Coitada de Zilu e da atual de Zezé Di Camargo

Talvez eu mude de opinião, se um dia conhecer algum com dois pintos funcionais. Maravilha de deus, já pensou?

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 12 de fevereiro de 2022 às 11:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Já fiz muita besteira na vida, mas dessa vergonha eu me salvei: jamais, em tempo algum, de nenhuma maneira, em nenhuma situação, briguei com mulher por causa de homem. Nunca, e olhe que já são 33 anos (e contando!) numa sequência emocionante de casamentos/namoros/casos de todo tipo e qualidade. Se elas (as que vieram antes e/ou depois de mim) brigaram comigo, não tomei conhecimento. Pelo contrário, já fiz boas amizades e pelo menos uma aproximação estratégica ("já ouvi falar muito bem de você, bora tomar uma?"), de uma das "atuais" de certo ex com quem eu mantinha intenso e inevitável contato. Pelo motivo de: ter a simpatia dela deixaria a minha vida mais fácil. 

(Recentemente, expliquei a uma ex-esposa, como havia se dado o meu encontro com certo rapaz. Ela ficava me rondando, chamei inbox e entendi o caso. Ele não contou os detalhes? Pois eu sim. Tô devendo nada.)

Evidentemente, a paz não era o que esses homens esperavam. Normalmente, eles "temem" o barraco, ao mesmo tempo em que desejam a realização daquela fantasia de "duas mulé brigando por mim". Uma triangulação que até o vizinho do começo da rua onde Freud morava poderia lhe explicar o significado. Validação de "macheza",  "agregação de valor" a partir do quanto é "disputado". Como diz Andréa Pradho, "faz de besta, inchado!". Qualidade de ousadia que eu nunca dei e acho que você devia rever, caso ainda sirva de enfeite pra esse fetiche de tipinhos típicos. Tipo seus ex, meus ex e Mirosmar José de Camargo. Desse sintoma, são raríssimos os que escapam. 

Dito isso, tem três dias que penso: coitada de Zilu e coitada da atual desse cantor Zezé. Com quem não tenho nenhuma intimidade, mas recebi um vídeo no qual a ex dizia que não aguentava mais as provocações da atual e que ela tinha um casamento "lindo" até que a atual chegou pra infernizar. Dizendo ela, Graciele - a atual - "alfineta" o tempo todo. Não fui procurar saber os detalhes, por falta de paciência e necessidade. Essa rinha é comuníssima e se repete em todos os lugares sociais, entre anônimos/as e famosos/as. Talvez já tenha acontecido com você. Que, às vezes, a gente investe na bunda, no abdômen, nos cabelos, na harmonização facial, mas esquece de cuidar da autoestima. Ou, pelo menos, do que ela é de fato. 

Eu sei, também, que a gente é treinada pra pensar que autoestima é se achar "gostosa", além de outras superficialidades. Pode ser, faz parte, mas o buraco é mais embaixo. Pessoas que gostam de si mesmas não se prestam a certos papéis, por exemplo. Preste atenção numa coisa: indo com sua com sua própria cara - minimamente que seja - fica fácil perceber que sua dignidade vai toda pelo ralo assim que você assume que a mulher que veio antes, durante ou depois da sua relação com qualquer cara é sua adversária. Esse é um lugar de máxima mediocridade. Se há atrito e triangulação negativa é porque você permite, em 100% das vezes. A boa notícia é que sempre dá pra sair desse lugar. 

Quer um exemplo? Dou. Há alguns anos, eu passava meses na casa de um namorado, convidadíssima por ele, em uma cidade diferente daquela em que eu morava. Era uma relação sem promessa de exclusividade. Eu tinha minhas histórias paralelas e ele as dele, porém num acordo tácito. Ele tinha um rolo fixo com uma moça que fazia de tudo para que eu me incomodasse. Aparecia, escrevia mensagens públicas nas redes sociais, tudo numas de me "tirar do jogo", digamos. Um dia, ele estava no trabalho e eu na casa dele. A moça tocou a campainha, sabendo que eu estava lá. Atendi e, gentilíssima, fiz com que ela e a amiga que a acompanhava entrassem que "daqui a pouco ele chega do trabalho". 

Servi cafezinho, bati papo. Eu não tinha problemas com elas, confere? Então, tudo ótimo, apesar de a garota ter tentado alguma provocação. Quando ele chegou, viu a cena, ficou pálido, provavelmente pela fantasia de "agora vai rolar um barraco". Eu só disse "meu amor, que bom que você chegou, suas amigas vieram lhe visitar" e emendei com "vou tomar um banho e volto já". Lá do banheiro, chamei o cabra e expliquei "essa demanda é sua, administre, não quero mais ser incomodada". Quando acabei meu banho, só ele me esperava. Fofo e cheio de amor pra dar. Não tocamos no assunto. Acabei indo morar com esse rapaz. Nunca mais tive notícias da moça em todo o tempo em que estivemos juntos. Moral da história? Eles sabem resolver. Basta você se colocar. 

Veja bem: eu cuido do meu fluxo. Promovo a harmonia entre meus homens do presente, do passado e do futuro. Já fiz até almoço (um cozido delicioso, deu trabalho) de confraternização entre dois que precisavam se encontrar com frequência. Comida boa, bebida gelada, eu simpática, mesa linda, a graça e a paz.  Todo namorado meu sabe que o pai do meu filho tem trânsito livre em nossa casa. Se o namorado se incomodar, o namorado é dispensado. É um direito do meu filho - que mora comigo - receber o pai. Não são eles que resolvem, nem o ex nem o atual. Sou eu. É o meu lugar. Esses são só dois dos exemplos de ações que fazem parte da política de "controle do ambiente". Isso é minha responsabilidade. Mesma coisa espero dos homens com quem me relaciono: me preservem, me respeitem, não me metam em confusão.

Se me meterem, eu saio. Da relação, inclusive. Aprenda aqui com a tia: é ele - e não você - que deve administrar a intersecção entre o próprio presente e o próprio passado. Por pior que seja "a outra" (e tem mulher ruim que eu sei), ela só aparece pra você quando ele quer, ele deixa, ele se diverte, ele acha massa. Não é ela a sua adversária. Não é com ela a sua relação. Não foi dela que você pariu, citando agora os casos graves que envolvem filhos/as. Sua conversa (ou seu processo judicial) é com ele, também nas situações que envolvem bens e propriedades. Se ela, "a outra", protagoniza, é que há um homem jogando ela na sua frente pra ter menos trabalho e se sentir "valorizado". 

Agora, prometa pra mim que você não cai nessa nunca mais. Talvez você precise de um tempo pra digerir. Entendo. Além daquele conceito torto de autoestima, também fomos treinadas pra "homem é assim mesmo" e "não suporto aquela vaca". Sendo que "aquela vaca" somos todas nós, em algum momento, você tá ligada? Eu sei que a gente cresce é aos pouquinhos. Vá no seu ritmo, mas vá. Lembrando sempre do fato de que nenhum homem - pelo menos nenhum que eu conheça - é bom o suficiente para ser liberado de suas responsabilidades e ter a atenção loucamente disputada. 

Talvez eu mude de opinião, se um dia conhecer algum com dois pintos funcionais. Maravilha de deus, já pensou? Aí, seria diferente dos outros. Porém, até aqui, todos os que eu frequentei foram totalmente substituíveis e substituídos com sucesso, quando necessário. Sendo assim, nenhum deles vale a pena se me der trabalho. Pensem nisso, Zilu, Glaciele, Maria, Valentina, Joana, Rosalina... todas vocês. De nada. Tchau.  

*Flavia Azevedo é articulista do Correio, editora e mãe de Leo