Clipes ganham fôlego e tomam conta da internet; assista

Artistas como Anitta, Ivete, Pabllo Vittar e FitDance bombam a web e alimentam debate sobre o audiovisual

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  • Laura Fernades

Publicado em 11 de setembro de 2017 às 06:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Já parou para pensar na quantidade de videoclipes que foram lançados nos últimos dias? Só para ajudar na contagem de quem não faz ideia, vale citar a música À Vontade, de Ivete Sangalo com Wesley Safadão; o já hit Sua Cara, estrelado por Anitta e Pabllo Vittar; e o dançante Corpo Sensual, novo clipe de Pabllo lançado há cinco dias. Outro que merece ser lembrado é Poor Bear, de Anitta, divulgado há uma semana para abrir o projeto CheckMate: a cantora vai lançar uma música e um clipe por mês.

Com uma média de 13 vídeos lançados por semana em cinco canais no YouTube, que ultrapassam 4 milhões de visualizações por dia e 120 milhões por mês, a empresa baiana de dança FitDance produziu e está prestes a lançar o clipe da nova música do Psirico, Krau. Além disso, depois do sucesso mundial com o clipe da cantora americana Katy Perry, produzido, gravado, editado e protagonizado pela FitDance com a estrela Gretchen, a empresa está com projetos em andamento no México, em Miami e na Argentina.

“Todo mundo que ouve uma música e vai dançar tem que expressar o corpo e isso é trabalhar a parte visual também. Então, a FitDance tinha que estar envolvida com o audiovisual de maneira forte. Foi a forma que a gente utilizou para disseminar nossa coreografia”, justifica o coreógrafo, criador e presidente da FitDance, Fabio Duarte, 37 anos, também sócio-diretor da produtora de conteúdo audiovisual California Media House, um dos braços da FitDance.

“O videoclipe nunca perdeu a força, o que foi mudando foram os formatos”, destaca o administrador Bruno Duarte, 35, irmão de Fabio, cofundador da FitDance e um dos quatro sócios da California Media House. “Na televisão a gente teve uma força grande e a internet virou a bola da vez. Antes a superprodução ficava na mão dos grandes empresários e grandes gravadoras. Hoje, fazer uma coisa para a internet e ter o retorno grande estimula milhares de pessoas a fazerem também”, acredita Bruno.

Como se não bastasse a produção diária de clipes, a empresa de dança lançou há pouco mais de uma semana o projeto FitDance Live Show, que teve como primeira convidada a cantora Preta Gil. Gravado no YouTube Space, estúdio físico inaugurado no Rio de Janeiro, o programa mensal é uma espécie de Talk Show que reúne artistas convidados, brincadeiras e coreografias. A iniciativa, por sinal, consolida o novo passo da California Media House, braço da FitDance que está montando uma estrutura no Rio.

Guerrilha Ninguém duvida que a linguagem audiovisual ganhou fôlego nos dias atuais, mesmo depois do boom dos videoclipes na década de 1990: época em que a programação da MTV reinava nas televisões dos amantes da música. Entre as justificativas levantadas por produtores e artistas, estão o acesso fácil e a liberdade de escolha do conteúdo na internet.

“O que derrubou esse tipo de mídia [o clipe na TV] foi o avanço da internet e o YouTube. Essa liberdade tem atraído muito as pessoas. E falando do lado do artista, da promoção, mais do que o disco, o videoclipe é um cartão de visitas”, observa o produtor audiovisual baiano Glauco Neves, 37, vencedor do Prêmio Caymmi de Música em duas categorias: melhor clipe por Bonecas Pretas, da cantora Larissa Luz, e melhor direção de Modo Hard, da banda baiana Circo De Marvin.

“Querendo ou não, a gente vê a linguagem audiovisual pelas redes sociais, porque prende a atenção de todo mundo. É vídeo atrás de vídeo”, diz Glauco, destacando o caráter acelerado do mundo virtual. Diante do volume do conteúdo, por vezes descartável, a ideia do single também ganha fôlego, acredita ele. “Hoje, o artista lança um clipe foda e já está vendido. Ele vai fazer todos os festivais do Brasil só com um clipe”, justifica.

Apesar da avalanche de videoclipes, “do audiovisual em alta e do YouTube bombando”, Glauco acredita que os artistas ainda não têm noção da realidade e não sabem que o clipe é importante. “Os artistas investem uma grana alta no disco, mas não se preparam para investir no videoclipe. Querem fazer, mas não têm muita grana”, pondera. “Mas eu acabo topando, porque gosto”, diz, rindo, enquanto explica que trabalha com a “tática de guerrilha”.

Ou seja, a ideia é tentar viabilizar a produção por meio da boa vontade de parceiros. Um exemplo é o clipe Modo Hard, da banda Circo de Marvin, cuja produção de Adriano Ribeiro levou o Prêmio Caymmi de Música de melhor produção. No estilo do jogo de ação GTA, o clipe tem direito a armas e passeio de lancha, tudo conquistado sem muito custo e com “paitrocínio”. “Uma ideia simples e boa também pode agilizar um clipe”, acrescenta Glauco.

Banalização? Um dos precursores em fazer clipe com câmera fotográfica, em Salvador, o diretor, fotógrafo e publicitário Rafael Kent, 37, acredita que a velocidade da internet atrapalha o ócio criativo e a qualidade do que se produz hoje. “Acho que corre o risco da banalização”, opina Kent, carioca criado em Salvador que assina oito clipes minimalistas do cantor Tiago Iorc e trabalhos de artistas como Emicida, Planet Hemp, Nação Zumbi, Seu Jorge, Jota Quest e Ludmilla.

Kent ressalta, ainda, que a própria indústria fonográfica está mudando diante da avalanche audiovisual na internet e ressignificando a ideia do single. "A gente está andando de uma maneira cada vez mais rápida que se o artista para seis meses para lançar um disco, ele faliu. Se não lança um single, uma música, aos olhos da mídia, ele está pra trás", observa.

“Nunca trabalho pelo dinheiro, preciso estar feliz com as coisas relevantes. Mas o que é relevante? Perdeu-se a noção do que é relevante. Esse é o problema dos artistas lançarem um clipe por mês. Porque em vez de lançar um só com uma verba completa, lançam várias com verba de merda”, critica Kent. “No mundo ideal, gostaria de tempo. Tempo para amadurecer uma ideia, uma narrativa. Tempo para as pessoas sentarem, sentirem, pesquisarem, saírem um pouco de alguns quadrados”, provoca.

"O videoclipe nunca perdeu a força, o que foi mudando foram os formatos. Na televisão a gente teve uma força grande e a internet virou a bola da vez. Antes a superprodução ficava na mão dos grandes empresários e grandes gravadoras. Hoje, fazer uma coisa para a internet e ter o retorno grande estimula milhares de pessoas a fazerem também", destaca o administrador Bruno Duarte, 35, cofundador da FitDance e sócio da California Media HouseNão conseguiu acompanhar a avalanche de clipes? Confira alguns lançamentos:

Anitta: Poor Bear

Pabllo Vittar: Corpo Sensual (participação de Mateus Carrilho, da Banda Uó):

Ivete Sangalo: À Vontade (participação de Wesley Safadão)

Anitta, Pabllo Vittar e Major Lazer: Sua Cara 

FitDance: Popa da Bunda (música do Psirico e Àttooxxá)