Centro Histórico tem 41 hidrantes, mas não há plano para incêndio

Cinema em imóvel antigo foi consumido por fogo no sábado

Publicado em 14 de novembro de 2017 às 03:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO

A região do Centro Histórico de Salvador, tomada por edifícios históricos e instalações das mais antigas da cidade, possui 41 hidrantes para auxiliar em casos de incêndios no local - como o que aconteceu no sábado (11) e destruiu o Cine XIV. Pelo menos é isso o que diz a Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa), ligada ao governo do estado e responsável pela “manutenção dos hidrantes instalados e pelas condições de pressão necessárias para o seu correto funcionamento”.

O problema é que, a despeito de a região ter a maior concentração de hidrantes de Salvador, quem vive ou trabalha lá não sabe onde eles ficam. Questionado sobre a suficiência do número de hidrantes e a política para instalação deles, a existência de um plano de combate a incêndios e a fiscalização, o Corpo de Bombeiros Militar da Bahia não se manifestou.

A assessoria apenas respondeu que a unidade que debelou o fogo no Cine XIV no sábado seguiu o Procedimento Operacional Padrão de combate a incêndios em edificação: “Todo e qualquer incêndio tem um tronco comum de procedimentos operacionais padrão e acontecem ajustes a depender da peculiaridade de cada caso”. O CORREIO localizou uma instrução técnica para combater incêndios em edificações do patrimônio histórico e cultural.

Além de não saber dos hidrantes, quem vive no local também não sabe bem o que fazer em casos de incêndio. A Defesa Civil de Salvador (Codesal), por exemplo, afirmou que fará uma reunião ordinária com o Corpo de Bombeiros e a Embasa justamente para tratar da necessidade de hidrômetros na região e sobre a criação de um plano de fuga de incêndios para o Centro Histórico. “O que nós tivemos de informação é de que o Centro Histórico é a região que tem mais hidrantes”, resume Sósthenes Macêdo, diretor-geral da Codesal.

Diretora de Gestão do Centro Histórico pela prefeitura, Eliana Pedroso também demonstrou interesse em unir todas as instâncias para um plano de prevenção.

“A diretoria de gestão do Centro Histórico pretende chamar os órgãos para que a gente possa fazer um reconhecimento de onde estão os hidrantes no Centro Histórico, fazer esse mapeamento desses hidrantes e suas condições e tornar o mapeamento acessível aos proprietários e locatários dos imóveis”, diz.

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Sem plano Para Clarindo Silva, presidente da Associação de Comerciantes do Pelourinho (Acopelô), os incêndios ocorrem porque os prédios são antigos. “As instalações são antigas e nem sempre o prédio está bem cuidado. O Pelourinho está numa situação bem difícil”, diz.

Ainda de acordo com ele, não existe um plano de incêndio, mas um caminhão do Corpo de Bombeiros fica de plantão, diariamente, no Pelourinho.“Na hora do incêndio do Cine XIV, os bombeiros não estavam no local, porque eles só chegam às 9h e o fogo começou às 7h”, queixa-se.Pela contagem de Clarindo, o Centro Histórico tem 32 hidrantes - e não 41, como informou a Embasa -, mas quem está por lá não sabe onde ficam. Segundo Clarindo Silva, há um próximo à Ordem Terceira de São Francisco, a 230 metros do Cine XIV.

Segundo a Embasa, o planejamento da disposição de hidrantes é competência do Corpo de Bombeiros, mas a empresa, “quando solicitada, disponibiliza carros-pipa para combate a incêndios”, diz nota oficial. Interditado, local passou por perícia nesta segunda-feira (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) O CORREIO também procurou o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), dono do casarão onde funciona o Cine XIV, para falar sobre a manutenção do espaço e a existência de extintores de incêndio no local.

No entanto, o Ipac disse que a manutenção é de responsabilidade do locatário e que a fiscalização da existência de extintores e de outras estruturas de segurança cabe ao Corpo de Bombeiros.

Críticas Os moradores do Pelourinho, contam que o primeiro carro dos Bombeiros não tinha água suficiente para debelar as chamas e que, por falta de água no grupamento da Barroquinha, foi preciso buscar água no Iguatemi e em Lauro de Freitas. O Corpo de Bombeiros nega que tenha havido falta de água.

Além disso, os moradores  criticam a falta de uma bomba de sucção para que a água fosse retirada de um hidrante próximo ao local. “Não tinha estrutura para apagar o fogo. Consumiu tudo rápido por conta disso”, disse um trabalhador.“Eu falei que o incêndio estava na esquerda e eles estavam agindo pela direita, jogando água onde não tinha fogo e afirmando que não queriam quebrar o vidro, que acabou quebrando de qualquer forma. Eles só fizeram piorar o fogo”, criticou outro morador, sem se identificar.*Colaborou Milena Teixeira