Cerca de 5 mil pessoas prestigiam Caetano e filhos na Concha Acústica

Os Veloso abriram a apresentação com Alegria, Alegria e tocaram sucessos e inéditas

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  • Da Redação

Publicado em 13 de janeiro de 2018 às 20:27

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Pedro Tourinho/Divulgação

"Representa celebração e alegria, sem dar importância ao sentido social da herança". Foi assim que Caetano Veloso, 75 anos, sintetizou o show deste sábado (13), feito ao lado dos três filhos - Moreno, 44, Zeca, 25, e Tom, 20 - na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, para cerca de 5 mil pessoas.

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A reunião familiar, que começou às 19h, lotou o espaço e foi iniciada com a música Alegria, Alegria. O clima de tranquilidade e de muita nostalgia tomou conta do local e do público, que, sentado, cantarolou em coro a maioria das músicas do show. Aplaudiram também Caetano falar da felicidade de estar mais uma vez aqui na cidade com os filhos. Entre sucessos e inéditas, o quarteto cantou a música Trem das Cores. Essa, revelou Caetano, foi um pedido dos filhos - que disseram ter recebido muitos pedidos para que a música fosse incluída no roteiro. O cantor também deu sua tradicional 'sambadinha'. A produção do evento não credenciou a equipe de reportagem do CORREIO para cobrir o evento. Abaixo, alguns dos momentos marcantes da apresentação. 

Leãozinho #caetanoveloso

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Caetano sendo Caetano

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How Beautiful Could a Being Be?! >>> Caetano, Moreno, Zeca & Tom VELOSO

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Em entrevista ao CORREIO nessa semana, Zeca contou que tudo "começou de maneira despretensiosa, com um clima de projeto pequeno e que podia não durar muito". "Depois da estreia foi que o show cresceu, também para nós", disse. Tanto assim que já virou um disco e um DVD, que devem ser lançados ainda neste primeiro semestre. Assista alguns vídeos da apresentação que emocionou o público. O "show familiar" veio a Salvador depois de estrear no Rio de Janeiro, em outubro, e de passar por São Paulo e Porto Alegre.

Zeca definiu o show como um momento de grande felicidade, principalmente porque essa é a primeira vez que os quatro passam tanto tempo juntos."Moreno é casado, tem dois filhos e mora na Bahia. Tom mora com minha mãe, e eu com meu pai, já há um tempo, todos no Rio. Nunca tínhamos passado tempo todos juntos dessa maneira, tem sido muito bom, nossa relação se estreitou e temos dado muita risada", conta Zeca. É um show familiar, nascido da minha vontade de ser feliz. Ter filhos foi a coisa mais importante da minha vida adulta. O que aprendi com o nascimento de Moreno – e se confirmou com as chegadas de Zeca e Tom – não tem nome e não tem preço - Caetano VelosoA estreita relação entre os quatro se mostra também em um repertório fluido, tocado de forma "acústica e singela". Canções como Alegria, Alegria, Leãozinho, Oração ao Tempo, Reconvexo e Força Estranha são cantadas ora pelos quatro, ora em duetos, ora por um ou outro. Para Caetano, as faixas escolhidas eram "impossíveis de serem descartadas". Exemplo também de Ofertório, música composta por ele em homenagem à mãe, Dona Canô, e que acabou batizando o disco e o DVD da turnê. 

"Quando tivemos o show gravado é que decidimos pensar em um nome e meu pai escolheu esse. Ofertório é o nome do hino composto por ele para o momento do ofertório, feito para missa de 90 anos de minha avó Canô. Está no show, quase no exato meio. É um nome bem escolhido. Nosso show é uma oferta que é dada, e ele tem também algo de espiritual", comenta Zeca, ao lembrar que todo o repertório foi sendo formado desde os primeiros encontros em que começaram a falar sobre o projeto, e passou por mudanças durante os dois meses de ensaio.

Considerado um dos grandes shows do ano passado, o espetáculo é um intenso elogio ao tempo, à música, à família e ao amor. "Creio que não somos uma família de músicos, como há tantas, dado o caráter comprovadamente genético do talento musical, mas seguramente somos músicos de família", diferencia Caetano.

Confira entrevista do CORREIO com Zeca Veloso na íntegra:

Todo Homem foi a primeira música a ser divulgada do projeto Ofertório, álbum e DVD que vocês lançarão este ano. E, pelo que li, é também uma de suas primeiras composições - a segunda, para ser mais exata. Como foi para você ter essa música como uma espécie de "cartão de visitas" do trabalho ao lado do seu pai e irmãos? Sinto como se fosse a primeira. Foi a primeira a parecer pronta. É ainda a mais forte entre todas as minhas e fico feliz de mostrá-la. 

Queria entender como se estruturou o repertório do show - e saber também se no álbum e no DVD estarão presentes todas as músicas, na mesma ordem das apresentações. Pelo que vi, o setlist percorre canções assinadas por todos vocês, há também algumas que são cantadas mais por uns, tocadas pelos outros - você mesmo canta a música Tá Escrito, do Revelação, no bis... O repertório foi sendo formado desde os primeiros encontros em que começamos a falar sobre o projeto, cedo no ano passado, e passou por mudanças durante os dois meses de ensaio. Já tínhamos ideias de canções que queríamos como “Um canto de afoxé para o bloco do Ilê” primeira parceria de meu pai com Moreno, que é nosso próximo single, “Clarão” de Tom, “Todo Homem”, canções que meu pai fez para nossas mães, e Ofertório, que fez para os noventa anos de minha avó Canô. Na última semana antes de estrear, fizemos mudanças radicais e tivemos que correr para nos preparar. “Tá Escrito” por exemplo, ensaiamos nos últimos dias e Xande de Pilares ensinou coisas a Tom no camarim antes da estreia. Desde o início meu pai manteve o setlist em seu computador, e o atualizava se concordasse com algum pedido ou ideia. Não que ele quisesse controlar tudo, sabíamos que era o mais capaz de pensar e dirigir um show e precisávamos dessa organização, foi muito corrido e aconteceu assim espontaneamente.

Não sei como é a sua relação com seu pai nem com seus irmãos cotidianamente. Creio que essa intimidade familiar tenha se transformado ao longo dos anos e, especialmente, a partir do momento que vocês decidiram fazer um show juntos. Isso efetivamente ocorreu? De que modo? Com certeza. Moreno é casado, tem dois filhos e mora na Bahia. Tom mora com minha mãe, e eu com meu pai, já há um tempo, todos no Rio. Nunca tínhamos passado tempo todos juntos dessa maneira, tem sido muito bom, nossa relação se estreitou e temos dado muita risada.

O projeto foi batizado de Ofertório depois do início do shows - pergunto isso, porque nos materiais de divulgação iniciais via a turnê sendo divulgada apenas com os nomes de vocês quatro? E porquê batizá-lo desse modo? O show começou de maneira despretensiosa, marcamos em teatros no Rio e em São Paulo com um clima de projeto pequeno e que podia não durar muito. Também produzimos muito rápido, não tivemos tempo para planejar bem. Depois da estreia foi que o show cresceu, também para nós. Quando tivemos o show gravado é que decidimos pensar em um nome para o disco e DVD, e meu pai escolheu esse. “Ofertório” é o nome do hino composto por ele para o momento do ofertório, feito para missa de noventa anos de minha avó Canô. Está no show, quase no exato meio. É um nome bem escolhido. Nosso show é uma oferta que é dada, e ele tem também algo de espiritual.

O cenário minimalista também está em relação com esse conceito, não é? Vi que ele evoca a imagem de cordão umbilical e da barriga de uma mulher que prepara outra pessoa, mas que também pode ser interpretada como a fértil mãe Terra... O cenário é de Hélio Eichbauer. Logo quando vimos a ideia numa maquete, adoramos. O amarelo, o sol vermelho, tinha tudo a ver. A corda na verdade são quatro, como nós somos quatro, enroladas e amarradas. Pessoas tem pensado em cordão umbilical e interpretado de várias maneiras diferentes, mas não sei se Hélio nem nós pensamos em nada disso…