Chuvas em Salvador atrasam escoamento de soja do Oeste

Problema está impactando na situação dos caminhoneiros

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 30 de abril de 2018 às 13:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Caminhões parados em frente à Cargill, em Barreiras (Mário Bittencourt/CORREIO)

Há duas semanas o caminhoneiro José Aloísio de Almeida Silva, 53 anos, fez de morada provisória um posto de gasolina em Barreiras, no Oeste da Bahia, e quem não deixa ele e outros colegas saírem de lá são as chuvas que têm caído em Salvador. O caminhão de Silva, com cerca de 40 toneladas de soja, ficou parado na área do posto de gasolina em frente à empresa Cargill, empresa localizada às margens da BR-242 e que atua no beneficiamento e exportação da soja do Oeste.

Com as chuvas na capital, as operações de carregamento de soja nos navios no porto de Salvador estão canceladas, por risco de o grão se perder, caso sejam atingidos pela água da chuva. “Por enquanto vamos nos virando por aqui”, disse Silva.

Na capital baiana, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) espera para todo o mês de abril é 309,7 mm. O dia 20 foi o mais chuvoso do mês, quando o instituto registrou 45,9 mm. Uma chuva é considerada forte a partir dos 50 mm. A previsão do tempo é de mais chuvas para o final de semana.

Na área de estacionamento da Cargill e no pátio do posto há cerca de 30 caminhões, todos carregados de soja. O problema do escoamento, segundo produtores, ocorre não só por causa das chuvas em Salvador, mas também da boa safra deste ano.

Tão boa que a previsão é mais uma vez bater o recorde na colheita, chegando a 5,4 milhões de toneladas. Em 2017, a safra recorde chegou a 5,2 toneladas, aumento de 62% em relação a 2016. A razão do crescimento é o aumento das chuvas na região.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras, Moisés Almeida Schmidt, a soja que está armazenada nos caminhões à espera de ser levada para o porto de Salvador não corre risco de perder, podendo ficar nos caminhões por até um mês, desde que a carga esteja dentro dos padrões de humidade.

O prejuízo, mesmo, está sendo no atraso da venda do grão, cotado nesta sexta-feira (27) a R$ 61,50 a saca de 60 quilos. O problema chamou a atenção dos produtores para terem melhores e maiores locais de armazenamento.

No Oeste, boa parte dos grãos são armazenados em silos, equipamentos cilíndricos que chegam a 10 metros de altura e podem ser de metal, madeira ou concreto onde se guarda de 60 até 6 mil toneladas de grãos.

O valor dos silos varia de acordo com o material e a capacidade de armazenamento. O silo metálico, por exemplo, pode chegar a R$ 300 por tonelada. No Oeste da Bahia, muitos produtores usam silos – não há dados sobre a quantidade de silos na região.

E o acúmulo de caminhões carregados de soja chamou a atenção dos produtores para melhorem a logística e o armazenamento de soja. Muitos deles, inclusive, vão aproveitar a Bahia Farm Show, de 29 de maio e 2 de julho, em Luís Eduardo Magalhães, para tentar negociar a compra de silos.

“O problema de logística e armazenamento ocorre porque tivemos uma colheita muito alta, estamos tendo grande dificuldade de escoamento de safra. O produtor está se virando como pode, armazenando na fazenda”, comentou Schmidt, que está com dois caminhões parados, esperando as chuvas darem uma trégua em Salvador.

“Mas é um problema que o produtor gosta de passar, porque os números as safra da soja são excepcionais”, ele destacou, informando depois que “o produtor está buscando lidar com isso e vai fazer investimentos a partir da feira.”

Na Bahia Farm Show, evento organizado pela Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), em parceria com a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), dentre outras entidades públicas e privadas, as negociações poderão ser feitas por meio de linhas de créditos de agências bancárias públicas e privadas.

A feira, segundo Rosi Cerrato, coordenadora geral da Bahia Farm Show, deve superar 2017, quando atingiu a marca histórica de R$ 1,5 bilhão em intenções de negócios.

“Acredito que este ano os produtores estarão de olho nas oportunidades de financiamentos de silos para melhorar o armazenamento da soja. E para esses financiamentos ocorrerem será necessário apoio dos bancos também”, comentou.