar as mãos. A gente está falando do direito de ser, de viver”, finaliza. Espetáculo exceções à Gravidade, do grupo americano Avner the Eccentric (Foto: Divulgação) Serviço O quê: 11ª Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (Fiac Bahia 2018) Quando: De terça-feira (23) a domingo (28), horários variados Onde: Teatros, praças e ruas de Salvador. Programação completa: www.fiacbahia.com.br Ingresso: Gratuito (nas ruas) e R$ 30 | R$ 15 (teatros)