Cinéfilos de Salvador ficam órfãos com fim do Espaço Glauber Rocha

Sócios buscam novos patrocinadores para reabrir as salas

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  • Roberto Midlej

Publicado em 17 de setembro de 2021 às 04:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil

Salvador amanheceu ontem com uma notícia que deixou órfã a comunidade cinéfila: o Espaço Itaú Glauber Rocha anunciou que está fechando as portas, depois de quase 13 anos de funcionamento. Um dos que lamentou o encerramento foi o assessor de imprensa Júlio Gomes, cinéfilo e frequentador do espaço: "É uma tristeza gigantesca.  É meu cinema preferido, sem dúvida. Pela programação ousada, com muito espaço para o cinema brasileiro contemporâneo. É uma lástima porque é o único cinema de rua de Salvador com esse perfil de resistência cultural, desbravador, por apostar no Centro Histórico da cidade".

O cineasta Lula Oliveira também fazia dali um ponto de encontro e ficou triste com a notícia: "Frequentei o antigo Glauber Rocha quando criança e ver aquele espaço fechado parece uma tragédia em círculo. Uma perda pra Salvador, pros amantes do cinema, porque não era um lugar só para assistir a filmes, mas que abria uma possibilidade de os filmes baianos serem exibidos". Panorama Coisa de Cinema, em 2019: Cláudio Marques pretende manter o evento (divulgação) Em nota, a administração nacional do Espaço Itaú informou que também fechou as salas de Porto Alegre e Curitiba. De acordo com o comunicado, essas unidades vinham operando com taxa de ocupação inferior a 20% desde 2019. As três unidades de São Paulo, além de uma no Rio de Janeiro e outra em Brasília, permanecem funcionando. A empresa, que lançou um streaming gratuito de filmes nacionais, o Itaú Cultural Play, informou que vai intensificar as ações nesta ferramenta.

Cláudio Marques, que era sócio da unidade de Salvador junto com Adhemar Oliveira, disse que a decisão de encerrar a parceria foi unilateral e partiu do grupo Unibanco-Itaú. O empresário e cineasta afirmou que ainda acredita no futuro das salas de exibição e quer continuar investindo no Centro Histórico. "O Cine Glauber vai renascer depois dessa pandemia, desse momento terrível, ainda com mais força. Espero realmente poder contar com o apoio de toda a nossa sociedade", disse Cláudio.

Cláudio assegura que a pandemia foi decisiva para o fechamento do cinema e, segundo ele, a taxa de ocupação média de todos os cinemas hoje no Brasil é de oito a dez por cento. "Estava começando a melhorar, mas ainda muito abaixo do que era antes da pandemia", disse o empresário. Para ele, a redução brusca da frequência não tem relação com o crescimento do streaming. "As pessoas ainda têm receio de sair por causa da pandemia. Em breve, tenho certeza que será como antes. Estão todos cansados de ficar em casa, de não encontrar as pessoas. Não nascemos para ficar em casa presos a uma tela", diz Cláudio, numa mistura de tristeza e indignação.

Novos parceiros

Fernando Guerreiro, diretor de teatro e presidente da Fundação Gregório de Mattos, observa que o Espaço Glauber Rocha fica numa localização emblemática e tem o nome do mais importante cineasta baiano. "É uma perda enorme para a cultura local se realmente fechar. Mas está apenas começando a luta para se manter aberto. Torço para que surjam patrocinadores e que o Governo do Estado ajude no que puder, já que o prédio é do Governo". A Secretaria de Cultura do Estado informou que o contrato de concessão está em processo de renovação, conforme solicitado pelos sócios.

No mesmo prédio do cinema, funciona a livraria LDM, que continuará aberta de segunda a sábado, das 13h às 18h. O Restaurante La Pasta Gialla será inaugurado no mesmo imóvel no dia 23. Marcelo Reis Lauriano – sócio do La Pasta Gialla em Salvador - garante que o restaurante funcionará, já que os gestores do complexo estão em busca de um novo parceiro para substituir o Itaú.

O ex-prefeito ACM Neto considerou "lamentável" a decisão do Itaú de fechar o Espaço: "Para além dos interesses econômicos, os bancos precisam ter um compromisso social e cultural. Infelizmente, o Itaú está virando as costas para a cultura de Salvador". No segundo trimestre deste ano, o banco teve lucro líquido de R$ 7,5 bilhões.

O Saladearte, outro circuito alternativo de cinema, também passa por crise e ainda não tem previsão de reabrir suas salas. Em julho, o grupo realizou uma campanha para arrecadar fundos para quitar dívidas. Conseguiu o valor necessário, mas ainda não tem previsão de reabrir. Por enquanto, apenas o café do MAM está funcionando.