Centenário do mestre de capoeira João Pequeno é celebrado na Ufba

Homenagens vão ocorrer até o final do mês

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  • Da Redação

Publicado em 12 de dezembro de 2017 às 04:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mestre João Pequeno aos 92 anos

A Universidade Federal da Bahia (Ufba) prestará uma homenagem especial a João Pereira dos Santos, o mestre João Pequeno, considerado o mais importante discípulo e continuador da obra do mestre Pastinha, além de expandir a prática da capoeira Angola para diversas partes do mundo.

A cerimônia é para lembrar os 100 anos que o mestre capoeirista completaria no dia 27 de dezembro, se estivesse vivo. A homenagem acontecerá na próximo sexta-feira (15), às 18h, no Salão Nobre da Reitoria.

Um dos organizadores do evento, Guilherme Bertissolo, coordenador da pró-reitoria de extensão da Ufba, destaca a importância do evento para a Universidade: “A Ufba resolveu compor a programação com uma grande homenagem. A universidade cedeu um título honoris causa para ele, nada mais justo que também fazer parte da celebração", disse. Segundo ele, haverá uma apresentação musical, além da fala do professor Pedro Abib, a presença do reitor João Carlos Salles e do reitor Valder Steffen Júnior, da Universidade Federal de Uberlândia, instituição que, assim como a Ufba, outorgou o título de doutor honoris causa ao mestre João Pequeno.

A universidade já tinha prestado uma homenagem simbólica durante o congresso anual, mas esta cerimônia terá mais alcance de público. “A iniciativa surge da compreensão que a universidade necessita urgentemente dar dignidade e reconhecer os saberes populares como fundamentais para uma maior humanização do mundo. Hoje, a Ufba tem dado passos importantes na superação dessa contradição através de inúmeras iniciativas da atual gestão, muito sensível a essa causa”, destaca Pedro Abib, professor da Faculdade de Educação, discípulo do mestre João Pequeno e organizador do evento.

Carreira João Pequeno nasceu em 27 de dezembro de 1917 em Araci, município do semiárido baiano. Anos mais tarde, em Salvador, já participava de rodas de capoeira. Na década de 1940, conhece Pastinha, tornando-se então destacado discípulo, aprendendo e ensinando no Centro Esportivo de Capoeira Angola, dirigido pelo mestre.

No início da década de 1980, funda o Centro Esportivo de Capoeira Angola Academia Mestre João Pequeno de Pastinha, no Forte Santo Antônio Além Carmo. Além disso, ao longo dos anos ele viajou por todo o Brasil e por vários países, levando o conhecimento da capoeira a se espalhar pelo mundo.

Mestre João lutou capoeira até seus 91 anos em plena forma. Ele morreu em dezembro de 2011. O centenário está sendo celebrado durante todo o mês de dezembro, com atividades culturais e rodas na academia do mestre, no forte de Santo Antônio além do Carmo.

Herança familiar Cristiane Santos, mais conhecida como “Nane de João Pequeno”, é a neta do mestre e professora de capoeira há mais de seis anos. “Aprendeu a ensinar” com o seu avô que, devido a sua idade na época, precisava de alguém que o substituísse em sua comunidade. É formada em Educação Física há cinco anos e trabalha numa escola particular do Subúrbio. Também administra o memorial do mestre João Pequeno junto com o mestre Aranha e mestre Zoinho.

Hoje, o Centro Esportivo de Capoeira Angola é um memorial, gerenciado de forma conjunta pelos discípulos do João Pequeno. Tudo acontece da mesma forma como acontecia quando o mestre estava vivo. “A gente continua dando aulas, fazendo oficinas... Ele queria que a capoeira tivesse seu espaço em todos os lugares, e essa vontade vem desde Mestre Pastinha, que queria ver a capoeira no mundo todo, na TV, no rádio, no jornal.... Ele dizia que não ia conseguir ver, mas que os outros tinham a missão de fazer com que ela chegasse a esse nível”, diz a neta do mestre.

“Dia 20 vamos fazer a inauguração do memorial vivo nesse espaço com uma outra roupagem, mas mantendo as características do mestre João Pequeno. Quem quiser praticar a capoeira ou fazer um trabalho de formação, nós estamos aqui”, avisa Nane aos amantes da capoeira. “Hoje a capoeira está fora do Brasil graças a ele e outros mestres como João Grande, Pastinha... Não celebramos apenas o centenário do meu avô, também celebramos a existência dos outros mestres - são todos patrimônios da capoeira e patrimônios culturais do Brasil e do mundo”, completa.

Projetos Sociais O projeto “Cinema, Capoeira e Samba” acontece na Academia de João Pequeno de Pastinha, localizado no Forte do Santo Antônio. Na última sexta-feira do mês às 19h, todos assistem a um curta e um longa-metragem, seguidos de bate-papos entre alunos, mestres e a comunidade. O dia costumava terminar com uma tradicional roda de samba, mas, por falta de apoio, ela está suspensa.

Já o projeto Pequenos de João, acontece no bairro Fazenda Coutos e é voltado para crianças. Os dois projetos foram encabeçados pelo mestre João Pequeno, e continuados pelos seus discípulos e sua neta. “Esses projetos também fazem parte da memória dele e precisam ser vistos e preservados diante de todo trabalho que ele fez dentro da capoeira”, diz Nane, que gerencia o projeto “Pequenos do João” enquanto o Mestre Zoinho coordena o “Cinema, Capoeira e Samba”.

Programação das homenagens:

15/12: 18h – Homenagem ao título de Doutor Honoris causa (Salão Nobre da Reitoria da Ufba)

21/12: 19h – Intervenção na praça do Santo Antônio além do Carmo/ Mostra do vídeo: O velho capoeirista (Pedro Abib)/ Roda na praça Santo Antônio além do Carmo I

26/12: 19h – Tradicional roda do mestre João Pequeno – com abertura do semeando “Mestre Jogo de dentro/ 21h: confraternização

27/12: 9h – Oficina de Capoeira Angola com mestre Aranha/ 15h: oficina de Capoeira Angola com Nani de João Pequeno/ 17h: Homenagem ao mestre João Pequeno em memória aos seus 100 anos/ 18h: roda em memória aos 100 anos do mestre João Pequeno/ 20h30: confraternização com tradicional mesa de frutas

*Renata Oliveira é integrantes da 12ª Turma do Programa Correio de Futuro