Cineasta baiana retorna ao terror em A Sombra do Pai

Gabriela Amaral Almeida abre mão da violência explícita e confirma talento em seu segundo filme

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 2 de maio de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: divulgação

Poucos cineastas brasileiros têm o privilégio de ter um trabalho efetivamente autoral. Um número ainda menor de diretores nacionais consegue levar aos cinemas duas produções num intervalo de dez meses. E, para tornar a façanha ainda maior, estamos falando de dois filmes de terror, gênero raro no país. 

Tem mais surpresa: as duas produções são dirigidas por uma mulher, enquanto, sabemos, o universo do cinema é predominantemente masculino. Mas a baiana Gabriela Amaral Almeida, 38 anos, está aí para quebrar esses padrões. A Sombra do Pai, seu segundo longa, chega hoje aos cinemas, menos de um ano depois de O Animal Cordial, que tinha Murilo Benício como protagonista e que teve ótima receptividade na crítica brasileira.

A Sombra do Pai retrata a relação entre Jorge (Julio Machado) e a filha de nove anos, Dalva (Nina Medeiros). O convívio entre os dois tornou-se difícil desde a morte da mãe da menina e a relação fica ainda mais complicada por causa do comportamento de Jorge, um homem “brutalizado”, como classifica Gabriela, também roteirista do filme. Incapaz de criar a filha sozinho, Jorge recorre à ajuda da irmã Cristina, que vive na casa dele, mas casará em breve e vai se mudar, deixando para Jorge o dever de cuidar da filha sozinho. A baiana Gabriela Amaral Almeida estudou roteiro em Cuba Neste novo longa, a diretora deixa de lado a violência explícita do primeiro filme e abraça o terror psicológico, com um toque fantasmagórico. E novamente Gabriela se sai bem: sem apelar para recursos banais do terror atual, como o excesso de sustos ou uma trilha sonora onipresente, a baiana cria um clima de suspense que pouco se viu na produção nacional.

Drama 

E não é só isso: há também elementos dramáticos e sociais muito bem encaixados, como a relação familiar e, especialmente, o papel que o homem ocupa  - ou, às vezes, nega-se a ocupar - na família. Há ainda as relações trabalhistas, como lembra Gabriela: “Nos meus dois filmes, há questões de classe e me preocupo em mostrar como são as relações operárias [Jorge trabalha na construção civil] e como as jornadas excessivas de trabalho acabam com o ser humano”.

Como observa a diretora/roteirista, ela lança uma lupa sobre a classe trabalhadora, também retratada em seu primeiro filme, que mostrava a relação do patrão com os seus empregados. Uma das empregadas do restaruante onde a ação ocorria era interpretada por Luciana Paes, que está no novo filme.

Em A Sombra do Pai, a atuação da pequena Nina, de apenas oito anos, impressiona. Gabriela revela ter um interesse especial em trabalhar com crianças, tanto que elas estiveram em diversos de seus curtas. Por se tratar de um filme de terror, a diretora preocupou-se em escrever uma versão especial do roteiro para a menina, omitindo dela as cenas mais fortes. 

Muito interessada em filmes de terror, Gabriela cita Psicose (1960), Carrie - A Estranha (1976) e O Exorcista (1973) como alguns de seus favoritos. Mesmo se assumindo amante do cinema americano, a diretora - que estudou roteiro em Cuba - reconhece ser difícil disputar espaço nas bilheterias com Hollywood: “Amo o cinema americano, mas o lugar que ele ocupa nas nossas salas é uma aberração”, afirma, quando lembrada que Vingadores: Ultimato estreou em 80% das salas brasileiras. 

Cotação: ótimo

Horários de exibição

Cine Glauber Rocha: 18h40