Cliente 'paga quanto quiser' por picolé dentro de shopping em Salvador

Clientes são estimulados a realizar o próprio pagamento

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  • Nilson Marinho

Publicado em 25 de setembro de 2018 às 16:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Manoel Argolo, idealizador do Lobo Bom - Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

As pessoas se aproximam. É de se espantar que ali, ao lado do freezer recheado de picolé, no estacionamento do G1 do Shopping Itaigara, não exista um caixa sequer para efetuar o pagamento do produto. Assim, a Deus-dará, a conta fica responsável por ser paga pela consciência de cada um. A ideia é justamente essa: pegue o produto e deposite você mesmo em uma caixinha o valor do item que custa R$2. Tudo na base da confiança. 

O freezer foi colocado no centro comercial no sábado (22), conforme relatou nesta terça-feira (25) a coluna Negócios do jornal  CORREIO, e deve continuar lá nos próximos dias testando a honestidade de cada visitante. A aposentada Margarida Ramiro, 74 anos, após pagar pelo estacionamento do shopping, se aproximou do refrigerador, assim que foi avisada como funcionava o serviço de compra nada convencional. A princípio, se recusou acreditar que de fato as pessoas deixariam o dinheiro após consumir o picolé, mas voltou atrás decidindo acreditar na boa vontade do próximo. “Eu achei joia, mas o problema é que o brasileiro não é de muita confiança. Acho que posso dar certo, mas também acho que não. Tem tudo para dar certo se as pessoas se conscientizarem e serem honestas. Mas ainda existem pessoas boa”, comentou. A caixa do balcão de atendimento do estacionamento Thais Ribeiro, 40, que trabalha a pouco metros do freezer, defende os clientes. Ela conta que, desde que foi colocado ali, tem visto, todo o tempo, as pessoas depositando o dinheiro antes de sair se refrescando pelo centro de compras. “As pessoas chegam, olham e, quando se dão conta do se trata, acabam deixando o dinheiro”, disse.   Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO O idealizador da ação, que leva o nome de Lobo Bom fazendo alusão à uma fábula, conta que a ideia é fazer que as pessoas deixem de lado o seu lado “mal”, cultivando apenas aquela face que faz bem a todos. “O objetivo não é vender picolé. Pelo contrário, é despertar nas pessoas tudo que existe de bom nelas, semeando coisas boas por aí”, conta Manoel Argollo. 

Todos os dias, o dinheiro é coletado e parte dele será arrecadado para o Hospital Martagão Gesteira e o projeto Bom Samaritano. De acordo com ele, não há como saber se de fato as pessoas estão tendo a iniciativa de pagar pelo produto.“Não existe ninguém por aqui, nem câmera, tampouco atendentes, a ideia é justamente despertar a consciência de cada um. Não temos como saber, por exemplo, se aquela pessoa que contribuiu com uma cédula de R$2 pegou mais um produto, se teve aquele que levou sem contribuir ou a que colocou na caixinha só para ajudar a iniciativa”, explica Manoel.O fato é que muita gente tem sido honesta, como é o caso da lojista Ângela de Sousa Matos. “Ontem eu vi e perguntei a um funcionário do shopping do que se tratava. Achei interessante em prol das instituições. Mas ações como essas ajudam a revelar o carácter das pessoas”, comentou a lojista.   

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier