Centro de Referência vai receber 60 crianças portadoras de microcefalia por dia

Mães e crianças receberão atendimento psicológico e terapêutico

Publicado em 4 de dezembro de 2017 às 13:59

- Atualizado há um ano

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Flávia e a pequena Denyelle (à esquerda) e Ingrid com Nicole (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) A dona de casa Flávia Checcucci, 28 anos, tinha acabado de parir quando, ainda na sala de parto, recebeu a notícia mais difícil de sua vida. A filha, Denyelle, 2, foi diagnostida com microcefalia - alteração cerebral provocada por uma infecção congênita causada pelo zika vírus. 

A vida de Flávia mudou completamente e, desde então, todo tempo e atenção são voltados à pequena Denyelle. "Eu só queria poder ir ao médico, tomar um sol, fazer minhas unhas", contou ela ao CORREIO.

Flávia e dezenas de outras mães ganharam, nesta segunda-feira (4), o Centro Dia de Referência para crianças, de 0 a 6 anos, portadoras de microcefalia e doenças associadas.

Inaugurado pelo prefeito ACM Neto, o primeiro Centro Dia do estado vai prestar serviço especializado de assistência social e psicológica a 60 crianças por dia - 30 de manhã e 30 à tarde. O ministro do Desensolvimento Social, Osmar Terra, também participou da solenidade de entrega do equipamento.

A Secretaria de Promoção Social (Semps) e as secretarias municipais de Saúde (SMS) e Educação (Smed) vão se articular para buscar iniciativas que minimizem os impactos da malformação congênita.

Uma equipe multidisciplinar composta por coordenador, assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional, cuidadores e auxiliares, dedicará atenção às crianças e seus familiares. As mães vão poder deixar seus filhos - por um turno - para resolver pendências pessoais e, depois, retornar para buscar as crianças.

Para garantir o atendimento, porém, as famílias precisam estar inseridas no Cadastro Único do Governo Federal e serem beneficiárias do Benefício por Prestação Continuada da Lei Orgânica de Assistência Social (BPC/LOAS). Atendimento Pais de crianças com microcefalia devem ir à sede do centro, localizada no térreo do Edifício Cosmopolitan, no Parque Bela Vista, levando a própria documentação, além de documentos da criança.

Conforme a SMS, até agosto de 2017, havia 251 casos de Síndrome Congênita do Vírus Zika confirmados em Salvador -  23 foram registrados esse ano. prefeito e ministro conversaram com mães (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) "Esse é o primeiro Centro Dia da Bahia, uma parceria com o Governo Federal. A expectativa é garantir que essas crianças possam ter uma qualidade de vida. Além disso, a ideia é fazer um trabalho integral, para que toda família possa ser assistida", pontuou o prefeito, afirmando que se preocupou que a sede ficasse localizada em um lugar central. 

Expectativa Ao CORREIO, Flávia Checcucci contou que a existência do Centro Dia traz uma grande expectativa às mães. "É uma expectativa muito, muito grande. Porque somos nós para tudo, a gente praticamente existe para eles. Com esse apoio, se tudo der certo, tende a melhorar muito", disse ela, relatando que desconhecia a doença quando a filha foi diagnosticada. 

O tratamento das crianças portadoras da microcefalia envolve fisioterapia, tratamento à base de medicações e atividades lúdicas, segundo algumas mães que conversaram com a reportagem. "É até complicado conseguir alguém para cuidar delas, porque as pessoas têm receio de derrubar, de não saber lidar com as limitações, porque são muitas", relatou. 

Assim como Flávia, a autônoma Panmella Passinho, 31, também se sentiu perdida logo que soube que o filho era portador da doença. "Minha gestação foi toda normal, só recebi a notícia depois que ele nasceu", lembra ela, mãe do pequeno Hebert Daniel, de 1 ano e 9 meses.

"Um ponto de socorro pra gente. Não vamos ter uma creche, mas só de ter um lugar de confiança para deixar, enquanto saímos e resolvemos as coisas, já ajuda muito. Só a gente sabe o que passa", salientou Panmella. Para ela, outro ponto positivo vai ser a convivência de Hebert com outras crianças. "Isso vai ajudar muito no desenvolvimento deles, sem dúvida nenhuma".

De acordo com o ministro do Desensolvimento Social, Osmar Terra, este é um dos 800 centros dia que devem ser inaugurados em todo país. "Futuramente, ele (o centro) vai se articular, também, como uma área de creche e de reabilitação física. Para que as crianças possam chegar, ficar e receber o atendimento que elas necessitam", comentou. Panmella e Hebert (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Pais de Anjos Faz quatro meses que a corretora de imóveis Ingrid Graciliano se articulou e, junto com outras mães, fundou o grupo Pais do Anjos, que reúne pais de crianças portadoras de microcefalia. 

Mãe de Nicole, de 1 ano e 11 meses, ela descobriu que a filha era portadora da doença aos sete meses de gestação. "Foi um período insuportável, porque os médicos tentavam explicar, mas eu não entendia, principalmente porque o Ministério da Saúde ainda não tinha um posicionamento sobre a situação", lembrou.

Só com o passar do tempo é que Ingrid foi desenvolvendo um modo particular de cuidar da filha. Com a necessidade de trocar experiências e se unir, ela assumiu a presidência do grupo."A gente está aqui para agradecer e também para cobrar que olhem por nós. Porque nós não fomos escolhidas, fomos vitimadas por um sistema deficiente de condições básicas de saneamento. Agradeço este espaço, que é muito importante para todos que estão aqui, mas peço que nos escutem", afirmou Ingrid ao prefeito ACM Neto e ao ministro Osmar Terra - que solicitou de Ingrid uma pauta formalizada."É muito importante ter essa oportunidade. Poder falar e ser ouvida. Espero que tudo dê certo". Para Ingrid, a maior dificuldade diária é deixar o trabalho em último plano. "Eu sobrevivo com muito pouco. Eu poderia somar com o meu trabalho, mas eu acabo não tendo tempo nem para trabalhar. É tudo muito difícil", pontuou. 

O Centro Dia conta uma uma sala de recepção, além de salas diversas, refeitório e banheiros adaptados. O  centro funcionará de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h. 

Na Bahia Para atender pacientes com microcefalia, há dois anos o governo do estado criou uma rede estadual de atendimento. São 18 instituições. Confira:

1. Centro Estadual de Prevenção e Reabilitação de Deficiências - Salvador; 2. Hospital Santo Antônio - Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) - Salvador; 3. Hospital Geral Roberto Santos - Salvador 4. Núcleo de Atendimento à Criança com Paralisia Cerebral (NACPC) - Salvador; 5. Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE Salvador) - Salvador; 6. Instituto Bahiano de Reabilitação (IBR) - Salvador; 7. Centro Municipal Especializado em Reabilitação Física e Auditiva - Vitória da Conquista; 8. Centro Municipal de Reabilitação (CEMUR) - Itaberaba; 9. Centro de Reabilitação Física Mãe Maria (CRFMM) - Teixeira de Freitas; 10. Associação Pestalozzi de Alagoinhas - Alagoinhas; 11. Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE Itapetinga) - Itapetinga; 12. Centro Multiprofissional de Reabilitação Física de Camaçari (CEMPRE); 13. Núcleo Municipal de Prevenção e Reabilitação Física de Jequié (NUPREJ) - Jequié; 14. Núcleo de Atenção Especializada (NAE) - Ilhéus; 15. Centro de Reabilitação e Desenvolvimento Humano (CREADH) - Itabuna; 16. Centro Regional de Prevenção, Reabilitação e Inclusão Social (CERPRIS) - Juazeiro; 17. Centro de Prevenção e Reabilitação do Oeste (CEPROESTE) - Barreiras; 18. Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE Feira de Santana) - Feira de Santana;

Para facilitar o agendamento de exames para crianças diagnosticadas com microcefalia, o estado criou o Sistema de Agendamento Digital (SAD). Para a realização do agendamento, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) criou um canal de comunicação gratuita por meio do número: 0800 071 3535.  A administração do sistema é exclusiva da Sesab. 

Para cada estabelecimento de saúde da rede de assistência à criança com microcefalia é criado o perfil de usuário - isso possibilita o acompanhamento e registro dos exames realizados.