Chega às livrarias livro que Fernanda Young escreveu aos 17 anos

Escritora que morreu no ano passado tinha publicação inédita

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  • Roberto Midlej

Publicado em 8 de janeiro de 2020 às 05:30

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Fernanda Young, que morreu em agosto passado aos 49 anos, era muito conhecida por suas criações para a televisão, especialmente pelo clássico seriado cômico Os Normais, em que Fernanda Torres (Vani) e Luis Fernando Guimarães (Rui) protagonizaram momentos inesquecíveis.

Mas Fernanda era também uma das mais producentes escritoras brasileiras: desde Vergonha dos Pés, que marcou sua estreia em 1996 como romancista, até seu último livro, Pós-F (2018), foram 14 publicações. Agora, a editora Leya lança postumamente o inédito Posso Pedir Perdão, Só Não Posso Deixar de Pecar (R$ 45/158 págs), escrito quando Fernanda tinha apenas 17 anos de idade.

Foi enquanto preparava a mudança de casa, revirando as caixas empoeiradas, que a escritora encontrou os originais daquele seu primeiro romance, a que ela deu dois títulos, que acabaram sendo trocados pelo atual: Emilio, o Invejoso ou Desire, uma Boa Potranca.

No livro, a jovem protagonista descobre que ficou menstruada e seus pais, que vivem numa pequena e conservadora cidade do interior, decidem que a filha, ainda aos doze anos, deve se casar.

Originais  Os originais escritos à máquina foram encontrados pela própria Fernanda enquanto ela revirava umas caixas para se mudar de casa. Eugênia Ribas-Vieira, que trabalhou com Fernanda Young como sua editora pessoal desde 2006, lembra que a autora tinha uma certa rejeição a este seu primeiro romance: “Ela renegava, mas nunca tinha relido. Me dizia que não tinha coragem. Mas acabou encontrando e ficou louca e me disse ‘vamos ler’!”

Mas à medida que lia, Fernanda ia aceitando melhor o livro e percebia que ali estava uma escritora em formação. “Ela ia se impressionando a cada página com a loucura do livro, um certo surrealismo”, observa Eugênia, que ainda tem os originais em mão.

Se inicialmente a ideia de lançar o livro causava um certo medo em Fernanda, mais tarde ela já revelava alegria e uma certa expectativa. “Ela estava muito feliz, afinal a literatura para ela sempre foi a coisa mais importante”, diz Eugênia. A editora revela ainda que Fernanda tinha uma certa frustração e ressentimento porque achava que sua obra literária não tinha o devido reconhecimento.

E esse reconhecimento talvez fosse importante para que ela se sentisse mais segura, já que a própria família nunca se entusiasmou muito com a carreira de Fernanda. Seus pais não eram intelectuais e ela costumava dizer que havia aprendido a escrever ouvindo Chico Buarque e Caetano Veloso.

Família Mas, se os pais dela não lhe estimulavam para seguir a carreira, o marido Alexandre Machado e as filhas eram bem “corujas”, tanto que fizeram questão de participar desta edição de Posso Pedir Perdão, Só Não Posso Deixar de Pecar, que se tornou uma homenagem posta a uma criadora morta muito precocemente.

As filhas Estela e Cecília ficaram encarregadas, respectivamente, de desenhar a capa e de escrever o prefácio do livro. Alexandre acompanhou o passo a passo da publicação. E o resultado foi uma edição muito bem cuidada, em capa dura e com papel de alta qualidade. O projeto gráfico inclui ainda a reprodução de parte dos originais, o que dá um tom afetivo à publicação. E a capa vermelha era um capricho de Fernanda, logo atendido pela editora.

Tudo isso para dar a devida “embalagem” a uma autora que já revelava seu talento e sua identidade aos 17 anos, como diz Eugênia: “Os livros dela têm humor e sarcasmo marcantes e a literatura dela espelha isso que ela é. Como ela disse, era na literatura que ela de fato se mostra e se apresenta. Quem conhece Fernanda vai reconhecê-la nos personagens”.