Cinema de memória e resistência: Wagner Moura lança ‘Marighella’ em Salvador

Noite no TCA contou com presença de atores do filme e familiares do guerrilheiro baiano morto pela ditadura militar

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 25 de outubro de 2021 às 23:33

- Atualizado há um ano

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Movimentos sociais estiveram presentes por Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Por que motivo Carlos Marighella dá tanto medo? O filme que conta a história dos últimos anos do guerrilheiro que liderou um dos maiores movimentos de resistência contra a ditadura militar no Brasil, na década de 1960, demorou dois anos até estrear no país.

O mundo já conhecia, mas a terra onde Marighella nasceu, ainda não. Isso só mudou na noite desta segunda-feira (25), com a exibição no Teatro Castro Alves, contando com a presença de parte do elenco, familiares do político, artistas e personalidades baianas como o próprio Wagner Moura, diretor do longa.

O tom da pré-estreia foi muito político. Não tinha como ser diferente. Wagner afirmou que nunca imaginaria tanta dificuldade para se iniciar na carreira de diretor. Ele afirmou que fica feliz em incomodar o presidente Jair Bolsonaro e considerou uma vitória conseguir fazer o lançamento do filme em Salvador, cidade onde Marighella nasceu.

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Durante discurso antes da exibição do filme, ele agradeceu a presença de militantes da Coalizão Negra e da Brigada Marighella, grupo de torcedores do Vitória - para quem ele torce e para quem Marighella também torcia.“Esse é um filme de amor, feito com muito amor. Não tinha como isso acontecer em outro lugar. Salvador é a nossa cidade e a cidade de Carlos Marighella”, disse Wagner, que chorou no palco do TCA.Ator que interpretou o delegado Lúcio, opositor ferrenho, torturador e perseguidor de Marighella, Bruno Gagliasso se disse emocionado por poder estrear o filme no Brasil e que a arte é um caminho de resistência. Ele lamentou as dificuldades impostas para que o longa fosse exibido no país e relatou a dificuldade de interpretar um personagem tão perverso. “Foi denso. Passei meses afastado de minha família para conseguir mergulhar no papel. Interpretar um racista foi muito duro. Minha filha é negra, disse coisas horríveis a Seu Jorge [que vive Marighella] durante as gravações. Foi algo que doeu, mas é uma história que precisa ser contada. Precisamos fazer as pessoas estudarem e não deixar essa história ser apagada”, disse Gagliasso.Cerca de 350 pessoas estiveram presentes. Gagliasso estava acompanhado da esposa, a apresentadora Giovana Ewbank. Outros nomes como os rappers Hiran e Vandal também compareceram, assim como a socióloga Vilma Reis, os cantores Tatau e Margareth Menezes e os estilistas Pedro Batalha e Hisan, fundadores da marca Dendezeiro.

Familiares de Marighella como seu filho, Carlinhos Marighella, e sua neta, a vereadora e atriz Maria Marighella (que também participa do filme) também estiveram presentes.

Carlinhos só conheceu o pai aos 7 anos e demorou para ser registrado por conta da perseguição que ele sofria. A relação dos dois é um dos fios condutores do filme, que é inspirado no livro 'Marighella – O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo', de Mário Magalhães. 

Carlinhos disse que estava muito emocionado e que considera a estreia do filme uma grande oportunidade para contar a história de seu pai para as novas gerações do país.“Acho que é um dos momentos mais significativos no sentido de fazer esta revisão, pois todos sabem que sobre ele paira este manto de maldição e silêncio. Agora é Marighella visto pela lente de uma pessoa jovem, que tem credibilidade e se apaixonou por ele”, afirmou Carlinhos.  Para a entrada no TCA, foi exigido o comprovante de vacinação em duas doses. Muitas pessoas chegaram ao teatro sem essa informação e acabaram barradas.

Confira alguns dos momentos da pré-estreia, antes da exibição.